"Não é preciso ter colhões pra ser macho de verdade!"
Micaela é a filha mais velha de uma grande família, e assume a responsabilidade pelos negócios da Fazenda... mas sua destreza, habilidade, e falta de atributos femininos, lhe rendem a fama de mar...
Durante o almoço, Micaela não estava se sentindo bem.
Sentia uma sensação esquisita, como se tivesse cometido uma grande gafe, e sentia o corpo estremecer, e o rosto arder, cada vez que lembrava do sorriso daquele desconhecido.
Tentava se convencer de que ele não era lá essas coisas, mas novamente, quando se lembrava daquele sorriso, seu corpo estremecia, e ela perdia o apetite.
- O que tu tens menina? - Perguntou dona Clarice, ao perceber que ela estava apenas remexendo a comida, perdida em pensamentos - tá pensando na morte da Bezerra, por acaso? Nunca te vi assim! Aconteceu alguma coisa?
Com medo de que todos à mesa, lessem seus pensamentos, Micaela decidiu sair logo dali antes que entrasse numa situação embaraçosa.
- Não é nada, mamãe! Só estou cansada. Acho que estou pegando um resfriado por causa da friagem do rio. Estou sem fome. Vou subir e deitar um pouco. Não se preocupe que logo passa.
Micaela deixou a mesa rapidamente e subiu para seu quarto. Era melhor remoer seus pensamentos em particular, antes que a mãe pedisse mais explicações.
Clarice encarou o marido, e comentou, preocupada.
- Acho que essa menina está à beira de uma estafa. Também, homem, tu exige demais da menina. Ela acabou de chegar de viagem, e tu só deu três dias de folga pra ela! Tu deveria tomar vergonha na cara e contratar um peão competente, e tirar ela da lida. Micaela precisa descansar, se divertir como a irmã! Passou da hora de procurar um bom marido pra ela.
José Mariano afastou o prato, e com cara de enfado, retrucou.
- Deixa de ser besta, mulher! Micaela não nasceu pro casamento, será que ainda não percebeu? Ela encontrou na lida uma distração, então deixa a menina! Não fica colocando esperança inútil na cabeça dela. Se concentra na Melissa, que pra essa, eu tenho grandes planos. Ela já fez dezoito anos, e está na idade certa pra encontrar um bom marido.
Dizendo isso, Mariano apanhou o chapéu e saiu.
***
Clarice se preocupava com a filha... com 22 anos, Micaela estava no auge da juventude, mas por ali, onde as meninas costumavam se casar aos 16 pra não correr o risco de se "perder", ela já era considerada uma solteirona encalhada.
Após retirar a mesa do almoço e cuidar dos afazeres, Clarice subiu para ver como a filha estava. Encontrou Micaela deitada, olhando o velho album de fotos.
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Micaela era considerada o patinho feio, sendo a única morena em meio à loirice das beldades daquela família, mas dona Clarice sabia muito bem da beleza da filha...
Sabia exatamente a quem ela puxou... a única pessoa que fez Clarice se sentir menos bonita na infância. Sabia que, se a filha quisesse, poderia ser a flor mais bela daquela cidade.
