Em seu Lugar

Capítulo 16

Gloria Kissinger era política o bastante para saber que seu mo­mento se aproximava. Quando sua amiga Virgínia, do Recursos Humanos, comentou que Jackson havia pedido a pasta de Anahi Portilla, ela soube que era hora de agir.

Virgínia era mais uma das abandonadas por Jackson, e estava mais do que disposta a puni-lo por sua inconstância. Na verdade, Gloria mantinha ligações e alianças com os ex-relacionamentos de Jackson Hawks dentro e fora da empresa.

Mais uma prova de que trabalho e prazer não deviam andar de mãos dadas. Bem, o ditado utilizava termos mais explícitos, mas uma dama deve moderar sua linguagem. E ela era uma dama.

Gloria tinha certeza de que seu momento se aproximava, porque havia aprendido algo importante sobre a personalidade de Jackson. Ele detestava mentiras e desonestidade. Certa vez, ela o vira de­mitir um funcionário no meio de uma reunião por conta de uma mentira que, supostamente, o livraria da punição por um erro. Seu lema era que uma pessoa deve sempre arcar com as consequências de seus atos.

Pois bem, era hora de Jackson Hawks descobrir que não era tão esperto quanto imaginava. Talvez ele deixasse de ser tão arrogante depois de saber que estava sendo enganado pela irmã gêmea de Anahi, Giovanna.

MBA na UCLA, formada em Contabilidade pela Universidade de Washington... Anahi possuía credenciais impressionantes. Podia entender por que seu pai a contratara para o cargo de auditora da Pitman Toys.

Mas... havia algo de estranho ali, Jackson pensou enquanto bebia mais um gole de café.

Todo o material que lera sugeria que Anahi era uma especialista com os números. Na verdade, podia dividir as mulheres que co­nhecia em duas abrangentes categorias: as criativas, cujo lado do­minante do cérebro era o direito, e as precisas, matemáticas, cujo lado dominante era o esquerdo.

Então, como alguém com o perfil de Anahi podia ter ideias tão criativas e desenhar tão bem?

Pensara nela durante todo o final de semana, e até a discutira com o irmão, Marcus. Haviam jantado juntos no sábado e jogado futebol com os garotos até caírem de exaustão. Convidara Anahi para acompanhá-lo, mas ela declinara. Era boa nisso.

E era especial. Sabia ouvi-lo, demonstrava interesse por suas histórias, mas ainda não abrira seu coração. Era como se preser­vasse uma parte dela.

E que mulher agiria diferente? Anahi devia conhecer sua repu­tação. Precisaria de tempo para conquistá-la. Cabia a ele admitir os próprios erros e provar que era sincero. Era sincero? O que havia em Anahi Portilla que o perturbava tanto?

Jackson guardou a pasta com os dados da srta. Portilla em uma gaveta e tentou trabalhar. Difícil era banir da mente a imagem daquele rosto encantador.

Giovanna trancou-se no escritório e pediu para Oliver não passar nenhuma ligação. Passara o final de semana todo tentando falar com Anahi, sem nenhum sucesso, e o nervosismo ameaçava en­louquecê-la. Sentada atrás da escrivaninha, ela ligou para sua casa em Washington. Depois de vários toques, a voz de Anahi soou do outro lado..

— Anahi! Pelo amor de Deus, onde esteve?

— Por quê? Algum problema? Já mandei os papéis. Ainda não receberam?

— Não são os papéis. E que eu... Bem, precisava conversar com você e... Fiquei preocupada.

— Relaxe. Estou em boas mãos.

— Em boas... Anahi, o que está acontecendo aí?

— Nada. Carly está me ajudando com a pintura de algumas coisas, e eu... Me entendi com o faz-tudo.

— Você se entendeu com o faz-tudo? Está dizendo que... Foi para a cama com ele?

— É mais ou menos isso. — ela riu.

— E onde estava minha impressionável filha de quinze anos quando isso aconteceu?

— Carly passou o final de semana com Ashley e Brianna. Os pais de Ashley têm um barco, e a família toda está velejando em torno do estreito e se divertindo muito. Ela estará de volta hoje à tarde.

— Carly está num barco? — Perigo! Barcos, rapazes, cerveja, verão, sexo... Coisas desse tipo.

— Ela está bem, Giovanna. Relaxe. Carly é responsável. Eu saberia se ela estivesse metida em alguma confusão. Não fui exa­tamente um anjo na idade dela, lembra?

— Eu sei, mas... Bem, meu dever de mãe é esse. Fico preo­cupada.

— Essa semana você tem de se preocupar com a Pitman Toys. Como vai indo o trabalho? E não me conte mais nada, porque hoje não quero saber.

— O trabalho vai bem. E eu... Tenho evitado Jackson.

— Por quê?

— Bem, não posso mentir para ele. É cruel. Quanto menos tempo passarmos juntos, melhor.

— Escute, não sei por que não disse antes. Acho que por egoís­mo. Mas, assim que eu voltar, talvez possamos tirá-la dessa en­crenca com Jackson, e então vocês dois terão uma chance de... Recomeçar do zero.

Giovanna sabia que não era tão fácil. Qualquer chance que pu­desse ter com Jackson estava absolutamente arruinada. Jamais po­deria contar a ele sobre o que fizera, ele nunca entenderia. Pior! Todo o episódio era insano. Em cinco dias estaria voltando para casa, e seria melhor assim.

— Preciso desligar Any. Peça para Carly me telefonar.

— Está bem, querida. E não se preocupe com Jackson. Ele é mesmo um conquistador barato. Sei que a teria abandonado em poucos dias.

— Obrigada.

— Você sabe o que eu quero dizer. O homem é um canalha!

— Sim, eu sei, ele é um canalha. Está bem. Anahi preciso trabalhar.

Giovanna despediu-se da irmã e desligou. Só havia um aspecto positivo na conversa que acabara de ter, e era saber que sua irmã estava bem. Não precisava mais se inquietar com a saúde mental de Anahi, pelo menos por enquanto. E seu envolvimento com Alfonso, o faz-tudo, podia ser muito favorável, afinal.

Quanto a ela... Era uma idiota! Uma simples mãe e dona de casa de Washington, tentando brincar de garota moderna na cidade grande. De onde havia tirado a ideia de que poderia se dar bem com um homem como Jackson?

Tivera sorte com Bill. Apesar de tudo ter começado como uma espécie de prêmio de consolação, depois de ter sido abandonada por Elliot, o relacionamento havia sido gratificante, estável e feliz. Não queria pensar na perda que a morte do marido representara. Não só a perda da pessoa amada e do parceiro de vida, mas a perda de ideias e propósitos. Ficara completamente à deriva. O pacote organizado e claro que Bill representara havia sido destruído.

O que faria quando voltasse para casa? Retornaria àquela exis­tência enevoada de antes? Ou Jackson viajaria até sua casa em Seabridge Bay para levá-la para longe em sua limusine? E o que faria com a filha adolescente?

Havia sido tolice se iludir com Jackson. Era hora de parar. Du­rante o resto da semana, se ocuparia inteiramente com o projeto Pequenas Princesas e ficaria bem longe dele.

Pelo que ouvira a respeito de seu príncipe encantado, logo ha­veria outra mulher ocupando seu lugar.