Peçonhenta

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Nossa caminhada está sendo bem tranquila até agora, nenhum sinal de monstros e ninguém teve dor de barriga – isso é bem comum.

Joel está agraciando meu ouvidos com uma bela história de sua infância, eu amo escutá-lo. Me pego pensando em como o admiro, como gosto de o ouvir falar. Isso é estar apaixonada ou eu já estou virando uma pessoa obcecada?

— Eu já devia ter uns dez anos... Mas lembro que fiquei com tanto medo do barulho que vinha de fora do meu quarto, que não conseguia me mover, até pensei que ia fazer xixi nas calças. Fiquei anos tentando saber o que era aquele barulho na fazenda dos meus avós. — diz tentando não dar risada.

— E o que era? — pergunto interessada.

— Eu havia ido novamente, na mesma época do ano, só que três anos mais velho e ouvi uma conversa sobre porcos procriando...

— Ah, meu Deus! — tapo a boca e começo a rir descontroladamente.

— Sim! Essa era a época do ano que eles mais faziam porquinhos! — explode em gargalhadas assim como eu. — Eu fiquei traumatizado... Mas eu já devia saber, só que eu era muito inocente.

— Bem diferente dos meninos dessa idade, a maioria que cresceu comigo no orfanato já sabiam o que era sexo desde quando aprenderam a falar. — dou risada.

— Ah... Eu preferia ler livros bobos e jogar Super Mário. — coça a nuca e suas bochechas ficam vermelhas. Muito fofo.

— Eu não tenho nenhuma experiência para falar disso, sempre preferi conversar sobre outras coisas. No início da minha vida social o mundo acabou, então não tive nenhuma chance. — confesso um pouco envergonhada também, eu e Joel nunca falamos sobre sexo, mesmo escutando os casais do abrigo, isso é extremamente constrangedor.

— Te entendo.

— Não, não entende. — o empurro de leve. — Você namorou! Eu nunca namorei.

Abre um sorriso de lado e eu fico ainda mais envergonhada.

— Você imagina a sua primeira vez? — levanta a sobrancelha, se fosse qualquer outro garoto eu já saberia que teria malícia na frase, mas eu o conheço o suficiente para saber que está apenas perguntando.

Hesito em responder, não por já ter idealizado o momento. Nunca fiz isso, acho que sempre tive vergonha e agora percebo que foi uma besteira, ninguém iria saber além de mim. Por que me privo de pensamentos sendo que apenas eu sei deles?

— Não, nunca pensei. Mas quero que seja com alguém especial e que tenha sentimentos. — com toda a coragem que reuno olho para o seu rosto, mas não sabia que ele estava olhando para mim. De repente sinto as famosas borboletas no estômago, se fosse um desenho animado uma música romântica estaria tocando agora. Os seus olhos transmitem algo para mim, talvez carência, talvez seja só impressão minha ou talvez exista uma pequena possibilidade dele gostar de mim.

Paro de me enganar.

Ele tem Aimee. Ele prefere a Aimee. Jamais você, Ohana. É isso que anoto mentalmente e repito para mim mesma quando desvio o olhar.

A floresta que estamos é bem sinistra, parece que uma guerra aconteceu aqui, provavelmente estamos próximos de um pântano, a terra aqui é úmida mesmo que os galhos das árvores estejam secos e sem folhas. É um lugar bem sinistro, há placas indicando que havia jacarés por aqui... Meu Deus, jacarés gigantes? Eles ficaram gigantes também? Ah meu Deus. Ela são animais de sangue frio? São? Não tem como eu pesquisar isso agora. Desculpa, se eu não sou boa em biologia. Só sei que eles são parecidos com lagartos, lagartos tem sangue frio, então eles também pode ser? Puta que pariu. Imagino um crocodilo gigante abrindo a boca prestes a me devorar.

Survive Or Love  [Love And Monsters] Onde histórias criam vida. Descubra agora