Garoto

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Queridos leitores do futuro.

Sentir o vento batendo no rosto é um privilégio para quem está vivo, ainda mais depois de passar cinco anos dentro de um abrigo subterrâneo. Foi a melhor sensação que já senti em todo esse tempo. Me impressiono por tudo ainda estar verde. O céu é tão azul quanto me lembro, há poucas nuvens e o ar puro me dá a sensação de que talvez o mundo não houvesse acabado.

Fecho o bunker e encaro o lugar, as coisas estão bagunçadas, mas imaginei bem pior. Joel foi para o litoral, isso significa que foi para o Oeste, devo ir para lá também. Desço as escadas e finalmente meus pés encontram a terra.

— Ah meu Deus, que coisa mais  libertadora. — dou um sorriso e giro no lugar. — Espero não achar um bicho de dois metros de altura para acabar com a minha alegria.

Não sou muito boa com localização, eu acho que sei onde é o Oeste, mas pelo que conheço de Joel ele deve ter ido para o caminho errado. O mais esperto a se fazer é procurar por seus rastros que são bem visíveis, ele não é nada cuidadoso.

Os dois lados, direito e esquerdo tem alguns matos pisoteados. Mas é no centro que a maioria estão amassados. Dou de ombros. Será por aqui.

— Joel, Joel... Só você para me fazer ter coragem pra isso. — digo em voz alta.

As pegadas e galhos quebrados, me levam até uma pequena área com algumas árvores. Presumo que aqui é uma área residencial, acho que nunca andei por aqui.

Há um cemitério de carros, formando um labirinto perigoso junto das árvores. Piso cautelosamente sobre o chão.

— Há ovos aqui. — estremeço. — Caramba, Joel cadê você? — resmungo para o ar. — Calma, Ohana, pensamentos positivos. Joel está bem. E você também. Não pode se esquecer de você mesma. Se não estiver viva como vai ajudar ele se você não se cuida?

Há uma casa aqui perto, todo o terreno está uma bagunça, como se uma guerra tivesse acontecido nesse grande quintal. Talvez a família que morava aqui tenha se salvado, estão em um abrigo seguro e são felizes o tanto que podem. Talvez.

— Pensamentos positivos... — começo a cantarolar. — Pensamentos... positivos.

Desvio de uma pequena poça de lama e levanto a cabeça quando escuto um barulho não tão longe daqui, paro um instante e controlo minha respiração.

Ouço latidos de cachorro e... Gritos.

Gritos de alguém que conheço muito bem. Joel.

— Já arrumou confusão? — grito e começo a correr. O barulho vem dos fundos da casa. Passo pelos objetos velhos e quebrados espalhados para o chão e arquejo quando vejo um sapo gigante puxando Joel e um cachorro mordendo a língua dele.

É a coisa mais nojenta que já vi. Se eu não estivesse totalmente focada em ajudar Joel, estaria vomitando agora. Pego o arco e flecha estranho que Tim me deu e corro em direção ao bicho. Apontando pra ele, me preparando para atacá-lo.

— Ohana? — Joel grita. — O que você tá fazendo aqui?

— Cala a boca, Joel! Estou com raiva de você. — atiro e a flecha atinge o olho dele.

— Por que você veio? — grita tentando se agarrar em um tronco, coloco outra flecha na besta mas o nervosismo me atrasa.

— Eu já falei para você calar a boca! Você foi embora e nem se despediu de mim. — Miro em sua língua mas não acerto. Tento novamente.

— Você mesma disse que não era pra falar como você nunca mais!

— Era mentira. Você é burro? A... Eu já tenho resposta para isso. — suspiro e a flecha que lanço acerta um pouco acima da sua boca grande e nojenta. — Você é um burro e egoísta.

Survive Or Love  [Love And Monsters] Onde histórias criam vida. Descubra agora