aviso: gatilho de crise de ansiedade. caso você seja sensível a isso, favor pular para o fim da narração da Sarah. preze pela sua saúde mental, neném!
( 14. assustada )
Giro o volante, encostando o carro no acostamento da estrada que ligava La Push a Forks e tiro o cinto de segurança, minha respiração descompassada e todo o meu corpo tremendo. Tento contar até dez, sentindo o desespero do ar não entrando nos meus pulmões, mas tudo o que consigo fazer é me alterar ainda mais. Ofego, me jogando para o banco de passageiro ao meu lado e procuro meu celular.
Não consigo ver nada à minha frente, as letras parecem confusas e agitadas então, entre repuxos de ar, acho o número de mamãe e faço uma chamada de vídeo. Sinto meu corpo todo tremer, meu peito doer e a sensação é que nunca ia parar.
Sinto as lágrimas saírem antes de perceber que o choro estava próximo. Conseguia ouvir um som único e estridente, como um microfone perto de mais da caixa de som, dando interferência, e sabia o que era aquilo.
Aquele único som, que eu ouvia com frequência desde o acidente.
Olho para a tela, desesperada por mamãe estar demorando para atender quando seu rosto aparece, preocupado.
— Sarah. Sarah, o que aconteceu, filha?! Sarah?! — Vejo seus lábios se moverem, assustados, mas não consigo juntar as palavras na boca. Meu cérebro ocupado demais em raciocinar o que Paul havia me dito.
Amor à primeira vista.
Descendente de lobos.
Você é o meu imprinting, Sarah.
Coloco a mão no peito, sentindo as pontadas buscas e que faziam meu corpo balançar. O corpo reclamando pela falta de ar, enquanto eu rodava aquela cena milhares e milhares de vezes na minha cabeça.
Jacob e Paul como lobos lutando entre dentes e garras. Vampiros. Paul. Paul.
Meu relógio começa a vibrar incontáveis vezes e olho para tela do celular, encontrando mamãe no carro, parecendo desesperada enquanto chama pelo meu nome. Por que liguei para ela? Como eu explicaria tudo isso?
— Estou indo até você, Sarah. — Ela diz, dividindo a atenção do volante para o celular. — Me diga onde está. Por favor, filha, fala comigo.
Eu adoraria falar. Mas minha língua parecia pesada, minha boca seca e de repente me vi incapaz disso. Incapaz de muita coisa.
Com dificuldade, faço os gestos mais mentirosos que há na ASL. Minha mão treme, gesticulando eu estou bem para mamãe, que não parece convencida. Puxo o ar, tentando fazer com que ele vá até meus pulmões e continuo, dizendo para ela não se preocupar. Carro. Ansiedade. Eu estou bem.
Ela para. Me olha com atenção, os olhos claros me checando como a mãe protetora que era e sinto o ar voltando para mim, a crise aos poucos se aquietando, deixando apenas o sentimento pavoroso de estar perdida.
Era uma mentira boa. Culpar meu trauma com carros, levando em conta que fiquei meses sem conseguir entrar em um depois do acidente. Mamãe não merecia que eu mentisse para ela, mas sentia que se contasse a verdade seria pior.
Ou ela me internaria ou iríamos embora de Forks. Ser taxada de louca ou ficar sem Paul.
Paul. O grande lobo idiota que havia dito que eu era a droga da companheira dele. Eu, a surda que não conseguia lidar com uma conversa sem se perder no assunto, porque simplesmente não conseguia acompanhar todas as bocas.
— Quer que eu vá até você? — Mamãe pergunta quando vê que aparentemente eu estava melhor. Aceno que não, desesperada por ficar sozinha. — Venha para casa.
Assinto. Mais tarde.
Desligo a chamada, jogando o celular no painel do carro e me recosto no banco, tentando me recuperar da pior crise de ansiedade que tive em meses, sentindo meu peito doer e minhas mãos tremerem.
Eu tinha fugido. Rio, irônica, ao pensar que foi exatamente a mesma coisa que ele fez, quando nos vimos pela primeira vez. Ele fugiu de mim, mesmo sabendo sobre tudo o que imprinting era. Fugiu, quando percebeu que eu não era normal. Que demorei demais para falar, que demorei demais para entender o que ele falava.
Mas ele voltou. Paul voltou, e trouxe para a minha vida tudo o que havia sido perdido junto com minha audição. A vontade de estar viva, aquela luz ao acordar. O peito quente. A música.
Paul trouxe para mim tudo.
E junto nesse tudo estavam lobos, vampiros e uma ligação eterna que me atava diretamente a ele, sem direito de escolha ou qualquer coisa do tipo. Sem direito de escolha dele.
Ligo o carro, sentindo o motor tremer e manobro devagar, saindo do acostamento e seguindo o caminho para Forks.
Talvez Paul não me quisesse.
Por isso ele às vezes parecia tão... triste. As vezes que saímos, ele ficava quieto me olhando. Como se... estivesse em outro lugar. Fecho meus olhos, por alguns segundos, me lembrando também dos momentos que ele me olhava como se fosse uma divindade na Terra. Como se o simples fato de estar ao meu lado fosse o maior dos presentes.
Me sinto confusa e assustada, e faço a única coisa que sei fazer quando me sinto assim. Fico sozinha.
▍PAUL LAHOTE ▍
— Paul! — Ouço o grito de Sam mas o ignoro, a dor gritante demais para perceber outra coisa. Sinto meu peito doer, fazendo todos os músculos do meu corpo reclamarem quando a única coisa que consigo fazer é correr.
Correr para longe de La Push. De Forks. De Sarah. O lobo sendo a única coisa que me sustenta de pé, quando eu me sinto vazio. Como se tudo o que eu tivesse de bom, o pouco que me sobrou, fosse arrancado de mim sem dó nem piedade e então eu corro mais. Mais e mais. A floresta me cercando, os olhos azuis dela me assombrando. Sua voz. Sua risada. Seus gestos. Sua paciência. Sua compreensão. Sarah. Deixo um gemido sair e sei que o som ecoou pelas árvores como um choro sofrido, mas não me importei.
Para o caralho com tudo isso.
Por que achei, por que tive a ilusão de que ela ia ficar? Ninguém nunca ficava.
Eu não era bom o suficiente para se ter um motivo para ficar. Eu não era bom o suficiente para nada.
Eu não era bom para Sarah.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐄𝐔𝐓𝐎𝐍𝐘, 𝑡𝑤𝑖𝑙𝑖𝑔𝘩𝑡
Fanfiction༉‧₊˚✧ 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐄𝐑 𝐀 𝐀𝐔𝐃𝐈𝐂̧𝐀̃𝐎 foi o pior baque na vida de Sarah Winston. Logo ela, apaixonada por música desde tenra infância, perdera o dom de ouvir após um acidente de carro. Fora uma fatalidade. Compadecidos pela dor da jovem musicist...