Eu estava na sala de aula e o professor Marco me encarava com aqueles olhos absurdamente sensuais. Eu sempre tinha essa sensação de que ele estava olhando para mim, prestes a me chamar atenção por alguma tolice. De repente, percebi que a sala estava vazia e só tinha eu ali. Me aproximei dele para devolver a prova, e ele estendeu um trabalho final.
- Então, a mocinha se casa no final, senhorita Amanda?
- Ahn, sim, professor... – respondi, encabulada, enquanto ele tirava os óculos lentamente.
O professor Marco se levantou e caminhou até mim, se apoiando na mesa da sala.
- Só me prometa que não vai se casar antes de terminar seus estudos, está bem?
- Ahn, de modo algum professor. Eu jamais faria isso... É só uma história.
Meu olhar se desviou para a boca do professor Marco, aqueles lábios, aquela barba... Ofegante, me aproximei, encostando a mão na sua barriga, deslizando os dedos devagar até o botão da sua camisa, sentindo, finalmente, como ele era...
Acordei com aquela sensação horrível de garganta seca, como se eu tivesse engolido o giz da professora do colégio. Ai, Amanda, mais um sonho com o professor Marco, até quando?
Cambaleei para fora da cama, e fui para o banheiro, percebendo que estava nua. Dei um sorriso lembrando da noite passada, quando Luca entrou com aquela garrafa de champagne e fez coisas comigo que não fazia há muito tempo... Me sentei para fazer xixi, ainda rindo, mas quando olhei pra minha mão vi aquele anel ridiculamente grande no meu dedo. Ahnãoahnãoahnãoahnão, eu estou noiva.
As imagens da noite anterior foram retornando como um filme à minha mente. O emprego na escola. O brinde. Luca ajoelhado. Meus pais comemorando. Meu pânico foi crescendo e eu decidi que precisava sair daquele quarto o mais rápido possível. Silenciosamente, catei um vestido e uma calcinha na minha mala, o meu livro e o meu celular, abri a porta sem fazer nenhum ruído, e desci as escadas descalça mesmo.
Caminhando pela grama, encontrei minha árvore favorita, e me apoiei em seu tronco, tentando decidir o que fazer. Rodei o anel no meu dedo, admirando sua beleza, o brilho do Sol refletindo na sua pedra principal, um diamante imenso, e nas suas pedras laterais, dois topázios amarelos da cor dos meus cabelos.
Eu amava o Luca, não tinha dúvidas quanto a isso. Eu o amava muito antes de começarmos a namorar. Nós praticamente crescemos juntos. Porém, eu não esperava esse gesto. Não agora. Eu não estava pronta para nada disso. E, para ser sincera, há tempos o nosso relacionamento não era mais a mesma coisa. Eu já estava incomodada com tantas coisas. Por exemplo, ele não me tocava mais como antes. Ele não se esforçava tanto para me satisfazer. Eu sentia que, apesar de me conhecer tão bem, ele não sabia de muitas coisas. Ele não conhecia meus sonhos, minhas ambições. Sempre que eu tentava falar com ele sobre o futuro, eu ouvia um grande sermão sobre o consultório, o trabalho no hospital e como ele amava salvar vidas.
Eu sou filha de dois médicos. E estou rodeada de médicos. E não tem profissão que eu admire mais que a do médico. Mas eu jamais poderia ser médica. Principalmente, porque eu desmaio com a visão de sangue. Não é que eu desmaiei uma vez. Eu desmaio sempre. É patético. Desmaio para tirar sangue, desmaio se eu me machucar. Devo agradecer, é claro, por não acontecer toda vez que eu menstruo. E acho que jamais me acostumaria com uma pessoa me chamando de doutora! Dra. Amanda! Não consigo nem imaginar. Mas o problema dos médicos é que, às vezes, eles não sabem falar de outra coisa. E isso é um porre.
Rodando o anel no meu dedo, senti uma pontada de culpa por ter sonhado mais uma vez com o professor Marco. Toda noite era isso! Ficava pior quando eu tinha aula com ele, mas geralmente, toda noite, eu encontrava o professor Marco. Acho que sou uma tarada, não é possível! Lembrei que nesta noite, na verdade, foi uma lembrança. Senti meu rosto queimar lembrando daquilo. Quando eu ainda estava no primeiro período, ele pediu que escrevêssemos um conto. E eu fiz uma história bem fofa sobre uma menina que conhecia um menino e – grande surpresa – no final eles se casavam!
Não foi das histórias mais criativas, mas o professor Marco disse que se surpreendeu com meus diálogos e deu boas gargalhadas enquanto lia. Quando ele me devolveu o trabalho, ele falou exatamente a frase do sonho: "Só me prometa que não vai se casar antes de terminar seus estudos, está bem?".
Bem, professor, eu cumpri essa promessa. Terminei meus estudos, pensei, ainda rodando o anel no dedo. 8h da manhã é muito cedo para ligar para Sam? Não custa nada tentar...
Peguei meu celular e vi que tinha uma mensagem do professor Marco. Mal posso esperar?
Quando eu abri o whatsapp e vi aquilo, eu não acreditei. A barriga do professor Marco! A barriga do professor no meu whatsapp!!! Olhei para os lados, nervosa, mas o único ser vivo era uma cabra a mais de 50 metros de distância.
O professor Marco me mandou um nude. Bem, não era totalmente nude, mas mesmo assim. Tinha o que eu queria ver! O que eu acabara de sonhar, a barriga dele, do jeito que eu imaginara, definida, levemente contraída num sofá, a perna dele casualmente aberta... Gente, o que ele estava pensando?! De onde ele tirou essa ideia de me mandar um nude???
Subindo um pouco, comecei a reler a nossa conversa e... Ah. Não. Não, não, não... A culpa é minha. Eu mandei um pré-nude! Eu mandei um pré-nude sem querer! Que idiota!
Meu coração batia acelerado e eu não sabia o que fazer. O que responder? O professor Marco esperava um nude meu! Eu não tinha a intenção de mandar uma foto nude para ele! E o pior: quando ele chegasse ao capítulo 10, ele ia entender a minha mensagem... Coitado! Pobre homem!
Ele não sabe que eu sou tarada por ele! Ele não tem como saber isso! Ele vai se achar o mais idiota de todos os homens. Mas o que ele estava pensando? Um "Oi, tudo bem?" e uma foto de paisagem e ele já vai mandando uma foto dessas? Vou salvar no meu rolo da câmera antes que ele apague, pensei.
Bom, não foi bem de paisagem, foi uma banheira acompanhada da mensagem: "Spoiler do que vem por aí..." Em minha defesa, eu não estava raciocinando direito. Eu mandei três pontinhos... Parecia um flerte mesmo! Ai, que vergonha. E eu ainda teria que encontrar com ele na quinta-feira...
Mas, então, uma ideia louca surgiu na minha cabeça... Se eu respondesse mais alguma coisa nesse sentido... Será que eu receberia um nude real? E, se eu desse corda, na verdade, estaria fazendo um favor ao professor Marco. Era quase um ato de caridade. Ele não se sentiria tão tolo quando chegasse ao capítulo 10...
Coloquei o livro que eu estava lendo entre as minhas pernas e subi a barra do vestido o máximo que dava sem mostrar nada. Não dava para ver a minha calcinha, mas era quase. Não chegava a ser um nude, então, estava valendo. Tirei a foto e mandei com a mensagem: Hoje estou lendo esse. Já leu?
A verdade é que eu queria um nude real do professor Marco. Há quatro anos, eu sonhava com aquele homem. Todas as noites. E agora, ele me dava uma oportunidade... A situação com o Luca estava complicada. Mesmo amando cada detalhe daquele anel no meu dedo, eu sabia que o lugar dele não era ali. Nessas circunstâncias, para que dispensar o professor Marco agora?
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Amanda, doce obsessão | Degustação
RomanceHá anos, Amanda sonha com o enigmático professor Marco, mas nem imagina que sua atração é correspondida. Prestes a se formar na faculdade, ela já sente saudade das aulas em que mal conseguia prestar atenção, mas é surpreendida quando Marco faz um co...