8. Marco

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Quando eu recebi aquela foto, não acreditei. Sabia que os jovens mandavam nudes por nada! Mas na primeira mensagem, eu já ia receber um nude? Fiquei nervoso, pensando o que eu deveria responder. Eu só espero? Eu mando uma também? Enquanto esperava, imaginei que, talvez, ela me enviasse uma foto tomando banho. Ela estava em um banheiro e me mandou uma foto da banheira, mas esta ainda estava vazia. Ela estava esperando a banheira encher? Quando ela mandasse, eu teria que responder. Desesperado, percebi que eu não tinha um nude. Eu nunca tinha nem feito um nude. Marco, onde você se meteu?

Equilibrando o copo de vinho em cima do livro, apontei o celular pra mim mesmo, mas logo me senti tolo. Não tem nada aqui pra mostrar. Estou sem camisa, tudo bem... Mas isso basta? Depende do que ela mandar... Apontando a câmera para mim, fiz uma tentativa. Eu sabia que em nudes não se mandava o rosto. Até eu não era assim tão tonto. Por isso, tirei uma foto do meu abdômen, minha perna esquerda ligeiramente aberta, com o livro em cima e a taça de vinho apoiada. Fiquei olhando aquela foto tosca pensando se isso valeria a pena...

É claro que valeria a pena, Marco, não seja idiota, pensei. Você está há quatro anos que nem um idiota, de quatro por essa garota. Desde que você viu a garota pela primeira vez e depois a cada maldita aula, sempre com um vestido mais curto que o outro. Quantas vezes eu não xinguei a faculdade por não ter uniforme? Não era culpa da universidade. Não era meu perfil ficar gamado em aluna, era só essa aluna. Só tinha sido essa aluna em 10 anos como professor. Na verdade, só essa mulher há mais de 10 anos. Desde Laura.

Me sentindo culpado, me levantei e fui até a lareira onde, ali em cima, estava aquela foto, a última foto exposta com Laura, que eu não conseguia me desapegar. Ela estava tão feliz. Foi no dia do nosso casamento. Ela usava um vestido salpicado de pérolas e uma coroa de flores bem hippie nos cabelos negros. Nós dois dançávamos descalços na grama. Foi no fim da festa. Atrás, nos observando, Guido gargalhava de alguma piada do meu tio Carlos, que hoje já faleceu.

Até ali, naquela foto do nosso casamento, éramos sempre nós três: eu, Laura e Guido. Fomos amigos inseparáveis desde crianças. Eventualmente, me apaixonei por Laura, lá pelos 17 anos. Na época, tivemos medo de que Guido ficasse chateado, já que éramos um trio, mas não. Nunca. Ele sempre esteve lá. Mas, agora, eu mal falava com ele. Me sentia culpado por isso também.

Por Laura, me sentia culpado por estar apaixonado. Há quatro anos, eu sentia o peso de gostar de outra mulher, querer estar com outra mulher do jeito que eu desejava estar com Amanda. Até por isso, precisava admitir, demorei tanto para tomar uma atitude. Não era apenas o fato de ela ser uma aluna. Eu precisava lidar com essa culpa primeiro.

Depois, por Guido, sentia a culpa por ter me afastado tanto. Ele não era culpado de nada que acontecera. Ele não tinha culpa de reacender tantas memórias. A culpa era minha, apenas minha.

E, finalmente, por Amanda. Ela é jovem, alegre, leve. Tem tantos sonhos pela frente e eu aqui, deprimido e solitário, querendo tirá-la do conforto da sua vida para trazê-la para a minha. Eu refleti muito antes de fazer isso. Foram quatro anos refletindo diariamente sobre cada questão. Mas eu tenho 35 anos. Eu não sou um velho de 90 anos. Eu tenho muita vida pela frente e posso falar isso com tranquilidade, porque meus avós estão vivos até hoje. Eu não quero viver nessa solidão para sempre. Eu não aguento mais viver nessa solidão.

Determinado a afastar esses fantasmas e em um momento de clara resolução, peguei o celular e mandei a foto com a mensagem: - Mal posso esperar.

Amanda, doce obsessão | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora