As Duas Não

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Eu sei que não devia estar nessa viagem e que vim de intrusa, mas eu não me arrependo – apesar de já ter pensando nisso –, principalmente pelas paisagens que estou vendo ao longo do caminho.

Já passei por florestas, montanhas, desfiladeiro e a natureza não cansa de me impressionar. Adoraria ter minha câmera fotográfica que ganhei de aniversário de 14 anos, seria incrível registrar tudo. Vocês, leitores do futuro teriam acesso a elas, faria uma linda colagem e falaria o que mais gostei de cada lugar.

Como por exemplo, em uma das florestas que passamos essa tarde, vi uma flor que jamais havia visto antes, tudo bem que Clyde me alertou que eu não podia tocá-la porque iria me dar uma bela de uma coceira, mas foi legal admirá-la, suas pétalas eram compridas, rosas com pontos pretos, no centro parecia que havia um coração perfeito. O caule era grande e cada flor caia em cima da outra, como uma cascata.

A noite chegou, não vou mentir que estou com um pouco de medo. É a primeira vez que durmo sem alguma proteção, estamos ao ar livre em volta de uma fogueira, acabei de comer uma lata de ervilhas e estou deitada ao lado de Minnow, ela está tão quieta, deve estar muito cansada após ter andado tanto. Não é fácil para mim, imagina para uma criança. Tudo bem que ela não é qualquer criança... Vocês tem prova que ela não é normal!

Garoto se aconchega em minhas pernas e eu sorrio para ele enquanto tento fazer carinho em sua cabeça

— Tá fazendo o que aí? — ouço Clyde perguntar para Joel.

— Um projeto que comecei há um tempo, na minha colônia, junto com Ohana. Sempre que encontrávamos um monstro novo, eu desenhava. — pausa. — Um desenho, algumas informações. Pontos fortes, pontos altos e tal, essa parte fica com Ohana, ela é boa em escrever.

— Dessa forma, sentíamos que estávamos realmente ajudando. — digo baixo para não assustar Minnow. 

— Vocês são bons. — balbucia Clyde.

Eu e Joel agradecemos, fecho os olhos para tentar dormir e Minnow se vira para mim.

— Você não estava dormindo?

— Claro que não, devo ficar atenta a tudo. — levanto a sobrancelha e me xingo por achar que essa menina é frágil, você é frágil Ohana, Minnow não. Devia ser como ela.

Anotado, devo ser como Minnow.

Não sei quando, mas vou.

— Devia descansar um pouco. — tiro uma mecha de cabelo do seu rosto e limpo sua bochecha.

— E você devia contar para Joel o que sente. — sussurra e sorri. Reviro os olhos, o que fiz para merecer isso?

— Jamais. — balanço a cabeça em negativa e olho por cima do ombro de Minnow, Joel está concentrado em mostrar seus desenhos para Clyde que está interessado neles. Não evito sorrir, Joel se dedicou muito para chegar nesse nível.

— Você parece uma boba olhando para ele. Tem que ser mais esperta que isso. — ela não me deu um tapa, só que pareceu que sim. — Se for esperta o bastante vai ir com a gente para as montanhas e não com ele.

— Você acabou de dizer para eu falar tudo o que sinto por ele. Não entendi o que quis dizer! — digo um pouco irritada, não podia deixar ela falar assim comigo.

— Se for corajosa vai falar o que sente. É isso que eu quero dizer. Inteligente ou corajosa?

— Eu não posso ser as duas coisas?

— Pode, fala que gosta dele e vem com a gente. Simples. — da de ombros. Faz sentido. — Ou vai com ele e continue burra. Porque claramente ele não percebe que você gosta dele.

Survive Or Love  [Love And Monsters] Onde histórias criam vida. Descubra agora