Azarada

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Não me considero uma pessoa sortuda.

O azar anda comigo desde que nasci. Rejeitada pelos próprios pais, anos vivendo em um orfanato que não tinha alimentos suficientes para todos... A única sorte que tive na vida foi ser adotada por um casal incrível que infelizmente não podiam ter filhos. Eu tinha tudo. Amor, carinho e bastante comida. Era um milagre.

Mas eu devia ter desconfiado dessa sorte repentina. Ela não durou muito.

No auge dos meus 16 anos, quando eu finalmente havia feito amizades no colégio, quando eu ia para as festas que tanto sonhava em ir, quando eu estava feliz... O mundo acabou.

Acho que ninguém ficou chocado, sempre achamos possível e aí finalmente aconteceu. Mas custava ter sido bem na minha época? Porque não daqui 100 anos? (Peço desculpas para você aí do futuro, mas eu tenho motivos para estar bem zangada com o fim do mundo).

O interessante é como aconteceu.

Ágata 616.

Sim, um asteroide vindo em direção à Terra. É, eu sei... Bem óbvio.

Então a humanidade se uniu e fizemos o que fazemos de melhor – não, não quero ter envolvimento nisso, os outros fizeram o que fazem de melhor, apesar do meu azar eu não sou tão burra –, eles atiraram foguetes nele!
Nossa, que incrível, foi muito lindo ver as explosões. Super me empolguei. Deu certo!

Só que não.

Veja bem, os foguetes só são foguetes porque têm compostos químicos. E eles choveram em nós e mudaram tudo.

E "tudo" significa criaturas de sangue frio. E "mudaram" significa mutações, que começaram a se alimentar de todo mundo. Formigas, lagartos, baratas, crocodilo... O que imaginar. Tem muitos.

Então, antigamente, se quisesse matar uma barata, um sapato bastava. De repente você precisava de uma arma. Às vezes, de um tanque. Às vezes nem isso funcionava. Principalmente se você não ficar dentro do tanque... Pobre Bob. Que Deus o tenha.

Com o tempo, os gigantes e nosso Exército se exterminaram. Perdemos 95% da população humana em cerca de um ano. Isso é muita gente... Os que sobreviveram se esconderam onde puderam, abrigos, cavernas, salas de pânico, por todo o mundo.

Então, vivi em um abrigo durante dois anos, ele não era tão seguro e logo foi invadido por uma barata gigante. Nunca vou esquecer aquele dia. Perto dali havia outro abrigo, bem mais seguro. Não sei como consegui me salvar, mas me salvei e estou no subsolo faz cinco anos.

E sim, é tão ruim quanto parece... Sério. Imagina ficar preso, sem ver a luz do sol por anos. Na verdade estou exagerando, somos um ótimo grupo e nós nos amamos. É como eu imagino que a faculdade teria sido...

— Tem certeza que eles dormiram? — ouço Karen perguntar.

— Quem? — Ray se faz de bobo, reviro os olhos e inclino a cabeça sutilmente para ver se Joel está acordado. Ele coloca o dedo nos lábios, pedindo para que eu não faça nenhum barulho, concordo com a cabeça.

— Joel e Ohana. Quem mais poderia ser? — Karen diz.

— Ah, estão sim. — sim, estamos, Ray.

— Calma aí.

— Eles não estão acordados. — Ray afirma mais uma vez.

— Tem certeza?

— É só você.

— Eu só... Eu não...

— Joel? Ohana? — fez uma pausa e obviamente não respondemos. — Viu não estão acordados. É só você ficar quieta.

Survive Or Love  [Love And Monsters] Onde histórias criam vida. Descubra agora