042.

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O vale era mais bonito na realidade do que parecera na visão de Jimin. Talvez fosse o luar brilhante que tornava prateado o rio que cortava o vale verde. Aquele era, sem dúvida, o vale onde vira Taemin pela última vez. Finalmente o estava alcançando. Após amarrar Wayfarer em uma árvore, Jimin pegou o casaco com o sangue de Taemin e repetiu o ritual de procura, só para se certificar.
Fechou os olhos, esperando ver Taemin, com sorte em algum lugar muito próximo, talvez até mesmo no vale ainda. Em vez disso, viu apenas escuridão. Seu coração acelerou. Tentou novamente, colocando o casaco na mão esquerda e desenhando desajeitadamente o símbolo com a direita, menos ágil. Respirou fundo antes de fechar os olhos dessa vez. Nada, mais uma vez. Apenas uma negritude sombria, vacilante. Ficou lá durante um minuto inteiro, os dentes cerrados, o vento entrando pela jaqueta, causando arrepios em sua pele. Afinal, xingando, abriu os olhos depois, em um ataque de raiva desesperada, jogou o casaco no chão.

Sua mente acelerou. Claramente o símbolo de procura não estava mais funcionando. Talvez Taemin tivesse percebido que estava sendo seguido e feito alguma coisa para bloquear o feitiço, mas o que se poderia fazer para impedir um rastreamento? Talvez tivesse encontrado uma grande quantidade de água. Madison dissera que água rompia magia. Não que isso fosse de grande ajuda. Não era como se Jimin pudesse ir a todos os lagos do país para ver se Taemin estava flutuando por eles. E tinha chegado tão perto. Tinha visto este vale, Taemin nele. E lá estava a casa, quase invisível, contra um pequeno bosque na base do vale. Pelo menos valeria dar uma olhada pela casa, para ver se havia alguma coisa que pudesse apontar para a localização de Taemin ou de Theodore.

Com a sensação de resignação, Jimin usou a estela para se marcar com alguns símbolos de rápida ação e rápido desaparecimento, aqueles que ele tinha lido e gravado do Livro Gray: um para lhe dar silêncio, outro para rapidez e outro para passos precisos. Quando terminou e sentiu a dor aguda, familiar e quente contra a própria pele, guardou a estela no bolso, afagou o pescoço de Wayfarer, e começou a descer o vale.
Jimin alternou entre descer cuidadosamente e deslizar pelas pedrinhas soltas, o que era rápido, porém perigoso. Quando chegou à base do vale, estava com as mãos sangrando por ter caído no cascalho solto mais de uma vez. Lavou-as no riacho claro e velozz a água estava gelada.

Quando se endireitou e olhou em volta, percebeu que agora estava enxergando o vale por um ângulo diferente do que vira no rastreamento. Havia o bosque de árvores, com os galhos entrelaçados, as paredes do vale se erguendo por todos os lados, e a pequena casa. As janelas estavam escuras agora, e não havia fumaça na chaminé. Jimin sentiu uma pontada que misturava alívio e decepção. Seria mais fácil revistar a casa se não houvesse ninguém dentro. Por outro lado, não havia ninguém lá.
Enquanto se aproximava, ficou imaginando o que na casa tinha parecido misterioso na visão. De perto, era apenas um típico sítio de Idris, feito de quadrados de pedra branca e cinzenta.

Alcançando uma das janelas, Jimin subiu no parapeito e olhou através do painel embaçado. Viu uma sala grande, ligeiramente empoeirada, com uma bancada que percorria uma parede. As ferramentas espalhadas não eram nada que se utilizasse em trabalho manual, eram pilhas de pergaminho manchado, velas pretas, largas vasilhas de cobre com líquido negro seco nas bordas, uma variedade de facas, algumas finas como furadores, outras com lâminas largas e quadradas. Havia um pentagrama marcado no chão, com os contornos borrados, cada uma das cinco pontas decorada com um símbolo diferente. O estômago de Jimin apertou, os símbolos pareciam os que tinham sido talhados ao redor dos pés do anjo Ithuriel. Será que Theodore poderia ter feito isso? Será que poderiam ser coisas dele? Era esse o seu esconderijo.

Jimin saltou do parapeito, aterrissando em um gramado seco, exatamente no mesmo momento em que uma sombra passou pela face da lua. Ele olhou para o alto bem a tempo de ver um corvo lá em cima. Congelou, em seguida ocultou-se na sombra de uma árvore e espiou por entre os galhos. Enquanto o corvo mergulhava mais para perto do chão, Jimin soube que seu primeiro instinto estivera correto. Não era um corvo qualquer, era Hugo. O corvo que pertencera a Edward, Edward o utilizava algumas vezes para enviar mensagens para fora do Instituto. Desde então, Jimin descobrira que Hugo pertencera originalmente a Theodore.

𝑻𝑹𝑼𝑬 𝑩𝑳𝑶𝑶𝑫: 𝟐 • Jikook/Chaelisa [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora