Capítulo 10

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Giovanna despiu-se e entrou na banheira cheia com água quente e óleo aromático. O movimento simples a fez refletir. Normalmen­te, não se atirava à água com a ousadia da irmã. Preferia antes testar a temperatura, aclimatar-se...

E era assim com todas as coisas.

Mergulhada na água, ela fechou os olhos e se deixou invadir pelo silêncio do apartamento. Era tudo tão arrumado, tão limpo... Tão acolhedor! Havia objetos de arte e decoração para dar certo toque asiático ao lugar, mas, no geral, o apartamento era típico da região de San Francisco.

Giovanna olhou em volta, apreciando a beleza e a elegância do banheiro moderno. Estivera entorpecida por muito tempo. Era bom poder escapar das lembranças. Tinha a sensação de que, mesmo que modificasse toda sua casa, não poderia fugir das recordações. A sombra de Bill ainda vivia na casa em que moraram juntos por muito tempo.

Nem mesmo todas as férias da infância naquela mesma casa serviam para apagar as lembranças da vida após o casamento. Até sair de lá para ir ocupar o lugar da irmã em San Francisco, nem havia percebido como a casa a mantinha paralisada.

Ela fechou os olhos e se deixou invadir pelas novas ideias que tivera para a Pitman Toys. Mesmo que não fossem utilizadas, havia sido maravilhoso dar vazão à criatividade. Queria mais. Permane­cera no escritório até às sete e meia, desenhando e desenhando, comendo a comida chinesa que Oliver havia pedido antes de sair. Pela primeira vez na vida, não se preocupara com a casa. Gos­tava dali. Não fosse pela saudade da filha, nem ia querer voltar para casa!

Estava viva. Ainda estava viva!

O toque da campainha a fez sair da banheira trinta minutos depois de ter entrado nela. Apressada, vestiu o roupão e foi ver quem podia estar tocando a campainha do apartamento àquela hora da noite.

Quando levantou a tampa do visor para identificar o visitante do outro lado, ela nem pôde acreditar no que via. 

Jackson Hawks parecia um colegial nervoso! Ele trazia flores e uma caixa que devia conter bombons. E continuava tocando a campainha.

Que diabos ele estava pensando para aparecer ali sem ser anun­ciado, sem antes preveni-la sobre sua visita? Quem pensava ser? Irritada, Giovanna removeu a tranca da porta e a abriu.

— Que diabo está fazendo aqui, sr. Hawks? Esqueci alguma coisa? Marcamos uma reunião? Eu o convidei para vir aqui?

Oh, não! Jackson sabia que a tirara do banho.

— Eu... Sinto muito. Tentei telefonar, mas ninguém atendeu e... Bem, eu precisava vê-la.

— Por quê? A Pitman está pegando fogo? O inferno congelou?

— Ah, sim... o inferno... — Devia ter mesmo congelado, ou não estaria ali agindo como um idiota.

— Escute aqui, vou lhe dar cinco minutos, e só porque você é meu chefe. Vou me vestir. Enquanto isso trate de ser útil e enxugue todas essas poças que deixei para vir atendê-lo.

— A cozinha é ali? — Ele apontou na direção lógica.

— Sim.

Jackson foi para a cozinha e deixou flores e bombons sobre a mesa. Depois pegou um pano que encontrou dobrado atrás da porta e, sem pensar no que fazia, voltou à sala para enxugar o chão, de joelhos em seu mais caro terno Caraceni.

Devia gostar muito dessa mulher!

Giovanna espiou pela fresta da porta e viu o belo Jackson Hawks de joelhos, enxugando a água do piso. Sorrindo, terminou de vestir o moletom que encontrou na gaveta de Anahi. Estava um pouco apertado, mas moletom, camiseta e jaqueta pareciam compor um traje inofensivo, e era isso que ela queria.

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