Capítulo 3

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Jackson Hawks mal podia acreditar que aquela era a mesma Anahi Portilla que se atirara em seus braços na festa de Natal. Desde então, a estivera evitando como a uma praga.

Mas, de repente, ela parecia diferente. Devia ter sido o repouso. Seu rosto era mais suave, e a maquiagem habitual, batom vermelho e delineador preto nos olhos, fora substituída por tons mais natu­rais. Até o decote havia mudado. Era mais... Discreto. E ela se comportara com modéstia no refeitório, em vez de, por exemplo, atacar a máquina de café.

Anahi parecia diferente. Bem, as pessoas mudam. De repente se sentia atraído por ela, mesmo depois da bofetada. Pela primeira vez desde que a conhecera parará para olhar real­mente seus belos olhos azuis.

Decidira ir visitá-la em sua sala porque, desde aquela manhã, no refeitório, não conseguia tirá-la da cabeça. E tinha uma reunião importante com Cavanau, um dos clientes mais importantes da Pitman Toys. Precisava de toda sua concentração para convencer Cavanau a continuar com a Pitman, apesar da última linha de brin­quedos da empresa não ter alcançado o sucesso esperado. Sendo assim, decidira ir vê-la antes de seguir para a sala de reuniões.

Ser o vice-presidente da Pitman o obrigava a desempenhar vá­rios papéis, mas isso era fácil para ele. Era essa a condição para continuar empregado e preservar os empregos de todos os subor­dinados. O desemprego era uma experiência que preferia evitar, especialmente em San Francisco, uma cidade atingida duramente pela montanha-russa econômica dos últimos dez anos.

Mas, no momento, a ideia de iniciar um relacionamento com Anahi sobrepunha-se a todas as outras coisas. Convi­dara-a para jantar, e não ouvira uma resposta negativa. Ou melhor, não havia esperado por uma resposta negativa. Passaria um tempo olhando para aquele rosto renovado e mais suave, e então desco­briria se ela realmente mudara, ou se tudo não passava de fruto de sua imaginação carente de sexo.



Anahi estava na varanda do fundo respirando o ar fresco e sal­gado, entregando-se às recordações. Na adolescência, a varanda era o único lugar onde se podia ter um pouco de privacidade na pequena casa de praia que os pais compraram quando se mudaram de Los Angeles.

Seabridge Bay era um lugar tranquilo. A paisagem era linda, relaxante...

Mas, no momento, estava ali tentando escapar dos vapores que criara na lavanderia. Aparentemente, duas xícaras de água sanitária e meia caixa de sabão em pó não só haviam removido o mau cheiro das roupas emboloradas com que lidara no dia anterior, mas tam­bém haviam causado algum prejuízo à máquina de lavar.

— Prometi salvar a roupa, e agora vou ter de salvar a máquina. — resmungou.

Decidida, foi até a garagem, pegou a caixa de ferramentas de Bill e levou-a para a varanda e abriu.

Não sabia o que ia fazer, mas tinha de tentar alguma coisa. Normalmente, quando se desmonta alguma coisa e monta nova­mente, encontrar o problema é uma consequência óbvia. Eram sete da manhã. Tinha algumas horas antes de as pestinhas chegarem da escola. Horas! Planejara dormir, mas o canto dos pássaros a despertara. Oh, como seria delicioso fritar aquelas aves para o café da manhã! Elas e suas amigas, as gaivotas.

Usando um avental que pertencera à mãe, ela foi até a cozinha para lavar as mãos e servir-se de uma xícara de café. Havia crescido naquela casa. Conhecia cada pequeno recanto dela e sabia onde encontrar todas as coisas. Ainda estava misturando o açúcar ao café, quando ouviu passos na escada.

A adolescente, vestindo um jeans muito justo e uma camiseta curta que deixava à mostra o abdome plano, parou apenas para pegar a nota de cinco dólares que, seguindo instruções de Giovana, Anahi deixara sobre o móvel.

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