5. Amanda

5.5K 760 257
                                    

Finalmente, a conversa sobre consultas, pacientes e doenças mudara de rumo, mas não tomou um caminho muito melhor para mim. Era a hora de debater o futuro da Amanda. Aparentemente, estavam todos com grandes expectativas, já que eu iria me formar agora. A festa oficial de formatura era só dali a algumas semanas e eu falei para os meus pais que só ia pensar nos próximos passos depois disso.

Mas, pelo jeito, eles se esqueceram ou ignoraram mesmo, porque estavam todos muito preparados para debater sobre o meu futuro. Eu tentava não dizer nada, estava dedicada a fazer a enigmática, mas de repente, Luca disse algo que me tirou do meu personagem.

- O que tem para ser definido? Amanda não vai trabalhar na escola?

Oi?, pensei. Que escola?

- Como assim, Luca? – perguntei, já irritada.

- Ué, Amanda. Seus alunos, a escola onde você faz estágio...

- Luca, eu saí dessa escola há dois meses... Era um estágio temporário...

- Ah, verdade...

Eu percebi naquele momento que ele não tinha a menor ideia do que eu estava falando. É claro que eu falei que eu estava saindo da escola. Ele esqueceu? Eu tenho certeza de que postei no Instagram... Peguei meu celular, dei um scroll no meu perfil e achei a foto: eu, rodeada de crianças e um textão de despedida. Mas o Luca não curtiu. Aliás, acho que o Luca não curtiu nenhuma das minhas fotos recentemente... Estava concentrada nessa investigação, quando uma mensagem subiu:

Marco Rossi: - Tudo bem?

- Amanda? – Luca olhava para mim e percebi que ele fizera uma pergunta, mas eu não ouvi.

- Perdão?

- E você vai procurar outra escola?

Merda, Luca. Eu não queria falar sobre isso com meus pais. Mas agora não dava para fugir.

- Na verdade, estou enviando algumas inscrições para trabalhar no ramo editorial.

- Ramo editorial?

- É, de livros...

- Amanda, isso não é profissão...

- Claro que é, papai!

- Ela quer ser paga para ler livros... Veja só!

- Não é só isso, papai! Tem muito trabalho...

- Ora, mas para que tanto alvoroço, Amandinha? – perguntou Leonel, meu sogro. – Amanda precisa de um emprego? Pois, a dona da escola é a Marita, prima de Giovanna. Considerem feito!

- Mas...

- Oh, Leonel! Você não existe! – disse mamãe.

- Ora, Mônica, não é nada. Amanda é uma ótima menina, vai ser uma excelente professora – disse Giovanna, minha sogra, meu pavor crescendo cada vez mais. – Aliás, a Marita comentou comigo que adorou a Amanda.

- Amanda, não seja mal-educada, agradeça Leonel e Giovanna – mandou meu pai, se levantando para abraçar Leonel.

De repente, todos eles estavam falando ao mesmo tempo, se abraçando e brindando com vinho, eu me senti subitamente tonta e bebi um longo gole, tentando me recuperar. Nesse momento, Luca me abraçou e falou no meu ouvido:

- Estou muito feliz, Amanda. Nossas vidas estão começando.

Fiquei emocionada com essas palavras, confesso, mas ao mesmo tempo estava com raiva, porque eu não queria trabalhar na escola. Eu amava as crianças, e amava dar aulas, mas eu queria trabalhar com livros, com histórias. Mas todos pareciam tão felizes e eu não quis acabar com o clima. Decidi que deixaria para resolver esse assunto no dia seguinte. Sorri educadamente e tomei mais um gole de vinho.

A dona Rose chegou carregando uma travessa imensa de macarrão carbonara, exalando o cheiro mais incrível da vida.

- Seu favorito, Amandinha – ela disse com delicadeza. Eu me levantei e dei um beijo na sua bochecha. Era tudo que eu precisava!

Enquanto todos se serviam, e eu esperava ansiosamente, abri o whatsapp e respondi:

- Tudo sim e c vc?

Amanda, doce obsessão | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora