Vitoria
As paredes do meu quarto estão começando a ser sufocantes, essa gaiola de cristal não é tão agradável quanto imaginei, sinto falta de ter o que fazer, com quem conversar, resolvo dar uma volta pelo castelo, ver rostos diferentes, visto uma roupa confortável e bem quente e saio pelos corredores, vejo poucas pessoas e todas elas quando me veem me olham como se eu fosse uma aberração, as mulheres chegam a fazer o sinal da cruz e sair correndo. Engraçado que agora percebo, nunca vi nenhuma mulher de calças nesse lugar, aqui parece que parou no tempo, na época medieval ou algo parecido, será que tudo isso é simplesmente por eu estar usando calças? Espero que não... nos corredores encontro um gatinho, é um filhote e treme de frio. Decido leva-lo a meu quarto, será meu companheiro. Ele tem os pelos tão claros que parece até ser albino, o levo comigo, dou um bom banho e leite, acho que não teria ração de gatos por aqui né, então vou dar pedaços de carne e leite enquanto não consigo alguma ração própria.
- Você é menino ou menina? Que nome vou colocar em você hein sua coisa linda? Vai me fazer companhia agora, não vou mais me sentir tão sozinha. Isso, pula, cadê você? Vou te pegar....
E assim passo a tarde até o horário em que aquela garota vem trazer meu jantar, ao olhar Snow (sei que não tive a menor criatividade, chamar de neve um gato branco em um lugar cheio dela é meio obvio, mas o nome serviria se fosse macho ou fêmea então gostei da ideia) ela arregalou os olhos, deu um sorrisinho e saiu pisando duro como sempre, vai entender essa maluca, mas como dizem os médicos... melhor não contrariar, vai que piora.
Passo a noite com ele brincando em minha cama e depois ele se aninha a mim para dormir, acordo com duras batidas na porta, Snow mesmo sendo um filhote se arrepia e se esconde entre os travesseiros. Abro a porta para encontrar um Raj furioso
- O que essa porcaria está fazendo aqui?
- Você tá falando do Snow?
- To falando desse gato
- Esse gato tem nome e é Snow, eu o encontrei no castelo e o trouxe pra me fazer companhia, me desculpe se vossa majestade se incomoda com felinos, mas se não percebeu já faz alguns dias que não converso com outra pessoa sem ser vossa senhoria e ninguém por aqui parece saber falar português, aliás, quase todo mundo sai correndo quando me vê, eu sempre gostei de conversar, pelo menos com ele posso tentar. Me manda de volta pra casa então se o incomodo tanto, ou então me deixe em alguma cidade, dou meu jeito, procuro um consulado brasileiro e peço ajuda pra voltar. – Não percebi, quando comecei a falar eu gritava de raiva, terminei a frase soluçando de tanto que chorava, me abracei sentando na beirada da cama e deixei as lágrimas caírem, pesadas, doloridas.
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Irmãos Cavaleiros
RomanceQuatro irmãos criados junto a humanidade, imortais - ou quase - cada um com seu poder e responsabilidade, a muitos anos decidiram tirar férias e se esconder vivendo entre as pessoas comuns. Todos tem seu cálice, mesmo aqueles que nunca o desejaram D...