Capítulo I - O Começo (Parte 2)

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          Ele apresentou-se como Williams, Noah Williams para ser mais exata. Ele frequenta o penúltimo ano de um curso que, para ser honesta nem me interessou muito. Disse que estava ali para me mostrar a escola e levou-me primeiro à sala da diretora, onde eu iria receber o meu horário e também as chaves do meu dormitório. Achei estranho já estarem a dar os horários, visto que as aulas só começariam dentro de duas semanas, nada contra. Além do mais, deve ser para dar tempo aos alunos de se organizarem, ou para aqueles que necessitam de um part-time planearem as horas vagas.

          Fomos em direção ao elevador, e dentro do mesmo havia um silencio horrível, que estava a deixar-me desconfortável, até que comecei a ouvir um relógio, "tique taque, tique taque." 

          - "Uhm Noah, também ouves um relógio?" decidi perguntar, porém a resposta dele deixou-me assustada. - "Hahaha, que piada, Rachel. Não há nenhum relógio aqui." Respondeu de forma risonha.

          Arregalei os olhos. Eu tinha certeza de que ouvi um relógio. Eu não estou a ficar louca, estou? 

          Quando chegamos perto da sala da diretora, Noah disse-me para bater à porta, assim fiz. 

          - Vou esperar por ti aqui," disse ele. Apenas assenti e entrei na sala da diretora. Desejei-lhe uma boa tarde e apresentei-me. Ela era bela, devia ter uns 35 anos, uma pele maravilhosa. Parecia calma e simpática eu sorri para ela, enquanto a diretora mexia nas gavetas, provavelmente à procura do meu processo de inscrição, eu olhava em volta do escritório. Credo, para meu espanto, a sala estava cheia de quadros de bonecos. Que bizarro e assustador.

         - "Senhorita Jones, bem-vinda a Harvard. Aqui está a chave do seu quarto. Digo-lhe já que é uma sortuda." Olhei para ela com um olhar curioso, e ela explicou com um sorriso que eu não iria precisar partilhar o quarto com ninguém. Afirmou que o meu quarto seria o número 666. Não vou mentir, senti um arrepio percorrer todo o meu corpo, mas eu não vou entrar em pânico, vou apenas manter a calma. É só um número certo? Para estar mais segura, perguntei se não havia outro quarto disponível. A diretora apenas respondeu que o meu quarto original era para ter sido o número 13. Outro número de má sorte, bem estranho por sinal, não? Dois quartos curiosos atribuídos exatamente para mim. Mesmo assim acho que teria preferido o 13. Enquanto estava perdida nos meus pensamentos, a diretora acrescentou que o quarto 13 havia sido fechado, por ordem do FBI, e que ninguém podia ficar nele. Meu Deus, o FBI numa faculdade? E ainda mandaram fechar o quarto? Por que motivo fariam isso? Só consigo imaginar que seria uma cena de crime. Será que o Sr. Smith tinha razão? Não seria melhor eu ir embora deste lugar, e já? 

          Antes de sair da sala, a Sra. Clark entregou-me o horário e desejou-me sorte. Apenas sorri como forma de agradecimento e saí. Do lado de fora, Noah esperava por mim. Perguntou-me qual era o meu quarto para poder levar-me até lá, e eu respondi-lhe que era o 666. Ele apenas olhou pra mim seriamente e disse que nunca ninguém aguentou ficar lá por mais de uma noite. Em seguida, disse que adoraria ver-me sair de lá aos gritos de medo. Apenas olhei para ele, tentando não demonstrar a crescente inquietação.

          Comecei a pensar que o acontecimento no quarto 13 devia ser recente, já que eu estava inicialmente destacada para este. Decidi perguntar ao Noah. 

- "Noah posso fazer uma pergunta?" Ele murmurou um aham. 

- "A diretora disse-me que o meu quarto seria o 13, mas algo aconteceu, e o FBI está envolvido. O que aconteceu naquele quarto? Ele suspirou e então respondeu 

- "Não é só o FBI que esta envolvido. Vários departamentos policiais estão. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu, apenas que a tua colega de quarto foi encontrada morta dentro do armário."

Senti como se o chão desaparecesse sob os meus pés... Um... um assassinato aqui? Comecei a ficar tonta e pedi a Noah que me levasse ao quarto. Precisava descansar. Sentia a cabeça a latejar, afinal foram muitas horas de voo, e muitas informações chocantes.

          Finalmente, cheguei ao quarto. Abri a porta e entrei. Era bastante espaçoso, talvez por eu não ter uma colega de quarto, Só de pensar nisso, arrepiei-me de novo. Ainda não conseguia acreditar no que Noah contou. Calma Rachel, respira. Vamos ver o quarto, ligar à mãe e esquecer este assunto. Ah, que bom, tenho uma casa de banho privada só pra mim, que chiqueza. Passei o tempo a limpar e a organizar as coisas no quarto e na casa de banho. Coloquei algumas decorações e, por fim, arrumei a roupa no armário.

          Após terminar tudo fui tomar um banho rápido. Enquanto cantava baixinho, pensei ter ouvido alguma coisa no quarto, como se algo tivesse caído. Ignorei, não deve ser nada. Mas, pouco depois, ouvi algo que parecia uma reclamação, como a voz de um homem, embora eu não conseguisse entender as palavras. Vou apenas ignorar isto e terminar o meu banho. Isto não deve ter sido nada. Quando terminei, vesti-me, saí e fui deitar-me. Desliguei as luzes que ficavam na cabeceira da cama. Criava um ambiente fofo. Apesar de estar com sono, não conseguia dormir. Um novo ambiente, uma nova cama... vai demorar até eu me habituar e conseguir dormir tranquilamente. Olhei em frente e, no canto direito, pareceu-me ver uma pessoa, mas eu não estava sozinha no quarto? Nem sequer há outra cama. Liguei novamente as pequenas luzinhas.

         - "Quem és tu?" perguntei, sem obter resposta. Por que não reparei antes que havia alguém aqui? Será que foi essa pessoa que ouvi enquanto estava no banho? Ai, Rachel, acalma-te, não deve ser nada disso. Mantive o olhar fixo naquela figura, que não se mexia, mas cujo olhar parecia estar direcionado para mim, ou melhor, para o espaço onde eu dormir.

          Não aguentei, a curiosidade falou mais alto, levantei-me fui em direção à figura passei a mão em frente ao seu rosto, mas não piscou, não deu nenhum sinal de vida. Pensei na história que o Noah contou. Ai, não... será um corpo morto? Aiii, Rachel, respira... pode ser apenas um boneco, certo? Isso, isso só um boneco. Agora que me lembrei, realmente havia muitos quadros de bonecos espalhados pelos corredores e na sala da diretora. Mas seria mesmo? Toquei na sua bochecha... é tão suave, parece tão real... e é tão bonito. Okay, Rachel, respira... tens um boneco realista, de tamanho real, no teu quarto. Andas a ouvir barulhos... deve ser cansaço. Vou dormir. 

- "Boa noite, boneco." Certo, sou mesmo maluca a falar com um boneco, mas é mania, em pequena, falava com os meus bonecos porque achava que eles iriam responder. Apenas voltei a deitar-me, apaguei as luzes e fechei os olhos.

          Não sei porquê, mas não conseguia dormir. Sinto algo estranho, mas não é de agora. Sempre tive essa sensação desde criança, como se alguém, ou alguma energia estivesse a observar-me enquanto eu dormia. Senti-me desconfortável, tentei cobrir-me com o lençol, mas nada ajudava. Liguei a luz e levantei-me. Olhei nos olhos do boneco que ainda estava no mesmo lugar, na mesma posição, com as mãos nos bolsos da calça, o olhar fixo na cama. Nunca consegui dormir com os bonecos expostos no meu quarto. Eles tinham que estar em outro cómodo ou fechados em caixas. Pensava que poderiam matar-me enquanto estivesse perdida nos meus sonhos. Decidida, virei o boneco para que ficasse de costas. Céus, realmente parece real, pesado, musculoso... é estranho, mas deixei passar. Estava realmente muito cansada e voltei a deitar-me. Depois de algum tempo, consegui finalmente dormir.

          Acordei de manhã com o som do despertador. Agora perguntam: mas as aulas não começam só daqui a duas semanas? Sim, mas quero ir às compras, comprar material novo. Mais algumas decorações para deixar o quarto mais o meu estilo. O Noah também vai mostrar-me o restante da faculdade. Como sou preguiçosa, sei que, se não colocasse um despertador, certamente iria adormecer e só acordaria depois da hora de almoço. Levantei-me, não queria, mas tem de ser. Preciso de material. Fui até à casa de banho, cuidei da minha higiene e vesti-me.

          Não sabia se o bar ou o refeitório da escola já estavam a funcionar para tomar o pequeno-almoço, então fui conferir. O refeitório estava fechado, mas com permissão podíamos entrar e cozinhar algo para nós mesmos. Gostei disso. O bar estava aberto, então fui. Pedi uma simples sandes mista e um café. Já havia bastantes alunos por lá, talvez querem conhecer melhor a zona e aproveitar as últimas semanas de ferias sem os pais a controlar. 

     Por fim, comprei o que precisava e voltei para o meu quarto, organizei tudo, e só foi aproveitar o restantes destas duas semanas, ver um pouco de Netflix, sair e talvez arranjar um pequeno part-time. Em um piscar de olhos o primeiro dia de aulas chegou!

O Boneco do Quarto 666Onde histórias criam vida. Descubra agora