Despedida

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Sete anos atrás

Estava em Fairfield curtindo os últimos dias de férias, na casa dos meus avós de consideração lendo para meu avô que prestava atenção em tudo que eu falava. Era como se fosse uma tradição, toda vez que eu ia para a casa deles vovô me pedia para buscar livros em sua biblioteca e ler para ele. Era uma história intrigante, os reinos se dividiam por cores e viviam em paz, até certo dia em que um deles se revoltou contra todos e a grande Guerra começou, infelizmente não me recordo o nome, adoraria lê-lo, eu o perdi no meio de tanta confusão.

— Seria bom se você ficasse aqui por mais uma semana. — Minha avó entrou na sala oferecendo biscoitos de chocolate que ela costumava preparar todas as tardes.

— Mamãe e papai vão chegar logo. Sem falar que o verão está acabando preciso me preparar para a volta das aulas, além disso mamãe está precisando de ajuda. Os bebês podem nascer a qualquer momento. — virei a página do livro e coloquei o marca texto, logo após fechei.

— Promete vir nos finais de semana? — meu avô pediu. Dei risada.

— Em alguns, não posso vir sempre, é longe. Mas vou tentar. Precisamos terminar nosso livro não é? — ergui o livro de capa dura para ele e o mais velho sorriu banguela. Tão fofo.

Eram quase seis horas da tarde quando meus pais chegaram, iriam dormir lá e no outro dia voltar para São Francisco comigo. Mamãe entrou na sala com a mão nas costas e outra na barriga. Corri para abraçá-la, ela estava radiante num vestido florido estilo cigana, meu pai também mantinha um sorriso no rosto e sua camisa social bem passada.

— Espero que estejam acordados, quero conversar. — falei para sua barriga. Seis anos depois que fui adotada, papai e mamãe fizeram um tratamento para conseguir ter um filho biológico, eu apoiei mais que tudo e depois de tantas perdas eles conseguiram ter logo dois. Um menino e uma menina. Eu me considerava a irmã mais feliz do mundo. Minha família era perfeita.

Era.

— Como tem passado, meu amor? — minha mãe acariciou meus cabelos. — Seus avós estão enchendo você de histórias do passado?

— Ainda bem que estão. Descobri várias coisas e vou lhe mostrar a melhor de todas. — me levanto do sofá dando um beijinho em sua barriga. — Está lá em cima, vou buscar.

Subi as escadas correndo, indo em direção ao quarto que foi todo decorado para mim assim que cheguei na família. Puxei uma caixa pesada que estava em baixo da cama e a abri com um pouco de dificuldade pois estava um pouco enferrujada. Minha avó estava limpando o sótão sozinha quando acordei no sábado anterior, acabei brigando com ela por tentar fazer isso sozinha, então fui ajudar. Já estava quase acabando, faltava apenas algumas caixas e por curiosidade abri uma delas encontrando fotos antigas do meu pai quando criança, desde aquele dia, acabei guardando comigo.

Peguei uma foto em específico e desci as escadas. O jantar já estava sendo servido, o cheiro de frango assado fez minha barriga roncar, conversas vinham da sala de jantar então segui para lá.

Todos me receberam com sorrisos curiosos, minha avó já sabia o que era e ficou contendo sua risada escandalosa. Sentei na mesa, no meio dos dois.

— E então, o que tem para nos mostrar? — minha mãe cutucou meu braço.

— Calma, apressadinha. Vou colocar meu prato de comida primeiro.

— Prioridades, não é? —meu pai falou num tom divertido enquanto mexia em meu cabelo.

— Óbvio. — dou de ombros.

— Mostra logo, quero ver a cara de tonto do seu pai. — meu vô falou dando risada. A mesa toda começou a rir e meu pai ficou sem entender. Ergui a foto para a mamãe e ela começou a rir mais ainda. Era a foto mais bizarra que eu já tinha visto em toda a minha vida. Papai estava na faculdade, cabelo estilo moicano, piercing no alto da sobrancelha, uma blusa de banda de rock, segurando uma guitarra e fazendo um sinal estranho com a mão.

— Certo, eu preciso dessa foto. Posso fazer uma cópia? — ela disse e minha vó concordou com a cabeça. — Quando você passou de adolescente rebelde para o senhor certinho de terno?

— Não enche Nick. — ele rolou os olhos para cima. — Foi apenas uma fase. E não faço ideia do porquê mamãe guardou essa foto.

— Você acha que eu ia perder a oportunidade de passar na sua cara o quão ridículo era? Eu sempre falei que aquilo era horrível. — levantou os ombros como se falasse "Continuou porque quis".

Continuamos comendo e rindo felizes, até ouvirmos um estrondo do lado de fora, o chão estremeceu fazendo com que as louças que estavam postas na mesa se mexessem, derramando suco e vinho por toda parte.

Foi aí que o desespero começou, meu pai e meu avô foram ver o que estava acontecendo e minha avó e eu ficamos tentando acalmar minha mãe que estava completamente assustada.

— Temos que sair daqui agora! — meu pai gritou entrando novamente na sala de jantar. — Peguem suas coisas e vamos sair daqui.

— Ohana, busque o necessário. — minha avó pediu segurando o meu ombro e eu mesmo sem entender nada subi as escadas correndo, peguei as minhas malas que já estavam prontas para a minha partida no dia seguinte e as malas dos meus avós, enchi de roupa e desci as escadas correndo deixando as malas deslizarem sobre ela. Meus avós pegavam comida e meu pai colocava minha mãe na mini van que meu avô tinha comprado para viajar com toda a família. Peguei o livro que deixei em cima da lareira na sala de estar e coloquei embaixo do braço.

Eu senti tanto medo, estava apavorada, me sentia minúscula enfrentando os problemas, saí de casa acompanhada dos meus avós, colocamos tudo na van e partimos.

O céu era um misto de explosões, conseguíamos ouvir os gritos das pessoas ao longe, algumas famílias estavam nas suas garagens  e enchiam o porta malas dos carros de coisas aleatórias.

As ruas estavam uma loucura, um jeep vermelho passou por nós em alta velocidade, parando em uma garagem logo após. Parei de olhar pela janela e encarei o banco a minha frente, pensando sobre o que estava acontecendo.

— Preciso tirar aquelas coisas do caminho. — meu pai gritou, logo na saída de Fairfield havia destroços na estrada, não daria para passar sem furar algum pneu.

— Rápido. — minha avó falou enquanto segurava a mão da minha mãe.

— Eu vou com ele. — meu avô abriu a porta mas meu pai agarrou seu braço.

— É melhor você vir ficar no volante, quando eu tirar tudo do caminho corro para cá e o carro já deve estar pronto para partir. — lembro dele hesitar sobre a proposta do meu pai, mas não tínhamos tempo. Outros carros já estavam se aglomerando atrás de nós, gritando e buzinando. Papai virou para trás tocou o rosto da minha mãe e acariciou sua barriga enquanto sorria, depois bagunçou meus cabelos e apertou minha bochecha. Olhou para todos na van.

— Eu amo vocês. — abriu a porta da van e saiu.

Era como se ele soubesse o que estava prestes a acontecer.

Ele se despediu.

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Oii
Tudo bem?

O que acharam? Quero que saibam um pouco do passado de Ohana, é bem importante para o crescimento da história.

Como passaram esse tempo todo sem mim? Kkk
Pq eu fiquei morrendo de saudade 🥲

Me contem quais fanfics estavam lendo, preciso atualizar minha biblioteca😀

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