Capítulo XVII - Sussurros na Escuridão

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          Matthew respirou fundo, ele sentia a adrenalina pulsar nas veias enquanto se mantinha invisível. O corredor aparentava estar mergulhado em sombras, em escuridão e sendo iluminado apenas pela luz fraca das lâmpadas espalhadas por aquele corredor imenso. Ele movia-se silenciosamente, os seus sentidos aguçados, estava atento a tentar captar qualquer som ou movimento que pudesse revelar o que estava a acontecer.

          A tensão no ar era palpável. O grito que ouviram ainda ecoava na sua mente, mas ele sabia que precisava manter a calma, tanto por ele mas principalmente pela Rachel. Conforme avançava pelo corredor, os sons diminuíam, e a casa parecia mergulhar num silêncio sepulcral, quebrado apenas pelo ocasional estalido das paredes antigas.

          Após chegar ao finalzinho do corredor, Matthew avistou algo que o fez parar. Uma sombra movia-se disfarçadamente ao longo da parede, como se estivesse a espreitar. O seu primeiro instinto foi avançar, mas algo o fez hesitar. Algo não batia certo. Então em vez disso, ele optou por observar atentamente, estava a entender o que estava a acontecer antes de se revelar para o que quer que aquilo fosse.

          Aquela figura encostou-se à porta de um dos quartos, parecia estar a escutar atentamente, ou a observar. Matthew prendeu a respiração, os olhos fixos na silhueta estranha. Quem quer que fosse, tinha uma aura estranha, negativa, bem escura, algo que ele não conseguia identificar de imediato, parecia ser demoníaco mas ao mesmo tempo algo pior, parecia ser a energia do Apocalipse, algo muito pesado!

          Em questão de segundos, a figura moveu-se rapidamente, como se tivesse sido chamada por algo no final do corredor, ela desapareceu tão silenciosamente quanto havia aparecido. Matthew soltou o ar que não percebeu que estava a prender. A figura parecia familiar, mas ele não conseguiu identificar de onde, quem era, o que terá sido aquilo?

          Sem perder mais tempo, ele seguiu em frente, tentando manter-se o mais silencioso possível. Ao chegar ao local onde a figura havia estado, Matthew percebeu que a porta estava entreaberta. Dentro daquele cómodo, a escuridão era total, mas ele sentia que havia algo ou alguém lá dentro, a espreitá-lo. - Mas como eu estou invisível - pensou Matt

          Antes que ele pudesse decidir o que fazer, ouviu um leve estalo atrás de si. Virou-se rapidamente, mas não viu nada. Apenas o vazio e a leve escuridão. 

          O seu coração acelerou quando percebeu que algo estava errado. - "Como é que eu consigo ter medo - pensou Matt novamente. Ele não sabia o que se estava a passar mas de uma coisa ele tinha a certeza, precisava de voltar para Rachel, e rápido. Cheio de receio que algo pudesse acontecer com ela. Ele começou a caminhar de volta, o mais rápido que podia, quase que estaria a correr. À medida que se aproximava do quarto, sentiu a tensão aumentar. Quando finalmente abriu a porta, encontrou Rachel sentada na beira da cama, os olhos arregalados e as mãos apertadas no colo. Ao olha-lá sentiu-se um pouco mais aliviado.

- "Matt, o que foi?" perguntou ela, a voz trémula, mas cheia de preocupação.

          Matthew hesitou por um segundo, pensando em como iria-lhe responder. Como poderia contar? Ele não queria alarmá-la mais do que já estava, mas também não podia mentir.

- "Ray, não era nada. Era só alguém a verificar os quartos, talvez algum dos seguranças ou alguém da manutenção. Mas não há nada para te preocupares," forçou um sorriso tranquilizador.

          Ela olhou para ele, tentando acreditar nas suas palavras, mas ele podia ver a dúvida nos seus olhos. Ela está um pouco desconfiada. Mesmo assim, Rachel assentiu, tentando convencer-se de que tudo estava bem.

- "Tens a certeza, estás mesmo seguro disso?" ela perguntou, a voz ainda frágil.

- "Sim, Ray. Não precisas preocupar-te. Vamos descansar, o dia foi longo," disse enquanto pegava nas mãos dela. "Eu estou aqui, nada te vai acontecer, eu não permitirei, hoje ficarei aqui como boneco para te sentires mais tranquila, sim?"

          Rachel suspirou, relaxando um pouco e disse. - "Sim por favor ficarei mais tranquila ao saber que estarás aqui." Mas Matthew podia sentir que a tensão ainda não havia desaparecido totalmente. Ele sabia que teria que ser mais cuidadoso dali em diante. Algo estava a mudar, e ele precisava estar preparado para o que viesse, sem ainda saber ao certo o que era.

          Enquanto se transformava na sua forma de boneco no canto do quarto onde podia ter total visão. A Rachel já estava deitada, e o silêncio aterrorizante voltou a dominar o quarto. Matthew manteve-se alerta, os olhos fixos em Rachel, com os pensamentos a correrem a mil. Ele sabia que esta noite estava longe de terminar e que os segredos que ambos carregavam estavam mais próximos de vir à tona do que nunca.

          Mas por enquanto, ele precisava manter as aparências e proteger Rachel de qualquer perigo, mesmo que isso significasse esconder a verdade um pouco mais.

          A escuridão da noite parecia pesada, carregada de presságios e mistérios ainda por desvendar. Matthew manteve os sentidos apurados, decidido a não ser apanhado desprevenido. Algo estava a espreitar na escuridão, e ele estava pronto para enfrentar o que quer que fosse.

O Boneco do Quarto 666Onde histórias criam vida. Descubra agora