( 09. sensações )
Paul parece constrangido quando respondo, e estranhamente isso me faz sorrir. Ele não parecia do tipo que frequentemente se envergonhava de algo, ou que ficar corado fosse uma coisa comum mas, ali naquele momento, Paul parecia apenas um garotinho curioso que acabou fazendo a pergunta que não deve.
Mesmo que, para ser sincera, ele não tenha feito nenhuma pergunta.
Era comum a curiosidade, os olhares demorados, a falta de compreensão com a deficiência auditiva de pessoas que não são próximas. Demorou um pouco, mas me acostumei, por que era a única coisa que eu podia fazer: me acostumar.
A senhorita ruiva logo vem, trazendo nossos pedidos, parecendo perceber que Paul não está querendo conversa com ela – pois, mesmo quando ela vem até nós, ele não desvia os olhos dos meus em nenhum segundo. Me repreendo por gostar disso, do olhar azedo que ela me lança, por que eu mal conhecia Paul, não tinha o direito de sentir qualquer coisa além de simpatia mas, estranhamente, lá estava eu. Sentindo ciúmes de uma pessoa que vi três vezes em toda a minha vida.
— Está com uma cara boa. — Falo enquanto olho o lanche posto no prato grande e amarelado. Era um lanche bem grande, que gritava colesterol alto e que, mesmo assim, implorava para ser mordido. Mordi meu lábio, pensando o quanto mamãe iria ficar brava ao me ver comendo uma comida tão... não saudável.
— Não só a cara. — Paul diz, pegando uma batata frita e mergulhando no copinho com ketchup. O olho com curiosidade, vendo o modo como ele parece à vontade ali. Ele come a batata, fazendo uma careta de satisfação e, quando vê meus olhos presos nele, levanta uma sobrancelha. — Você devia experimentar.
Assinto, olhando para o meu prato e, com um suspiro de chateação, lembro que pedi para retirar as fritas do meu lanche, com medo de comer porcaria demais.
Paul capta meu olhar e, em um instante, está mergulhando mais uma batata no ketchup, estendendo seu braço até mim e deixando a batata a centímetros da minha boca. O olho com o cenbo franzido, estranhando seu gesto abrupto e tão... íntimo.
— Por que está fazendo isso? — Não consigo refrear a pergunta, sentindo que o vão entre minhas sobrancelhas estava franzido em confusão.
Sinto dois toques na mesa, e levanto meus olhos da batata até Paul, vendo uma expressão divertida em seu rosto.
— Apenas abra a boca, Sarah. — Paul bufa, um sorriso no rosto.
Mordo o lábio, presa entre fazer o que ele pede ou não. Por fim, assinto, me curvando na mesa e aceitando a batata.
Não consigo segurar o gemido, enquanto fecho os olhos e fico presa no meu próprio mundo. Delicioso! Por um momento, julguei mamãe por me impor uma dieta saudável e longe de qualquer fast food ou fritura desde a infância, por que batata frita com ketchup parecia uma iguaria sem igual.
Abro meus olhos e, me pegando de surpresa, coro com o olhar que Paul tem sobre mim. Seus olhos escuros parecem brilhar com um brilho perigoso e, estranhamente, sinto todo o meu corpo se arrepiar.
Quando terminamos de comer, vou até o caixa pagar a conta e depois sigo até a porta. Já havia parado de chover, mas o tempo ainda úmido dizia que mais tarde choveria mais um pouco. Então, evitando areia molhada e uma chuva que pode vir a qualquer momento, mudamos mais uma vez nosso curso.
Entro no carro e espero por Paul, que pediu um minuto e depois entrou novamente na lanchonete. Olho meu celular, checando se não havia nenhuma mensagem e, perdida no meu silêncio, sobressalto com a porta abrindo e Paul entrando no carro, segurando dois copos de milk-shake.
No fim, ficamos ali. O estacionamento era grande o bastante para que pudéssemos ficar ali, no carro, sem atrapalhar os outros clientes que chegavam. Com atenção, li em seus lábios cada palavra que falou, e respondi cada pergunta que fez.
Sobre meus passatempos, sobre o que eu estava achando da cidade. Sobre como era morar em Londres e mais um monte de coisa, me fazendo o foco da conversa.
Mas, o observando falar, não consigo deixar que aquela dúvida antiga saísse da minha cabeça. Como é a voz de Paul?
Sinto minha mão coçar e, hesitante, a levo para meu colo. Presto atenção em suas palavras calmas, seus lábios se mexendo devagar para que eu possa acompanhar e, antes que eu consiga me controlar, minha boca me trai, trazendo meus pensamentos a superfície.
— Paul. Quero sentir você falando.
Ele para por um momento, me olhando aturdido e novamente seus olhos escuros brilham perigosos para mim. Seu corpo todo treme, e me pergunto se ele não está com frio, vestindo apenas a camiseta e bermuda.
— Sentir? — Repete, devagar, saboreando cada sílaba. Assinto, minha mão inquieta no meu colo. — Como assim, sentir?
Respiro fundo, já querendo desistir daquela ideia maluca. Dou de ombros, mordendo meu lábio e faço um gesto de desdém com a mão, pedindo para deixar para lá. Ligo o aquecedor do carro, me preocupando se ele estava sentindo frio mesmo, mas a palma de sua mão logo vem de encontro com meu pulso.
O choque de sua pele quente com a minha gelada faz todo o meu corpo se arrepiar e, aturdida, levanto meus olhos para ele.
— Sentir? — Paul repete mais uma vez e, com a respiração descompassada, assinto. — Se é o que quer, Sarah, faça.
Sarah. O modo como seus lábios pareciam saborear meu nome enquanto falava, me fez levantar a mão ainda hesitante.
Ele não recua, como achei que faria e, quando minha mão para no seu pescoço, acima de seu pomo de Adão, vejo seu peito subir e descer em uma respiração pesada.
Mordo meu lábio, erguendo meus olhos pare ele, vendo que já tenho toda a sua atenção.
— Fale algo, por favor.
Paul assente, depois de engolir em seco e respirar fundo mais uma vez.
— Gosto da sua voz. — Ele diz, devagar, e sinto a vibração grave em minha mão. Grossa. A voz dele era grossa. Os pelos do meu corpo se arrepiam e eu assinto, corada, o incentivando a continuar. — Quero sair com você de novo.
A vibração vem mais uma vez e eu sorrio pequeno, assentindo.
— Vai ser ótimo sair com você de novo.
Paul sorri, suas presas se sobressaindo no sorriso, dando um charme a mais. E não posso me impedir de sorri junto, pois cada parte de mim quer retribuir aquele gesto tão... bonito.
*×*
[ n o t a s ]
mais um capítulo pequeno. eu sei, é chato esperar por uma atualização e os capítulos serem pequenos mas, para ser sincera, esse capítulo aqui me pegou de surpresa.
estou com uma insônia maldita, e tudo o que pude fazer foi escrever.
estou sem Internet Wi-Fi em casa, então não sei quando vou atualizar outra vez, já que meu 3g parece que logo vai acabar.
mas é isso. a saga do primeiro encontro deles acabou. e agora as coisas vão começar a correr!
beijinhos, e até o próximo!
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𝐄𝐔𝐓𝐎𝐍𝐘, 𝑡𝑤𝑖𝑙𝑖𝑔𝘩𝑡
Fanfiction༉‧₊˚✧ 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐄𝐑 𝐀 𝐀𝐔𝐃𝐈𝐂̧𝐀̃𝐎 foi o pior baque na vida de Sarah Winston. Logo ela, apaixonada por música desde tenra infância, perdera o dom de ouvir após um acidente de carro. Fora uma fatalidade. Compadecidos pela dor da jovem musicist...