1. Pai da Máfia

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Atenção: esta estória contém conteúdos que podem ser gatilhos para alguns. Estejam avisados.

A batida de where have you been deixava todo o local agitado. A multidão pulava em conjunto enquanto as luzes coloridas queimavam suas retinas e disfarçavam o vermelho de seus olhos.

O cheiro de maconha impregnava o ar, fazendo os pulmões e a cabeça do moreno doer. O copo que lhe entregaram parecia suspeito, tinha um cheiro estranho, mas quem se importava? Ele não tinha nada, ele não era nada.

– Você está bem? – Deixou a cabeça cair para o lado esquerdo encontrando os olhos curiosos de Jeno. – Bateu forte, né? – Sorriu largo fazendo com que seus olhos virassem duas linhas.

– Que porra é essa? – Resmungou voltando a encarar o líquido no copo.

– Não sei. – Foi a última coisa que ouviu antes do estrondo que veio da entrada.

A gritaria passou a ser mais alta do que a própria música, ver as pessoas correndo chegava a ser engraçado por causa das várias luzes coloridas. Estava chapado demais para ter qualquer reação que teria se estivesse consciente.

– Merda! Mark! – Sentiu alguém agarrar o seu braço e o puxar do assento onde, antes de tudo, curtia o som e assistia a garota seminua dançar.

Os sons dos tiros se tornavam cada vez mais altos, sua única reação sábia naquele momento foi sacar a arma da cintura e atirar no homem de fuzil que se aproximava de Jeno. Depois daquilo a única coisa que fez por si próprio foi subir na caminhonete azul e assistir o amigo pilotar o mais rápido possível.

...

– A gente tá fodido. – Jeno resmungou enquanto descia as escadas ao lado do moreno.

– Calma. – Mark ditou enquanto ajeitava a camisa social no corpo.

– A gente vai levar um esporro. – Voltou a resmungar abrindo a porta grande de vidro para saírem da mansão Wei.

– Cala a boca, Jeno. – Assistiu o carro de luxo parar na frente da mansão.

Jeno parou ao lado da empregada que sorria, alguns passos distante do amigo. Mark ficou atrás do irmão mais velho que o encarou por um breve momento com uma feição de poucos amigos.

Parando para refletir por um segundo, ele estava péssimo comparado a qualquer um que estava ali presente. Todos pareciam tão bem arrumados e ele...

– Meus filhos. – Wei desceu do carro e examinou suas crias que pareciam dez vezes mais distantes.

– Seja bem vindo, pai. – Lay sorriu para o mais velho que subia os degraus com a ajuda do empregado.

– Seja bem vindo de volta, meu senhor. – Mark se curvou e voltou a observar o senhor de idade que direcionou um sorriso carinhoso para si.

– Vamos entrar. – Chamou os filhos enquanto adentrava a mansão. – Preciso conversar com vocês.

...

– Três meses na China. – O senhor se sentou em sua cadeira de couro.

Estavam no escritório do mais velho. Lay estava sentado na poltrona brincando com a caneta da sorte do progenitor, enquanto Mark estava em pé ao lado da porta com os braços atrás do corpo e uma feição neutra.

– Confesso que senti muitas saudades do seu café, senhorita Kim. – Encarou a empregada que sorriu.

– Sei que sentiu! Duvido que as chinesas façam uma refeição gostosa como a minha! – Brincou ouvindo o riso do mais velho.

– E não fazem! – Acendeu o charuto. – Trouxe alguns doces chineses para Meirin.

– Que gentileza, meu senhor. – Kim sorriu em agradecimento.

– Nada demais, agora pode ir, preciso conversar com os meus filhos a sós. – A mulher se curvou e antes de sair direcionou seu olhar a Mark, que entendeu na hora.

Era um boa sorte.

...

– Um ataque surpresa não quer dizer boas coisas. – O senhor de idade encarou o filho mais velho e depois o filho mais novo.

– Mark deveria ter feito algo, mas estava ocupado demais se drogando. Se tivesse capturado um deles teríamos informações valiosas. – Lay reclamou direcionando seu olhar para o irmão.

– Não culpe o seu irmão, onde você estava? – Defendeu o mais novo vendo que o mesmo continuaria abaixando a cabeça para o irmão.

Lay bufou encarando o pai. Para Wei, esse problema nunca iria se resolver. Lay, seu filho de sangue, seu primogênito nunca amaria Mark. Aquele que acolheu, ensinou e amou como um verdadeiro filho.

– Me perdoe, pai. – Mark ditou com a voz grossa, mas ainda sim, não era firme o suficiente.

– Não se preocupe, sabemos quem foi de qualquer forma. – Soltou a fumaça do charuto vendo a mesma se espalhar pelo cômodo. – Quero que vá até Hei e tirem uma satisfação. Ele acha que é grande e forte o suficiente, se for uma guerra estaremos prontos.

– Sim, senhor. – Ambos os garotos ditaram juntos.

– Pode ir agora Lay, quero falar com o seu irmão a sós. – Ditou enquanto se levantava da cadeira.

Mark encarou o irmão que umedeceu os lábios com os olhos fixados em si. Lay estalou a língua no céu da boca, pediu licença ao pai e, antes de sair, trombou seu ombro com o de Mark que apenas abaixou a cabeça e suspirou pelo desconforto que a batida causou.

– Pai...– Depois de um tempo em silêncio vendo o mais velho observar o lado de fora pela grande janela, o chamou em um tom manso.

– Eu estou morrendo, filho. – Ditou baixo. Mark fechou os olhos com força ignorando a dor, ele sabia muito bem o que o mais velho queria. – Eu preciso de um herdeiro.

– É por isso que o Lay esta no controle, ele será o herdeiro. – Deu um passo a frente quando o senhorzinho o encarou.

– Quero um herdeiro de verdade. – Riu. – Lay ainda é muito imaturo, acha que pode fazer qualquer coisa sem ter consequências. Você é esperto Mark, e bom...é o meu filho.

– Eu não sou...– Perdeu a fala quando encontrou os olhos cansados do homem. – Eu falhei ontem, não posso cuidar do grupo todo.

– Todos nós falhamos. – Deu de ombros. – Quero que seja você o próximo pai da máfia.

...

Mark saiu do escritório e respirou fundo. Calmamente seguiu pelo corredor pensando na possibilidade de se tornar aquele que todos desejavam ser, principalmente o seu irmão mais velho. Se aquilo acontecesse sua vida se tornaria o próprio inferno.

Atentou os ouvidos e diminuiu a velocidade dos passos quando sentiu que alguém estava o seguindo. Ouviu um riso baixo e um vulto passar atrás de si, quando se virou foi capturado por um ser pequeno que tinha a risada alegre e contagiante.

– MeiMei, não deveria estar na escola? – Brincou pegando a garotinha de cabelos escuros no colo.

– Oppa, hoje é sábado! – Riu abraçando o pescoço do maior.

– Sábado, huh. – Depositou um beijo na bochecha gordinha e rosada.

– A gente vai tomar sorvete agora? – Meirin segurou o rosto do maior com ambas as mãozinhas fazendo o mesmo a olhar. – Você prometeu...

– Eu sei, querida. – Suspirou a colocando no chão. – Preciso resolver uma coisa com o Lay, mas quando eu voltar a gente vai tomar o seu sorvete favorito. – Sorriu.

– O maior? – Sorriu largo mostrando a janelinha.

– O maior. – Se agachou na frente da pequena.

– Promete? – Estendeu o mindinho.

– Só não conta pra sua mãe. – Riu juntando seu mindinho com o da pequena que concordou.

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