O Boneco do Quarto 666

Capítulo I - O Começo (Parte 1)

          Finalmente o dia do meu voo chegou. Vou começar a minha vida em outro lugar, em outro país, e finalmente vou para a universidade. Chegou a minha vez!

          - "Minha querida já tens tudo pronto? Não te esqueceste de nada bebezinha?" Aiai, as mães o que havemos de fazer, sempre tão preocupadas com as suas crias. Deixem-me apresentar-vos Alice Jones, uma mulher guerreira que cuidou de mim sozinha desde que o paizinho morreu num acidente de trabalho. Sinto tanto a falta dele, senti a ausência dele em todos os momentos importantes da minha vida e agora mais ainda. Ele sempre desejou ver a sua princesinha formar-se em Harvard. De repente, uma vontade imensa de chorar tomou conta de mim.

          - "Mãe... Sinto tanto a falta do pai... Queria que ele estivesse aqui a despedir-se de mim, que ele visse o quanto lutei para conseguir isto. "- As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto enquanto abraçava a minha mãe.

          - "Minha pequena, o teu pai está a ver todo o teu esforço, e tenho a certeza de que está muito orgulhoso da sua princesinha." A minha mãe abraçou-me enquanto dizia essas palavras, aquelas que todos ouvimos quando alguém já não está entre nós. Elas trazem um certo alívio, uma paz momentânea, porém não me sentia assim. Não sei porquê, mas sinto que esta ida para os Estados Unidos vai trazer muita dor, sofrimento e angústia.

          "Última chamada para o voo KL999 com destino a Boston Estados Unidos da América, Aeroporto Internacional de Boston."

          Após ouvir esta última chamada, mordi o lábio, com receio e disse para a minha mãe que já não queria ir, Estava cheia de medo, e não apenas por ser a primeira vez que vou viajar por mais de duas horas num avião. Eu realmente tinha um mau pressentimento. No entanto, a minha mãe abraçou-me uma última vez e disse-me para ser forte e ligar-lhe assim que chegasse. Apenas acenei com a cabeça e comecei a afastar-me, sem olhar para trás, pois sabia que, se o fizesse, desistiria de ir. Será que este sentimento é porque algo vai acontecer com o avião? Ai, meu Deus, por favor, que tudo corra bem. 

          Correu tudo bem. Nada de estranho aconteceu, para além das crianças a chorar e a gritar a maior parte do tempo. Nem se quer deu para descansar um pouco!

          Depois de chegar ao aeroporto e de buscar as malas, dirigi-me até à saída. Estava tudo cheio de jovens, a grande maioria provavelmente estudantes, prontos para começarem uma nova etapa. Será que eles estavam tão receosos quanto eu? Sentiriam a mesma angústia? 

          Enfim, ao chegar lá fora chamei um táxi. O taxista ajudou-me a pôr as malas na bagageira, e seguimos viagem. Enquanto saíamos do aeroporto, disse-lhe que o meu destino era Harvard. O Sr. Smith, descobri o nome dele após nos apresentarmos, olhou-me com os olhos arregalados e disse algo que piorou ainda mais o meu estado de medo.

 - "Por favor, menina Jones, tenha cuidado. Ouvi dizer que aquele lugar é assombrado." 

Apenas olhei pela janela, engoli em seco, tomei coragem e perguntei o porquê de me avisar e o que teria acontecido lá. Porém o Sr. Smith não disse mais nenhuma palavra durante o resto da viagem. Que estranho... Não estou a gostar nada disto. Ao fim de uns minutos chegamos ao destino.

          Wow que beleza! A universidade é realmente magnífica, possui uma beleza única, mas que me causa arrepios. Talvez por ter uma história tão longa, de séculos. O Sr. Smith tirou as minhas malas da bagageira enquanto eu retirava o dinheiro da carteira. Agradeci-lhe pela viagem e pelos avisos, e entreguei-lhe o dinheiro, mas ele segurou o meu pulso com bastante força, assustando-me. Ele voltou a realçar que eu deveria de ter muito cuidado. O que me assustou ainda mais foi o que ele disse a seguir 

- "Por favor, menina Jones, fuja daqui o mais rápido possível. Não fique aqui por muito tempo". O Sr. Smith não me deixou falar nada, pegou no dinheiro e foi-se embora, deixando-me ali completamente, estática, não me conseguia mexer. Como é que ele quer que eu fuja rápido se o meu curso ainda vai durar uns bons anos? Eu acho que estava a segurar o ar dos meus pulmões, ar este que apenas soltei quando um rapaz se aproximou de mim para me dar as boas-vindas.