Capítulo VI - Ouija

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           Acordei com o coração acelerado, o quarto ainda mergulhado em sombras. Olhei para o relógio: Três e trinta e três da manhã? Ótimo, ainda é cedo. Costumo acordar entre as seis e as sete, então vou tentar dormir mais um pouco. Virei-me para o lado, mas algo estava terrivelmente errado. O boneco... não estava lá. A sensação de algo estar muito, muito errado tomou conta de mim. Será que ele estava realmente vivo? Não havia como alguém ter entrado e levado o boneco sem eu perceber. Ele só podia estar possuído por algum força maligna. Foi nesse instante que eu ouvi o som de água a correr.

          O meu corpo gelou. O som da água corrente era claro e bem evidente, e vinha da casa de banho. A adrenalina tomou conta, e eu dei um salto da cama, quase caindo. O que está a acontecer? Caminhei em direção à porta da casa de banho, cada passo ecoava no silêncio. Alguém estava lá dentro, a tomar banho. O meu coração disparava, parecia que ia sair do peito. Olhei em volta do quarto... o boneco realmente não estava em lugar nenhum. 

         — "Não pode ser...não pode ser..." murmurei aterrorizada. Tentei abrir a porta devagar, mas estava trancada. e então, uma voz começou a cantar. uma melodia suave, mas arrepiante, ecoava pela casa de banho. A voz era linda, mas a situação era terrível. Será a voz do boneco? não consegui abrir a porta, então voltei para a cama, um pouco  desesperada. Como é que eu vou simplesmente voltar a dormir com alguém a tomar banho no meu quarto? 

          Mas, mesmo assim, deitei-me, porém mantinha os olhos fixos na porta. A luz fraca da lua entrava pela janela e iluminava levemente o quarto. O que quer que estivesse ali, estava além da minha compreensão. Tentei olhar para o canto, onde o boneco sempre ficava, será que andas mesmo por aí? E então a porta da casa de banho destrancou-se sozinha. lentamente, ela abriu-se... é agora vou ver que está ali... mas... ninguém saiu. E eu só entrei em pânico com apenas um pensamento, não me digam que também há fantasmas aqui?

          O pânico tomou conta de mim. A porta do quarto também abriu e fechou, como se alguém tivesse saído, mas não havia ninguém visível. Tentei ignorar, devo estar a sonhar pior a ter um pesadelo. Afundei-me na cama, o coração a bater a mil por hora. Se continuar a pensar nisto eu vou enlouquecer.

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Perspetiva do Matthew

          Acordei antes do sol nascer. Olhei para o lado e lá estava ela, a dormir serenamente. Porque ela decidiu cuidar de mim... Pensei enquanto tentava observar cada detalhe do rosto dela. Ela foi corajosa, não deve ter medo de morrer. Mas parece que não consigo, algo impede-me não sei o que, nem o porque...

          Fiz-lhe um pequeno carinho no cabelo, como ela teria feito na noite anterior. Levantei-me e fui tomar um banho. Não podia permitir que ela me visse assim, em carne e osso, pelo menos não ainda. 

          Enquanto a água bem quente caía sobre mim, ouvi a maçaneta da porta. Ela está acordada? Senti a ansiedade dela do outro lado da porta. Decidi brincar um pouco. Comecei a cantar, deixando a melodia fluir. Era impossível não senti o pânico dela do outro lado, e isso quase me fez rir. Depois de uns pouco minutos desliguei o chuveiro. Vesti-me e fiquei invisível logo em seguida. Abri e fechei a porta da casa de banho, olhei para ela, mas ela não me via, fui andando até à porta do quarto e sai. 

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Perspetiva da Rachel

          O resto do dia passou sem grandes incidentes, mas a sensação estranha não me abandonava. O que tinha acontecido pela manhã ainda estava pregado na minha mente. Depois das aulas, passei algumas horas na biblioteca, tentava concentrar-me nos trabalhos, mas tudo parecia turvo. No caminho de volta para o quarto, cruzei-me com a diretora, que parecia preocupada. 

          — "Boa tarde, diretora, está tudo bem? - perguntei e tentava disfarçar o meu nervosismo. 

          — "Boa tarde menina Jones. Estou preocupada... vários alunos têm recebido cartas ameaçadoras. A senhorita recebeu alguma? . ela perguntou, com uma expressão grave.

          — "Não, não recebi nada. Precisa de alguma ajuda? - Ofereci, apenas para prolongar o tempo longe do quarto.

          — "Não, obrigada, mas sendo assim vou continuar e ver se mais alunos receberam alguma coisa. Um resto de boa tarde, senhoria Jones. 

          — "Igualmente diretora." 

          Fiquei intrigada. Quem estaria a enviar essas supostas cartas? Teria algo a ver com os recentes acontecimentos? O boneco... o boneco seria ele responsável por isto?

          Cheguei ao meu quarto, e ao entrar as sombras já tomavam conta, um escuridão pairava pelo local. As luzes fracas mal conseguiam dissipar a escuridão. O boneco estava lá, parado no canto, a olhar diretamente para a cama. Os seus olhos frios, inexpressivos, pareciam seguir cada movimento que eu fazia. 

          Abri o armário, à procura de algo para clarear a minha mente, e foi quando encontrei...um tabuleiro ouija. Claro... como se eu já não estivesse metida em problemas suficientes. Mas vamos lá...  Sentei-me no chão e posicionei o tabuleiro à minha frente. Sabia que uma das regras era nunca jogar sozinha, mas eu estou sozinha... pouco amigos... quem iria querer jogar comigo? Por isso não vou ligar as regras hoje... Olhei de relance para o boneco. 

           — "Desafio-te a jogares comigo boneco. - Sussurrei com a voz vacilante.

          As luzes piscaram durante um bom tempo e num instante apagaram-se completamente. O silêncio do quarto tornou-se sufocante, como se a própria escuridão estivesse prestes a engolir-me. 

O Boneco do Quarto 666Onde histórias criam vida. Descubra agora