1. Amanda

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Acordei com aquela sensação incrível do corpo totalmente relaxado, sem um pingo de cansaço. Abri os olhos, me espreguiçando devagar. Eu não tinha fechado a cortina por completo, então os raios de sol entravam pela janela, derramando seu calor no quarto. Ouvi o canto dos passarinhos e pensei que essa era uma boa manhã de sábado para dar uma volta de bicicleta no lago. Olhei para o lado esperando encontrar o Luca enrolado nos lençóis, mas vi que estava sozinha... Ué, cadê o Luca? PUTAQUEPARIUAMANDA, HOJE É SEXTA AINDA!

Peguei meu celular e vi o horário sem acreditar: 9h! Cadê a merda do meu despertador? Pulando da cama, atirei a blusa na bancada do banheiro e entrei no chuveiro em menos de dois segundos. A água gelada me deu um arrepio e eu quis recuar, mas não tinha tempo a perder. Logo na última semana de aula eu me atrasando assim, que nem uma adolescente no colégio! Tem coisas que nunca mudam mesmo...

Saí do banho com o cabelo encharcado, me sequei de qualquer jeito, enfiei uma calça jeans e uma camiseta e peguei minha bolsa. Desci as escadas do prédio correndo – sem tempo pra esperar o elevador! -, subi na bicicleta e, entre uma pedalada e outra, desembaracei meus cabelos com os dedos. Depois de quase ter caído umas três vezes, cheguei no campus, amarrei a bicicleta e, enfim, tive coragem de olhar o relógio: 9h25. Ufa, ainda tinha 5 minutos até a aula de Escrita Criativa III.

Mesmo assim, não dava para bobear, o campus era enorme e eu precisava me apressar. Andando o mais rápido que minhas pernas curtas me permitiam, sem correr, já que eu não queria pagar mais esse mico, atravessei o campus da faculdade, me xingando imensamente por ter perdido a hora logo hoje.

Só faltava essa semana de faculdade. Já tinha entregado todos os trabalhos e só precisava fazer mais uma prova - um último exame que ia começar em 5 minutos. E agora eu estava chegando totalmente desarrumada e desconcentrada. Senti uma dor no calcanhar e percebi que, na correria, eu esqueci de calçar uma das meias e o tênis estava assando a minha pele. Que patético.

Finalmente, entrei no corredor que levava para a sala três e, quando eu estava quase lá, a porta começou a fechar. Nããããão, pensei, esquecendo todo o meu orgulho e correndo aqueles últimos metros. Por fim, minha mão alcançou a maçaneta e eu empurrei a porta com força trombando imediatamente com ele.

- Senhorita Amanda. Bom dia.

Respirei fundo, tentando recuperar o fôlego e senti aquele cheiro que mexia com todo o meu corpo. Eu nunca tinha estado tão perto dele e encarei sua camisa por mais alguns instantes até erguer meu olhar para aqueles olhos cor de mel.

- Eu... Bom dia, professor. Me perdoe – consegui balbuciar.

Mortificada, percebi que, no nosso encontrão, eu coloquei minha mão para frente e ela repousava ali na barriga dele.

- Ahn, me perdoe – disse novamente, tirando a mão o mais rápido que pude e me dirigindo para o fim da sala.

Que desastre, pensei, sem conseguir levantar os olhos da mesa. Ainda bem que nenhum dos meus amigos faz essa aula, porque essa entrada, com certeza, foi um dos momentos mais ridículos que eu protagonizei.

- A questão está no quadro. Por favor, respondam em duas páginas. Antes de saírem, passem aqui que eu vou entregar o trabalho final que vocês fizeram na semana passada – anunciou o professor Marco, sentando-se na cadeira atrás de uma grande mesa de madeira, no início da sala.

Li a pergunta no quadro tentando não deixar o meu olhar teimoso ser atraído pelo homem atrás da mesa. Mas, infelizmente, no meio da frase, eu acabei reparando que o professor Marco estava com a barba por fazer e eu sempre o preferia assim... Agora ele lia um livro que eu não conseguia ver a capa, pois estava apoiado na mesa. Usava uma camiseta de linho branca e eu lembrei que há poucos minutos eu tinha encostado naquela barriga e nem aproveitei para verificar se era do jeito que eu imaginava...

Amanda, doce obsessão | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora