( 08. encontro )
Como estava chovendo, o passeio na praia foi totalmente cancelado. Então, depois de matutar, decidimos comer algo na lanchonete local de Forks. O caminho foi sem conversas, já que eu expliquei que precisava ter minha atenção completamente focada na estrada, e conversar era algo impossível. Quando estaciono em frente ao lugar, Paul é o primeiro a sair e me assusto com a minha porta se abrindo.
Olho para cima, vendo seu rosto animado, um sorriso grande fazendo algo dentro de mim estremecer. Mordo meu lábio, tímida e saio do carro, buscando minha bolsa. Agradeço baixinho, o seguindo para dentro da lanchonete enquanto aciono o alarme da do carro pelo controle, observando se a luz piscaria duas vezes, indicando que estava mesmo travado.
Quando tenho certeza, entro no estabelecimento. Era um lugar pequeno, com algumas mesas e bancos estofados. Um balcão grande, com banquetas e poucos funcionários - vi apenas duas mulheres servindo os clientes, que também era um número pequeno.
Mordo o lábio inferior, olhando todo aquele lugar. Em minha vida inteira, nunca pisei em uma lanchonete tão simples, mas estranhamente me senti mais acolhida ali do que em qualquer outro lugar. Sinto a mão de Paul na base das minhas costas, me direcionando para uma mesa. Sento e espero por ele, que foi ao balcão pegar o cardápio. O olho cumprimentar as funcionárias e, por um momento, tenho a certeza que ele já conhecia aquele lugar de outras épocas.
Tombo a cabeça, vendo a ruiva no balcão se demorar na conversa com Paul, enquanto seu olhar recai sobre mim várias vezes. Ela parecia ter uns vinte anos, talvez? E, pelo modo com que se comporta e ao ler seus lábios se movimentando, sei que ela está dando em cima de Paul na cara dura.
No meio do serviço, com gente em volta. Comigo esperando por ele para um encontro. Encontro? Franzo as sobrancelhas, desviando meu olhar da conversa de Paul com a ruiva, e olho para a mesa. Isso era um encontro?
Garoto, comida, só nós dois, uma conversa de qualidade talvez. Parecia um encontro. Mas por que ele se demorava tanto com a garçonete ruiva?
Bato minhas unhas na mesa, sentindo a vibração na madeira de acordo com meus movimentos. Sinto uma movimentação e o cardápio simples é posto na minha frente. Levanto os olhos para Paul, que fala tão rápido que não consigo acompanhar o movimento de seus lábios e, frustrada, não consigo segurar o suspiro pesado.
Os olhos escuros de Paul prendem aos meus, enquanto para de falar no mesmo momento.
— O que foi? — Ele pergunta, dessa vez mais lento, pausando em todas as palavras.
— Se você fala rápido, eu não consigo entender. — Murmuro, descendo meu olhar para o cardápio, que era dividido entre café da manhã, almoço e café da tarde. Sinto dois toques na mesa, como se alguém tivesse batido com o dedo e ergo meus olhos para Paul novamente. — Hm?
— Desculpe por isso. Eu acabei me empolgando enquanto falava. — Ele toma seu tempo, falando devagar para que eu pudesse compreender tudo. — Eu falei que o x-burguer com fritas daqui é o melhor da região, e que também tem um bolo de frutas maravilhoso.
X-burguer com fritas. Bom. Parece bom. Assinto, vendo no cardápio o que tanto vinha no lanche e, por gostar de tudo, decido pedir ele.
A senhorita ruiva logo vem à nossa mesa, um bloco de notas em mãos e uma cara de tédio. Faço meu pedido, o lanche e um copo grande de refrigerante, e Paul também pede. Olho para ele, vendo o modo que parecia olhar para o cardápio e os preços. Reviro os olhos, colocando a mão a sua frente e impedindo que ele consiga ler.
Seus olhos escuros vem direto aos meus, questionando minha ação.
— Eu pago hoje. Na próxima você paga. Peça o que quiser.
Era óbvio que a condição financeira de Paul era precária. Os tênis surrados, a bermuda mesmo que parecesse nova, era de tecido barato e resistente. Jeans. Ele devia ter ela há pelo menos uns três anos. E a camiseta também, de tecido fino, parecia ser antiga mesmo que bem cuidada.
Ele parece não gostar do que falo, mas demora para me responder, as sobrancelhas grossas se curvando. Por fim, ele assente, parecendo decepcionado. Decepcionado consigo mesmo.
— Tudo bem. Vou querer o mesmo que você.
— Isso é o suficiente?
— Você está pagando, Sarah. Não vou abusar. — Ele parece rabugento, bravo enquanto estende o cardápio para a ruiva.
Suspiro, me dando por vencida. A garçonete anota nossos pedidos, saindo para levar nossos pedidos para a cozinha.
— Não fique assim. — Falo, vendo que sua cara feliz tinha ido por água abaixo. — Você paga na próxima. Isso vai nos dar certeza que vai ter uma próxima.
Paul assente, dando-se por vencido. Apoiando os braços na mesa, seus olhos escuros se prendem aos meus. Olho para ele, tombando a cabeça para. Levanto as sobrancelhas, questionando com o olhar. Que foi?
— Você tem um sotaque estranho. Você é daqui de Forks?
Sinto minhas bochechas corarem, e apoio meu rosto nas minhas mãos.
— Sou britânica. Nasci em Londres.
— Isso explica a forma como você come algumas letras enquanto fala. — Sorri zombeteiro. — Veio para Forks por que?
Dou de ombros, mordendo meu lábio.
— Um lugar calmo é perfeito para uma pessoa surda.
Ele assente, desconfortável com o assunto posto na mesa. A garçonete chega nesse momento, trazendo os refrigerantes e colocando o porta guardanapo na mesa. Agradeço, sorrindo pequeno para ela, enquanto Paul tem seus olhos vidrados em mim. Quando ela se vai, dizendo que o pedido logo estaria pronto, posso sentir que Paul está se corroendo para fazer a pergunta que toda pessoa ouvinte faz, ao ter contato com um deficiente auditivo.
Respiro fundo, tirando meu rosto do apoio das minhas mãos e mordo meu lábio, uma vez mais. Era uma mania chata, que não conseguia controlar em situações que me deixavam fora da minha zona de conforto.
— Um acidente de carro. — Falo, antes que ele pergunte. — Três anos atrás. Eu tinha 15, estava voltando de um concerto e aí o táxi foi atingido por outro carro maior. Dano neural, os nervos do ouvido foram prejudicados e agora eu sou totalmente surda. Sem ruídos ou sons graves para mim.
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𝐄𝐔𝐓𝐎𝐍𝐘, 𝑡𝑤𝑖𝑙𝑖𝑔𝘩𝑡
Fanfiction༉‧₊˚✧ 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐄𝐑 𝐀 𝐀𝐔𝐃𝐈𝐂̧𝐀̃𝐎 foi o pior baque na vida de Sarah Winston. Logo ela, apaixonada por música desde tenra infância, perdera o dom de ouvir após um acidente de carro. Fora uma fatalidade. Compadecidos pela dor da jovem musicist...