2. O Garoto da Noite

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Mark desceu do carro acompanhado de Jeno. Lay e os outros já estavam na frente da mansão Hei que parecia mais um cassino e puteiro. O local estava cheio de seus homens, que tentavam a todo custo assustar eles com suas armas e feições desagradáveis.

Quando chegaram no centro do salão principal assistiram o dono da casa descer a escada. Havia um sorriso enorme um sua face, seus olhos de águias estavam fixados em Lay e as vezes eram voltados à Mark.

– Olha só, que visita maravilhosa. – Terminou de descer e se posicionou na frente dos convidados. – O sangue ruim e o metido que acha que é alguma coisa. – Primeiro encarou Mark e logo depois Lay. – Em que posso ajudar?

Hei era conhecido como o homem impiedoso, aquele que não se importava com nada e ninguém. Seu cabelo mediado era sempre penteado para trás, a barba rala juntamente com o corte no olho direito o deixava com uma aparência intimidadora enquanto os dentes de ouro brilhavam toda vez em que ele abria a boca. Era essa a aparência do inimigo de Wei, mas Mark não tinha medo dele, e nunca teria.

– Você queria dar uma de esperto, não é? – Mark começou. – Queria se livrar de quem primeiro? – Hei riu, fazendo uma feição ofendida.

– Imagina, meu senhor! – Levou a mão até o peito. – Eu nem imaginava que vocês estariam lá, meus homens apenas foram cobrar amigavelmente um colega que trabalha lá, nada mais. – Negou com a cabeça ainda fazendo o teatro. – Nunca ousaria começar uma guerra!

– Ninguém aqui falou em guerra. – Lay ergueu uma sobrancelha vendo Hei parar por um tempo enquanto encarava o chão.

– Ah! – Suspirou voltando a sorrir. – Vocês não acreditam em mim, não é? – Depositou um bico falso em seus lábios. – Quer saber? Eu já sei! – Sorriu largo estalando os dedos. – Para jurar as minhas palavras lhes dou um presente...— Encarou um dos seus subordinados. – Hajoon, traga o meu favorito!

Mark franziu o cenho quando o capanga saiu do salão com um sorriso no rosto. Achando tudo muito suspeito, levou a mão até a arma que estava em sua cintura e esperou que o pior viesse.

Quando Hajoon voltou até mesmo Lay se manteve em posição, mas nada suspeito aconteceu. O homem apenas arrastava um garoto de estatura baixa, pele morena e cabelos castanhos. Ele usava apenas uma box preta, seu rosto estava molhado por conta das lágrimas e seu olhar era assustado. Havia alguns ferimentos por seu corpo, fora os arranhões e os pulsos que estavam roxos e inchados.

– Eu quero demonstrar a minha palavra, o nosso acordo de paz, dando a vocês o meu favorito. – Apontou para o garoto que se encolheu.

– Quer fazer um acordo de paz dando um garoto da noite? – Lay franziu o cenho.

– Ei, ele é especial. – Hei se aproximou do garoto que se desesperou e tentou fugir mas o capanga ainda o segurava com força. – Não é lindo? Não te transmite paz? – Acariciou o rosto do menor. – Quando estiver arregaçando ele, vai olhar para esse rostinho assustado e lembrar...– Segurou o rosto do menor com força fazendo ele olhar para os garotos. – Não é que o Hei estava certo.

Lay soltou uma risada nasal enquanto umedecia os lábios. Mark e Jeno apenas fecharam os punhos com raiva daquele homem nojento, como ele ousa achar que poderia comprar eles com um garoto de programa.

– Ok. – Mark arregalou os olhos assim que ouviu a voz do irmão. O pior não foi ouvir ele falar algo e sim ouvir ele concordar com aquele absurdo.

– Lay...– Chamou mas quando o seu olhar se encontrou com o do mais velho não pode fazer nada além de abaixar a cabeça e aceitar. Ele não mudaria de ideia só por sua causa, ele nunca o escutaria.

– Legal! – Hei comemorou. – Esse momento não é único? Tão memorável! – Riu alto.

...

– Então, eles deram um garoto da noite para selar a nossa paz. – Wei franziu a testa já enrugada.

– Não é qualquer um, pai. É o favorito. – Lay sorriu.

– Ah, é? – O senhor resmungou baixo desviando o olhar para o filho mais novo que se mantinha em silêncio. – E o seu irmão concordou com essa sua decisão?

Lay encarou o mais novo que observava algo no chão. Quando seu pai coçou a garganta chamando a atenção seus olhos se encontraram e um choque percorreu todo o seu corpo.

– É claro que ele concordou, não foi Mark? – Ditou de forma alta ainda encarando o pálido.

Mark ficou um tempo em silêncio enquanto era analisado pelo irmão e pelo pai. Lay o observava como se fosse uma presa, algo vulnerável que sempre estaria aos seus pés. Enquanto seu pai esperava ansiosamente por uma intervenção, por um grito, por um xingamento, qualquer coisa que mostrasse que ele não se submeteria para sempre as vontades de Lay.

– Sim. – Ditou em um tom baixo. – Eu concordei.

Como sempre Wei havia ganho uma resposta que não queria, Mark fez aquilo mais uma vez.

– Certo...– O mais velho dos três se sentou na cadeira conformado.

...

– Acho bom você não abrir a boca, sangue ruim. – Lay disse assim que fechou a porta do escritório do pai, onde estavam a poucos minutos.

Mark concordou lentamente vendo o irmão passar por si e descer as escadas. Foi atrás até encontrar, no lado de fora, Jeno que ainda agarrava o menino que trouxeram da mansão Hei.

– Papai aceitou. – Lay ditou para Jeno antes de subir na moto.

– Espera, e o que eu faço com ele? – Apontou para o moreno que tremia de medo e frio.

– Mata, vende, faz qualquer coisa...– Respondeu assim que ligou a moto. – Ele não vale nada mesmo. – Riu antes de sair do local.

– Droga. – O loiro resmungou encarando Mark.

– P-Por favor...não...– O menino se ajoelhou no chão e voltou a chorar assim que Jeno tirou a arma da cintura. – Por favor...

– Foi mal. – Destravou a arma e apontou para a cabeça do menino que chorava ainda mais.

Mark assistindo tudo aquilo deu um passo para trás, o garoto o encarou com o rosto molhado e desesperado. Os olhos castanhos brilhavam por causa das lágrimas enquanto suas mãos sujas se juntaram na frente do rosto para se proteger, mesmo que fosse inútil.

– Por favor...– A mulher se ajoelhou enquanto chorava desesperadamente. – Não faça isso, por favor...

Aqueles olhos, aquele maldito olhar. Mark rangeu os dentes e fechou os punhos com força ouvindo as súplicas do rapaz.

– Não faça isso! – Mark encarava as orbes da mulher que chorava. – Mark!

– Mark? – Quando se deu conta já segurava a mão de Jeno, que o olhava de modo surpreso. As lágrimas que se formavam no canto dos seus olhos perderam a força e nem sequer chegaram a cair. Afastou a arma da cabeça do rapaz e suspirou ainda encarando o amigo que não estava entendendo nada.

Quando voltou a observar o rapaz ele o olhava de forma assustada, as lágrimas ainda escorriam porém ele parecia mais calmo.

Aqueles olhos...

– Deixa que eu cuido dele. – Ditou para o loiro antes de pegar o garoto pelo braço e o arrastar para dentro de casa.

...

Assim que adentrou o seu quarto jogou o rapaz na cama vendo o mesmo se sentar e o encarar com os olhos arregalados. Passando a mão pelo rosto pensou em tudo o que estava fazendo, o garoto se encolheu e abraçou o próprio corpo, que ainda estava descoberto, quando viu Mark caminhar de um lado para o outro enquanto resmungava algo.

– Merda...– Bufou voltando o olhar para o garoto.

Caminhou até o seu armário e de lá tirou uma jaqueta comprida e quente que gostava. Voltou até o rapaz e passou a vestimenta por seus ombros. O garoto o encarou com os olhos marejados enquanto se cobria ainda mais. Mark apenas o encarou por alguns segundos até que se afastou e caminhou até a porta.

– Fique aqui. – Disse antes de sair do cômodo.

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