Capítulo 1

463 22 2
                                    

Giovanna sentou-se na cama do SPA e arregalou os olhos.

— Quer que eu faça o quê?

O pedido insano de Anahi, sua irmã gêmea, era a prova de que ela havia perdido o juízo de vez.

— Giovanna, sei que não tenho o direito de pedir nada, mas estou desesperada! Esgotada! Não suporto a ideia de voltar ao escritório e encarar toda aquela gente! Ainda não! Não depois de ter chutado a máquina de café do refeitório e xingado o fabricante de nomes horríveis, só porque apertei o botão de café e a máquina preparou cappuccino. Foi horrível! As pessoas tiveram de me ar­rancar de perto da máquina antes que eu a destruísse com socos e chutes!

— Devia ter me ligado antes.

— Não posso voltar, entende? Uma semana neste SPA não serviu para reduzir meu stress. Não vou conseguir mais dias de folga no trabalho, e não posso passar o resto da vida em um SPA. Por favor, deixe-me ir para sua casa! Uma semana naquele tédio, e garanto que vou estar bem.

— Não. Sei que não vou conseguir enganar toda aquela gente. O tempo passou Anahi. Não podemos mais fazer isso. Não é mais uma troca sem importância.

Giovanna não mencionava aquela outra troca, a que resultará no fim de seu noivado com Elliot, o idiota, e as afastara por anos.

Mas era óbvio que sua irmã estava à beira de um colapso. A vira chorar apenas três vezes antes, e podia perceber que ela sufocava um soluço.

No instante em que recebera o telefonema do Spa Serenidade e ouvira Anahi implorando para que fosse passar o final de semana com ela, havia deduzido que o evento inesperado só podia ter duas explicações: Anahi tentava uma reaproximação, ou estava com problemas. A resposta era uma mistura das duas possibilidades.

— Giovanna, você sabe que pode se passar por mim. Mesmo que seja no trabalho! Por favor!

— Não! Não quero ocupar seu lugar na Pitman Toys. Vou ter de mentir sozinha. Você não vai precisar fazer nada. Jamais per­mitiria que enganasse minha filha, e Monty Python, meu cachorro, perceberia o truque ao primeiro olhar.

— Podemos pensar em alguma outra forma de compensação. Não gostaria de se livrar de alguma responsabilidade por um tem­po? Além do mais, somos atrizes!

— Não somos. Uma peça na escola aos oito anos de idade não nos dá direito a esse título. Oh, Anahi! Por que não me procurou antes? O que está havendo, afinal? Sou sua única irmã gêmea! Pensei que já tivéssemos superado aqueles... Problemas do passa­do. — Giovanna se virou para deixar a atendente colocar a última faixa com óleo de ervas em torno de seus seios. — Estou me sentindo uma múmia!

— O que sou então? Sushi? — Anahi fora enrolada em algas do pescoço até os tornozelos, uma técnica que, a atendente havia jurado, era infalível para rejuvenescer e hidratar a pele.

— Espero que a lama no meu rosto surta algum resultado, por­que o sacrifício é imenso!

— Não reclame. Também estou com o rosto coberto de lama. Pense no resultado.

— Vou pensar.

— Giovanna, por favor! Preciso da sua ajuda. Estou afastada há uma semana. Se eu não voltar, ou se alguém não voltar para assu­mir o meu lugar, serei demitida!

— Vou pensar, está bem? Agora pare de gritar e tente relaxar. É para isso que estamos aqui. — Sim, relaxar... Sem pensar nos problemas, na rotina da casa, nas tarefas... Oh, céus! A roupa! Havia deixado a máquina cheia de roupas molhadas! — Droga! Esqueci a roupa na máquina! Quando eu voltar, vou encontrar só um monte de bolor.

Em seu LugarOnde histórias criam vida. Descubra agora