Capítulo XVIII - A Noite sem Fim

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          Matthew permaneceu perdido em seus pensamentos enquanto olhava a Rachel dormir, porém ele prontamente despertou do seu transe, pois ouviu o som de passos suaves no corredor. Ele ficou de imediato com todos os sentidos em alerta. O quarto estava envolto em um profundo silencio, com apenas a luz fraca da lua a atravessar as cortinas. Rachel respirava tranquilamente, ainda imersa num sono um tanto inquieto.

          Ele aproximou-se tranquilamente, movendo-se de forma silenciosa em direção à porta. A sensação de estar sendo observado não o abandonava, e os passos no corredor pareciam mais próximos do que antes. Com a respiração controlada, Matthew abriu a porta apenas o suficiente para espreitar. Desta vez ele não lançou o feitiço de inviolabilidade. Estava decidido usar a escuridão e as sombras presentes no corredor como escapatória para a sua identidade.

          O corredor imenso dos dormitórios de Harvard aparentavam estar vazios, desta vez, mas o ar parecia ainda mais pesado do que umas horas atrás. Matthew saiu do quarto 666, fechou a porta atrás de si. Caminhou lentamente, e de forma atenta para captar qualquer movimento ou som que pudesse emergir Quando já tinha avançado um bom bocado parou, sentiu uma presença estranha, extremamente negativa.

          De repente, um frio cortante percorreu-lhe a espinha, e Matthew virou-se bruscamente. O corredor atrás dele, antes vazio, agora estava preenchido com uma figura alta, envolta em sombras. Ela estava imóvel, mas havia algo de profundamente perturbador na sua presença.

          Matthew ficou em silêncio, com a mente a funcionar rapidamente. Ele não podia se revelar, não agora. Lentamente, recuou para uma esquina mais escura, utilizando a escuridão para se camuflar. A figura permaneceu imóvel, parecendo estar a farejar o ar, como se estivesse a procurar algo – ou alguém.

          Um arrepio percorreu-lhe a espinha enquanto observava a figura. Não havia festa, nem movimentação incomum na universidade está noite. Tudo tinha sido normal até aquele momento, mas a presença desta pessoa – ou o que quer que fosse – mudava tudo. Ele sabia que não podia confrontá-la diretamente sem pôr em risco a sua própria identidade e, possivelmente, a segurança de Rachel.

          Matthew observou em silêncio enquanto a figura começava a mover-se lentamente, os passos leves, quase inaudíveis. Quem quer que fosse, estava a verificar os quartos, talvez à procura de algo específico. O comportamento metódico da figura indicava que não era alguém perdido ou assustado; pelo contrário, parecia bem determinado e calculista.

          Enquanto a figura se afastava, Matthew seguiu-a de longe, mantendo-se nas sombras. Cada fibra do seu ser gritava para proteger Rachel, mas ele precisava entender o que estava a acontecer antes de tomar qualquer ação. Para poder agir da forma certa e obviamente no momento certo. Quando a figura parou na frente de um dos quartos no final do corredor, Matthew prendeu a respiração.

          A figura inclinou-se, encostou o ouvido à porta. Matthew percebeu que havia um brilho fraco em torno dela, algo quase imperceptível, mas que ele, com os seus sentidos aguçados, conseguia captar. Era uma energia diferente, algo que não parecia pertencer a um humano comum.

          Por um instante, Matthew considerou a possibilidade de que aquilo pudesse ser uma armadilha. Talvez fosse uma entidade enviada para encontrá-lo, ou talvez algo ainda mais sinistro. Mas o tempo não estava do seu lado. Ele precisava agir.

          Antes que a figura pudesse fazer qualquer coisa, Matthew conjurou um pequeno feitiço de distração - "Auditus Decipio!", fazendo com que um som ecoasse no outro extremo do corredor. A figura ergueu a cabeça imediatamente, dirigindo o olhar para o som. Sem hesitar, ela moveu-se na direção do barulho, deixando o quarto em paz. (auditus" (audição) e "decipio" (enganar))

           Matthew aproveitou o momento para voltar ao quarto onde Rachel ainda dormia. Ele sabia que as coisas estavam a começar a se desenrolar, e que o que quer que estivesse a acontecer naquele lugar estava longe de ser normal.

           Ao fechar a porta atrás de si, Matthew decidiu deitar-se ao lado de Rachel, mantendo-se alerta. O medo de ser descoberto ou de expor Rachel a algum perigo iminente o mantinha em tensão, mas ele sabia que, por enquanto, o melhor a fazer era esperar. Não podia dar a cara, não podia agir de forma imprudente.

          O quarto voltou ao silêncio, mas o perigo estava longe de ser dissipado. Matthew sentia que a noite não terminaria sem que algo mais acontecesse, mas, por enquanto, ele apenas precisava manter Rachel segura.

          Com a respiração controlada, ele tentou relaxar, mas a sensação de que algo estava a observá-los permaneceu. E, na escuridão, ele sabia que a verdadeira batalha ainda estava por vir.

O Boneco do Quarto 666Onde histórias criam vida. Descubra agora