Capítulo XIX - A Sombra da Morte

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          A noite ainda envolvia a universidade quando Matthew teve os seus sentidos despertados novamente, desta vez pelo som distante de vozes abafadas e de passos apressados no corredor. A atmosfera antes tão pesada e carregada, agora parecia pesar ainda mais, como se algo terrível e triste tivesse acabado de acontecer. Ele olhou para Rachel, que agora se remexia inquieta, parece que ela está a ouvir os barulhos, mas ainda bem que não acordou.

          Matthew levantou-se, sentiu uma tensão elétrica no ar, que lhe percorreu o corpo. A noite estava longe de terminar, e a sensação de perigo iminente era quase insuportável. Ao abrir a porta do quarto, ele ouviu algo que fez seu sangue gelar: o som abafado de sirenes do lado de fora do prédio. Não eram sirenes de festa ou de algum alarme, mas eram sim da polícia.

          Sem hesitar, ele deslizou para fora do quarto, mantendo-se nas sombras, com todo o cuidado e caminhou pelo corredor até avistar duas figuras conhecidas, que estavam a conversar  com a diretora na entrada do prédio. Era Anthony Lawrence e Daisy Ludgero, os dois polícias que já tinham cá estado antes na universidade. Eles pareciam um pouco tensos, e até poderei afirmar que estão com um semblante perdido, parecia que não sabiam o que fazer. E isto aumentou em Matthew a sensação de urgência em descobrir o que se passava.

          Matthew aproximou-se discretamente, mantendo-se escondido atrás de uma coluna, mas perto o suficiente para ouvir a conversa.

          - "Diretora Clark precisamos falar consigo imediatamente!!" A voz de Anthony era grave, carregada de um peso que fazia qualquer um entender que o assunto era sério, aquele tom deixaria todos com medo.

          A diretora assentiu, com o rosto sério, espantado, mas ao mesmo tempo muito preocupado.  - "O que aconteceu, detetive Lawrence? Por que estão aqui a esta hora da madrugada? Os meus alunos estão a dormir!"

          Daisy Ludgero, que geralmente mantinha uma postura mais calma, parecia estar a lutar para conter a agitação. Os seus olhos escuros pareciam estar repletos de angústia. Ela respirou fundo antes de falar. 

         - "Um aluno foi encontrado morto nos jardins, perto do prédio das aulas de artes." A declaração saiu como um golpe no silêncio da noite, ressoando pelos corredores como um sino fúnebre.

          A diretora Clark empalideceu, os olhos arregalando-se de choque. 

- "Como... como isso foi possível? Quem...?" — Ela não conseguiu completar a frase, o horror estampado em seu rosto.

          Anthony trocou um olhar rápido com Daisy antes de continuar. 

          - "Temos fortes razões para acreditar que não foi um acidente. As evidências no local indicam que foi um assassinato. O corpo foi encontrado com múltiplas feridas, e a cena..." Ele hesitou, buscando as palavras certas. - "A cena é extremamente perturbadora, diretora."

          Daisy, com a voz mais suave mas igualmente carregada de seriedade, acrescentou: 

          - "Havia marcas estranhas ao redor do corpo, como se... algo ou alguém o tivesse forçado a agir de forma irracional antes de ser morto. Estamos a investigar a possibilidade de um envolvimento externo... algo que não é comum."

          A diretora Clark levou a mão à boca, visivelmente abalada. - "Meu Deus... Vocês sabem quem foi a vítima? ela perguntou com uma voz baixa quase inaudível.

          - "Sim, foi um dos alunos de pós-graduação. Andrew Cartwright. Ele foi encontrado por um segurança que fazia a ronda noturna." Anthony respondeu, sua expressão endurecida. 

          - "O mais estranho, diretora, é que um dos seus colegas foi encontrado no local, coberto de sangue e em estado de choque. Quando o interrogamos brevemente, ele mal conseguia falar, mas mencionou algo sobre uma sombra... algo que o obrigou a... a fazer aquilo."

          A diretora balançou a cabeça, incrédula. - "Isso é... inacreditável. Nunca tivemos nada parecido aqui. E esse colega... ele foi preso?"

          - "Ainda não,  disse Daisy. - "Está sob custódia, mas no estado em que está, não há como colocá-lo em uma cela. Precisamos descobrir o que exatamente aconteceu, e se essa tal sombra... se foi algum tipo de delírio ou se há algo mais. Algo... que não conseguimos explicar."

          Matthew sentiu um frio intenso percorrer-lhe a espinha. Ele sabia que a sombra de que o aluno falava era a mesma que ele vira no corredor horas antes. Algo terrível estava em movimento, e o mistério apenas se aprofundava.

          A diretora Clark tentou recuperar a postura, mas ainda havia algo que a perturbava profundamente. 

- "E... há alguma ligação com os outros assassinatos?" — perguntou ela, a voz trémula.

           Anthony Lawrence balançou a cabeça lentamente e disse. - "Isso é o que torna este caso ainda mais confuso. Não encontramos a marca característica do assassino dos outros casos. Não havia sinal da letra "M" feita com o sangue da vítima, que sempre era deixada na cena. Este crime parece diferente, quase como se... fosse obra de outra pessoa, ou outra coisa."

          Daisy concordou. - "Exatamente. Até agora, o "M" era uma assinatura que não falhava. O fato de não estar presente desta vez nos faz questionar se estamos a lidar com um novo assassino... ou se essa vítima foi escolhida por algum outro motivo."

          A diretora assentiu, claramente perturbada e disse - "Isto está a tornar-se cada vez mais complicado. Preciso garantir que os alunos fiquem seguros, e que isto não se espalhe, pelo menos por enquanto."

          - "Concordamos!" disseram Anthony e Daisy simultaneamente.  - "Mas não podemos ignorar o fato de que há algo ou alguém perigoso à solta. Iremos investigar todos os ângulos, mas, por enquanto, precisamos que todos permaneçam em alerta e em seus quartos. É necessário impedir as saídas noturnas, com a ajuda dos pais."

          Matthew, ainda escondido, sabia que o tempo estava a esgotar-se. Ele precisava voltar para o quarto e proteger Rachel, mas sabia que, em breve, teria que enfrentar essa sombra novamente. E da próxima vez, não seria apenas um espectador.

          Matthew sentia que o verdadeiro perigo ainda estava por vir. Ele sabia que o que quer que estivesse rondando naquela escuridão, havia feito a sua primeira jogada, e ele teria que estar preparado para a próxima.

O Boneco do Quarto 666Onde histórias criam vida. Descubra agora