( 07. conversa )
▍SARAH WINSTON ▍
O dia havia amanhecido frio. O sábado parecia tedioso e, por um momento, apenas fiquei na cama esperando o sono desanuviar dos meus olhos e eu ter coragem o suficiente para me levantar da cama. Respiro fundo, me espreguiçando e sinto todos os músculos do meu corpo reclamarem pela ação. Com desânimo, me lembro do jantar entediante com um amigo do meu pai e sua esposa na noite passada. Foi tão chato que uma hora apenas cansei de acompanhar o assunto e voltei meu olhar para o prato de comida, ignorando completamente o que era dito à mesa. Papai tentou me incluir na conversa, mas no fim apenas entendeu que não era empolgante o suficiente para ter minha atenção.
Olho para a parede de vidro, encarando a fina garoa que caía lá fora e o vento que balançava os galhos das árvores de um lado para o outro. De repente, me vejo pensando na tarde de ontem. Pensando em Paul Lahote. Coloco a mão em frente a boca, pensativa, enquanto vejo as gotas de água deslizarem pelo vidro. Fecho os olhos, lembrando de seu esforço para aprender os sinais, de como ele parecia interessado e de seus flertes óbvios e certeiros.
Queria poder ouvir sua voz, a curiosidade me consumindo. Será que é rouca? Suave? Baixa, alta? Esganiçada? Respiro fundo, afundando mais ainda a cabeça no travesseiro. Tinha que parar de me chatear com coisas que estão fora do meu alcance.
Finalmente tomando coragem, me levanto da cama e começo meu dia. O café da manhã com papai e mamãe foi calmo como sempre. Papai perguntou sobre meu estudo, eu disse que estava indo tudo bem e avisei mamãe que iria para a praia. Dessa vez, ela não pareceu contrária a ideia: muito pelo contrário. Talvez o choque de ter me visto tocando depois de tanto tempo tenha feito ela perceber que sair era bom.
Quando dá o horário do almoço, peço para Violet, a cozinheira, preparar alguns sanduíches para viagem e subo para o meu quarto. Tomo um banho rápido, sem lavar o cabelo, e entro no meu closet para procurar uma roupa que seja bonita e quente. Pego uma calça-jeans preta de cintura alta, uma camiseta branca e um suéter bege. Escolho o sobretudo preto e, por fim, pego uma bota estilo coturno na cor preta.
Vestida, me olho rapidamente no espelho, gostando do que via no reflexo. Deixo meus cabelos soltos e, para prevenir, pego uma touca, logo descendo as escadas para a cozinha, pego meu lanche rapidamente e depois vou a caminho de La Push.
Dirijo devagar pelas ruas, sempre atenta aos retrovisores. Minha atenção ao dirigir dobrou desde o acidente, o medo junto a insegurança de não ouvir o trânsito. Era perigoso. Mamãe havia concordado com minha escolha e por muito tempo fiquei sem colocar os pés dentro de um carro, e só tirei minha carteira de motorista ano passado, com dezessete anos. Mas as ruas de Forks eram calmas e, quando havia outros carros na pista, todos eles andavam de maneira calma, como se não tivessem pressa de seguir seu destino. Quando chego na praia, estaciono o carro e decido não sair, pelo menos por enquanto.
Estava garoando e odeio tomar chuva.
Pego meu celular no bolso, vendo as horas e confirmando que tinha chego no horário combinado. Com tédio de ficar esperando, abro um joguinho e me concentro naquilo por um tempo, esperando por Paul Lahote.
▍PAUL LAHOTE ▍
Observo o carro preto estacionar e, por um momento, hesito de sair das sombras da floresta. Fico apenas observando Sarah, seu cabelo loiro tão claro que parece branco e modo como ela parece concentrada no celular à sua frente. Bufo, surpreso pela forma que de repente Sarah se tornou o centro do meu mundo e de todos os meus pensamentos.
Se transformar se tornou uma droga, já que a todo instante vinha um engraçadinho falar sobre ela. Jared, Embry e Sam vasculhavam meus pensamentos como os malditos fofoqueiros que era e agora eu tinha que aguentar Jared fazendo o sinal de "você bonita" toda hora apenas para me zoar. Emily era a única que estava realmente ajudando em algo. Depois de Sam dizer à ela que Sarah não podia ouvir, ela se comprometeu a me ensinar a ASL, já que havia aprendido com uma colega de escola que também era surda.
Suspiro, me lembrando como era difícil pra porra aprender com Emily tentando me ensinar, mas com Sarah simplesmente acontecia. Sua voz era doce, enquanto seus movimentos eram lentos e calmos. Aliás, tudo nela parecia lento e calmo. Como as águas de um lago.
Merda, desde quando me tornei tão piegas?
Finalmente me decidindo, saio da floresta e caminho a passos rápidos até o carro, não querendo me molhar demais na chuva fina que caía. Bato duas vezes na janela do carro, mas Sarah continua concentrada em seu jogo. Porra. Ela não escuta. Como caralhos eu quero que ela ouça a porra da batida no vidro? Respiro fundo, tentando procurar uma forma de chamar a atenção dela e, ao ver o pino da porta do passageiro aberta, contorno o carro e abro a porta, me sentando ao seu lado e coloco a mão em seu braço.
Ela sobressalta, jogando o celular para cima em um pulo assustado e, divertido, escuto pela primeira vez um palavrão sair de sua boca.
— Puta merda, Paul! — Ela esbraveja, sua voz saindo algumas oitavas mais alto do que realmente era e não consigo controlar o riso que me sobe à garganta.
— Você deveria ficar mais atenta com as coisas ao seu redor. — As palavras apenas sai, com uma pontada de preocupação. Droga, e se fosse algum sanguessuga aqui? Ou um humano qualquer, querendo fazer alguma coisa com ela? Sarah devia prestar mais atenção as coisas ao seu redor, e não apenas se desligar de tudo focando em apenas uma coisa. — Poderia ser um ladrão, e não eu. Tem que tomar cuidado.
Ela assente, mordendo os lábios e o movimento chama minha atenção. Sua boca é rosada, sem usar batom ou aquelas merdas de maquiagem. Sarah tinha uma beleza natural e encantadora e, porra, ela era a tão delicada que parecia uma pétala de flor.
— Me assustou. — Ela diz, suas mãos involuntariamente fazendo os sinais. Apontando para si mesma primeiro e depois espalmando as duas mãos em frente ao torso, as palmas viradas para seu corpo enquanto encontrava as mãos no centro, uma acima da outra.
Fecho meus dedos da mão, deixando o dedão para fora e levo ao centro do peito, fazendo movimentos circulares. Desculpa.
Sarah sorri, seus olhos se fechando minimamente enquanto tomba a cabeça para o lado. Parece feliz e, por um momento, sinto que isso pode dar certo.
Sinto que ela pode acalmar a merda dentro de mim.
*×*
[ n o t a s ]
dois capítulos em uma única semana! que maravilha, não?
muito obrigada por todo carinho que estão dando à Eutony.enfim, até o próximo na semana que vem! beijinhos.
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𝐄𝐔𝐓𝐎𝐍𝐘, 𝑡𝑤𝑖𝑙𝑖𝑔𝘩𝑡
Fanfiction༉‧₊˚✧ 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐄𝐑 𝐀 𝐀𝐔𝐃𝐈𝐂̧𝐀̃𝐎 foi o pior baque na vida de Sarah Winston. Logo ela, apaixonada por música desde tenra infância, perdera o dom de ouvir após um acidente de carro. Fora uma fatalidade. Compadecidos pela dor da jovem musicist...