12. Marco

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A foto da Amanda me deixara feliz e confiante, mas aí eu cheguei ao capítulo dez. E, de repente, eu entendi que eu me precipitara... Era o spoiler do livro! Que idiota! Eu achei que era um flerte... Mas, mesmo assim, a foto de hoje não era inocente... Ou era? Tirei o meu celular e encarei aquela pele lisa, o livro cuidadosamente posicionado... Com certeza, a minha foto era mais agressiva, eu estava sem camisa, mas a dela...

Fechei o celular irritado. Eu precisava admitir que errara. Pediria desculpas, sem deixar o assunto morrer. Afinal, ela ainda estava sendo simpática. Digitei a resposta: - Já li e gostei. Depois me conta o que está achando...

Depois, tirei uma foto do capítulo 10 e mandei: - Agora eu entendi aquela msg do spoiler. Me perdoa?

Nesse momento, meu telefone tocou. Sim, o telefone fixo. Imediatamente, revirei os olhos. Detesto telemarketing. Larguei o livro de lado e, cruzando a sala em poucos passos, atendi pronto para ouvir uma música insuportável.

- Senhor Rossi?

Droga, sabem meu nome.

- Sim? Quem está falando?

- Desculpe incomodá-lo neste sábado. Aqui é o Delegado Assis.

Assis. Merda.

- Delegado Assis – repeti. Senti minhas pernas fracas e me sentei desajeitadamente em cima do rack.

- O senhor está sozinho? Senhor Rossi?

- Pode falar, Assis.

- Marco, por favor. Será melhor se estiver com alguém.

- Sei muito bem que só tem um motivo para você me ligar, Assis.

- Sim...

- Ou vão arquivar o caso. Ou vocês encontraram algo.

- Marco. Escute. Pode não ser nada, mas sabe que preciso informá-lo de que vamos fazer o teste.

- Mais um teste...

- Mais um teste. E o resultado pode ser o mesmo. Pode não ser ela.

- Sim, não vai ser ela... Como sempre. Nunca é ela, Assis! – Senti aquela raiva crescente tomando conta de mim e quando vi já estava gritando. – Nunca é ela! E vocês sempre me ligam! E reabrem o caso todo! E me pedem mais depoimentos. E NUNCA, NUNCA é ela! Nunca!

- Marco, por favor...

- Não! Sem essa de "Marco, por favor"! Você queria me avisar? Estou avisado! Faça o teste! Faça o que quiser! Quem é dessa vez? Hein? Mais uma drogada? Mais uma mulher cheia de marcas? Quantas vezes eu preciso dizer que ela não era uma drogada? Hein?! Quantas vezes até vocês acreditarem em mim?

- Marco. Me escute...

- Já chega. Me ligue quando tiver alguma informação, mas não para isso, está bem? Não para isso!

- Marco, nós vamos reabrir o caso. Seja razoável. Sabe o que vai acontecer. A imprensa vai te procurar, Marco. Você sabe disso. Eu te aviso, porque eu sei disso, Marco. Eu sei.

- Bom... Eu não tenho nada a declarar.

- Eu sei, Marco...

Ficamos em silêncio por alguns momentos, minha respiração pesada contra o telefone. Achei que ele fosse desligar, mas ele não fez isso. Fechei os olhos com força.

- Obrigado, Assis. Obrigado por me avisar – eu disse, voltando à razão. – Quem é ela?

- Um corpo encontrado em um local abandonado. Apenas ossos. A idade bate, o porte também.

- Sei...

- Uns adolescentes andavam por ali... Um deles tinha um cachorro. O cachorro entrou no lugar, enfim, você sabe como essas coisas são.

- Eu sei, Assis. Eu sei. Obrigado. E, me desculpe, eu...

- Não, cara, nem fale isso. Tudo bem, cara.

- Tudo bem, então... Até logo.

- Você sabe, Marco, eu gostaria de poder dizer que eu vou resolver esse caso, cara. Mas não vou dizer isso para você.

- Eu sei.

Quando eu desliguei, minhas mãos tremiam. Ainda eram 10h da manhã, mas eu decidi que era hora de um drinque. 

Amanda, doce obsessão | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora