7. Amanda

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Eu ainda estava com a boca cheia de macarrão quando o Luca se levantou do nada. Fiquei olhando para ele, achando muito estranho, enquanto ele agradecia aos nossos pais por estarem com a gente naquele fim de semana.

Ué, gente, qual a novidade?, pensei.

Me servi de mais um bocado de espaguete e vi minha mãe me olhando com cara feia, indicando o Luca com a cabeça. Larguei o pegador de macarrão e comecei a prestar atenção no seu discurso:

- .... vocês sempre estiveram presentes em nossas vidas, minha e dos meus pais, e é uma grande alegria estar com vocês aqui hoje. Nesse dia especial. Como vocês sabem, hoje foi o último dia de aulas de Amanda.

Gente, que fofo, ele lembrou, pensei.

- Gostaria de propor um brinde à formatura de Amanda e a novos começos.

Peguei minha taça e me levantei para brindar, mas o Luca se abaixou.

Alguma coisa caiu?, pensei.

Olhei para ele disposta a ajudar e - para o meu horror - ele estava ajoelhado. O QUÊ?

- Amanda, você sempre fez parte da minha vida. Desde que eu me entendo por gente, nós estamos juntos. E hoje eu sinto que estou pronto para que você seja verdadeiramente parte da minha família – começou ele.

COMOÉ?

- Eu te amo.

- Eu... Eu também te amo – respondi. ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO, pensei, mas estava. Luca colocou a mão no bolso e tirou uma caixinha. Meu coração começou a bater tão forte que doía.

- Vamos começar uma vida juntos. Você aceita se casar comigo?

Os olhos de Luca estavam úmidos, eu olhei para o lado em pânico e percebi que todos estavam chorando. Dona Rose estava lá, e também a sua filha Manuela, e seu marido José, e até os cachorros tinham aparecido. Meus pais sorriam como dois bobos, meus sogros se abraçavam, e eu não sabia o que pensar. O Luca continuava ajoelhado e aí eu olhei do rosto dele para a caixinha e vi um anel com o diamante mais lindo que eu já tinha visto em toda a minha vida, mas eu não estava conseguindo raciocinar e a minha única vontade era de sair correndo.

- Amanda? – Luca me chamou, rindo e chorando, e todos riram juntos. Menos eu. Eu tenho 21 anos, pensei. Eu ainda nem fui à minha festa de formatura... Como assim?

- Sim – respondi, automaticamente. E sorri. E beijei o Luca. E ele colocou o anel no meu dedo. E todos aplaudiram. Depois, abracei todo mundo, meu rosto vermelho que nem um tomate, e senti tanto calor que tirei o suéter que eu estava usando. Eu sabia o que fazer. Todo mundo sabe o que fazer. Quantas vezes eu já vi essa cena? A menina é pedida em casamento, ela aceita, beija o noivo, e todos vivem felizes para sempre. Mas eu não conseguia parar de pensar que eu só tinha 21 anos! 21 anos! E eu não estava pronta para me casar! Eu nem sabia o que eu ia fazer na minha vida!

O Luca estava tão feliz e meus pais também, e meus sogros, todo mundo falando ao mesmo tempo sobre madrinhas, daminhas de honra, e quem convidar. Rose disse que a festa precisava ser na casa do lago e todos concordaram, e Giovanna começou a dizer que a cerimônia poderia ser a céu aberto no jardim. Comecei a suar ainda mais e achei que fosse passar mal, então pedi um minutinho para ir ao banheiro.

Saí correndo pelo corredor, bati a porta e me apoiei nela como se alguém pudesse abrir a qualquer momento. Era um banheiro imenso, com duas pias, banheira, bem típico de uma casa do interior. Me apoiei na pia, me observando no espelho. A vermelhidão do rosto se espalhara pelo meu corpo. Eu usava um vestido vermelho xadrez com um laço preto no pescoço e agora me sentia totalmente sufocada. Desfiz o laço, abri a torneira e passei a água gelada na minha nuca e no meu rosto, tentando respirar.

Com as mãos tremendo, desbloqueei meu celular com a intenção de ligar pra Samantha urgentemente, mas vi uma mensagem do professor Marco. A foto de um livro. Eu já tinha lido esse livro, era Floresta de Pinheiros, um suspense incrível e – que coincidência – se passava em uma casa do lago exatamente como essa! Me lembrei que eu lera aquele livro quando estava ali, há menos de um ano, e a semelhança com a casa me fizera morrer de medo. E no capítulo 10 tinha uma passagem assustadora em que o assassino observava a protagonista de uma janela que nem essa à minha frente enquanto ela tomava banho de banheira...

- Sim! Já chegou no cap. 10? – perguntei.

Imediatamente, ele respondeu: - Ainda estou no cap. 5...

Tirei uma foto da banheira, com a janela ao fundo e mandei pra ele com a mensagem: - Spoiler do que vem por aí...

Depois, abri a conversa com a Sam, mas chamou, chamou e ela não atendeu. Droga. Tentei Natália, nossa amiga desde os tempos do colégio, mas também não atendeu. Inferno! Nessas horas, eu queria ter uma irmã.

Avaliando que não poderia ficar nesse banheiro o resto da noite, saí e voltei para a comemoração, me sentindo uma farsa. Todos estavam felizes por nós, mas eu só conseguia sentir que eu não queria nada daquilo, que eu estava em um pesadelo estranho, pedindo para acordar.

Quando todos se recolheram, fui para o quarto e coloquei meu pijama. Luca entrou com uma garrafa de champagne e duas taças. Eu pensei que aquilo não era uma boa ideia, afinal eu já tinha me enchido de vinho só para sobreviver até o fim da noite. Minha cabeça pesava e eu quase levei um tombo quando tirei o vestido. Mas então, lembrei de Sam e Nat, curtindo a vida por aí e pensei: quer saber? Que se dane.

Amanda, doce obsessão | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora