20. Sangue ruim

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– Ótimo, Mark agora está vulnerável e fraco. – Hei deu as costas com um sorriso enorme estampado no rosto.

– E falta pouco para que eu me torne o pai da máfia. – Lay comemorou.

– Ah, sim...– Hei riu. – Sobre isso...– Sacou a arma e se virou. – Acho que não vai acontecer. – Atirou no peito do outro que cambaleou para trás.

Os homens de Wei sacaram suas armas mas nada fizeram. Hei tinha mais homens, eles estavam cercados. Lay se arrastou até a saída e sumiu da visão do grupo.

– Ele vai fugir, senhor. – Um dos capangas de Hei ditou.

– Deixe ele ir. – Riu. – Mark vai matar ele de qualquer forma. – Encarou o grupo rival. – Vocês vão trabalhar pra mim ou preferem morrer?

Os homens abaixaram as armas e suspiraram derrotados.

– Ótimo.

...

Lay dirigiu com dificuldade até a mansão Wei. Assim que desceu do carro encontrou Mark e Jeno ainda na garagem. O mais novo chorava enquanto o loiro dizia algo para ele, provavelmente estava o confortando.

– Mark...– Chamou baixo.

Mark se virou e encontrou o mais velho indo em sua direção. Uma mão estava em seu peito e a outra esticada. De sua boca saia sangue e sua camiseta e mão também estavam ensanguentadas. Em desespero correu até o irmão e o deitou no chão.

– Lay?! O que houve? Você...– Levou a mão até o ferimento do outro. – Lay...

Encarando o irmão mais novo daquele jeito, ele sorriu. Mark não mudava nunca, nunca deixaria de ser o idiota que era. E de repente algo veio em sua memória...

Ele se lembrou da primeira vez que viu o caçula.

...

– Você viu o novo filhote que Wei trouxe da rua? – Um dos capangas indagou para o outro.

Lay estava estudando no jardim quando viu seus dois tios favoritos. Quando ouviu aquilo na hora pensou em um filhotinho de cachorro. Sempre quis ter um.

– Não, mas me disseram que ele é bonitinho. – Lay aumentou o sorriso ao ouvir aquilo.

– Me disseram que ele sofreu um bocado. – O menino franziu o cenho. – Fiquei sabendo que matou a própria mãe. – Os olhos foram arregalados em espanto. – Um sangue ruim.

– Esse é ruim mesmo. – O outro homem riu.

No dia seguinte, quando estava fazendo seu dever de casa na sala de estar, a porta da frente foi aberta revelando seu progenitor com um sorriso carinhoso. Ele segurava uma mochila verde, e logo atrás dele tinha um garotinho magro todo encolhido.

– Lay, este é Mark. – Apresentou o garotinho. – A partir de hoje ele será o seu irmão.

A ideia de filhotinho logo desapareceu de sua cabeça, achou que seus dois tios foram muito grosseiros ao falar de Mark daquele jeito. Ele era tão fofo, tão quieto. Ter um irmão era muito mais interessante.

...

– Você não vai falar nada, não é? – Indagou para o menor que desviou o olhar.

Já fazia dias que estava tentando fazer Mark dizer algo. Era difícil até mesmo fazê-lo brincar consigo. Ele era muito tímido, muito quieto, muito triste...

Ficou chocado quando um dia descobriu todos os machucados que tinham no corpo do menino. Seu pai lhe disse que Mark foi muito maltratado e que ele deveria cuidar e amar seu irmãozinho. Mas interagir com Mark era muito complicado.

– Olha, você pode confiar em mim Markinhos. – Segurou a mãozinha delicada do mais novo. – Eu vou cuidar de você. – Sorriu de forma carinhosa vendo o garoto olhar para si.

...

Depois de um tempo Mark foi pegando confiança e se soltando aos poucos. Ele era adorável, tinha um sorriso lindo e era muito inteligente. Depois que seu pai lhe contou tudo o que o garoto havia passado tomou a decisão de que cuidaria dele e o protegeria de qualquer coisa. Como um bom irmão mais velho.

– Ei, Mark! Você é o irmão mais fofo do mundo! – Apertou as bochechas magras do menor.

– Lay...– Resmungou com um sorriso fofo. – Posso te fazer uma pergunta?

– Claro. – Sorriu.

– Por que os tios me chamam de sangue ruim? O que isso quer dizer? – Inclinou a cabeça para o lado.

– Ahm...– O coração de Lay doeu no peito. Apesar de todos saberem o que realmente aconteceu com Mark eles insistiam em ofender ele daquela forma. Mark era só um garoto, não merecia aquilo. – Não ligue para eles Markinhos, isso não quer dizer nada.

...

Um sentimento errado estava começando a tomar o seu coração. Mark estava crescendo muito rápido, estava ficando bonito e mais falante. Seu pai o mimava sempre que podia. Ele fazia amizade com os garotos mais legais do colégio e as meninas mais bonitas queriam sair com ele.

As coisas ficaram mais estranhas no natal, quando Mark ganhou o maior presente. Naquela noite, seu pai insistia em estar ao lado dele, distribuindo beijos em sua bochecha e dizendo o quão fofo ele era. A raiva havia tomado Lay de uma forma que nem mesmo ele esperava.

...

De repente tudo desandou. Ele começou a tratar mal o garoto, começou a machuca-lo. Sabia que não era justo, que Mark não tinha culpa e que ele era o único inocente ali. Mas não conseguia parar, a raiva o dominou por completo.

Na noite em que estavam sozinhos ele acabou extrapolando. Invadiu o quarto do irmão e começou a espancar ele. Quando se deu conta de que estava machucando a pessoa que prometeu amar, cuidar e proteger se desesperou. Chorou muito naquela noite, se culpou muito.

Mas quem disse que ele parou.

...

A raiva por Mark já não era mais escondida. Seu pai também não fazia questão de questionar o motivo, ele só se importava com Mark.

Encontrou Hei em uma das praias em Busan. Eles conversaram e entraram nesse acordo. Tudo estava planejado, Wei pagaria por ter deixado-o de lado.

...

– Você tem que matar o Wei antes que ele coloque Mark no poder. – O mais velho ditou para si.

– Eu não sei se consigo...– Suspirou. – É o meu pai...

– Ele não ama você, Lay. – Segurou o queixo do rapaz. – Você não é nada pra ele.

...

Como era tolo, não acreditava que havia caído naquele papo ridículo. Agora estava ali, jogado no chão e sangrando até a morte. Foi tolo em ouvir Hei, foi tolo em deixar que a raiva e o ciúmes o consumisse. Era tão arrogante, Mark nunca teve contato com o amor e seu pai apenas estava querendo demonstrar aquilo. Ele deveria ter ajudado, deveria ter cuidado do seu irmãozinho.

– Eu sinto muito...– Sussurrou para Mark.

– O que? Não, shhh...– O mais novo chorava encarando o irmão.

– Mark...– Ergueu a mão e tocou o rosto do caçula. – Mark.

– Shhhh. – O pálido fungou. – Lay? – Mark encarou o rosto do mais velho, ele não se movia mais. – Lay! – Abraçou o irmão com força se banhando em lágrimas.

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