Capítulo 22

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No dia seguinte – o primeiro dia

Eu sei que essa menina é uma das quatro encontradas com o Dan, sei que alguém armou essa emboscada para que todas elas nos encontrassem, meus três irmãos já reclamaram sua parceira e eu vi na alma da pequena Lotus que ela seria a minha, confesso que não era algo que eu esperava viver um dia, em que pensamento maluco a morte teria uma companhia? eu sou sempre o fim, nunca o início. Bobos são aqueles que acreditam na redenção pela morte, eu não dou a mínima para eles, apenas meus funcionários os levam para seus lugares determinados, afinal, sou apenas um e esse planeta tem bilhões e se eu fosse fazer todo o trabalho sozinho seria impossível, eu vou apenas em alguns casos, quando a pessoa por alguma razão me interessa conhecer e as vezes com suicidas para descontar minha raiva, odeio que tentem burlar as regras, não são eles quem decide coisa alguma.

Vi na alma desta menina todo o sofrimento que ela passou, mas ela não sofre mais pelo passado, ela tem muito medo do futuro, desde muito pequena a ensinaram a sentir medo, e assim, de um medo a outro hoje ela está dominada por ele, porém o único medo que move a maioria das pessoas ela não tem, e foi o que ela veio aqui buscar ontem.

Às dez horas da manhã eu já estava sentado em uma das pedras esperando por ela, eu não queria que ela se assustasse comigo chegando "do nada" ou se decepcionasse por eu não ter cumprido minha palavra. Em alguns minutos ela chega

– Que bom que você veio

– Eu disse que viria, sente-se aqui comigo, o que você trouxe aí?

- Não sei se você iria se importar, mas trouxe um lanche pra nós, estou sem comer nada ainda

- Entendo, já está quase na hora do almoço né? Então vamos tomar café da manhã

Assim ela retira de uma bolsa uma garrafa de suco e dois lanches, como que esses humanos chamam mesmo?

- É um lanche natural de frango, espero que goste – assenti em silencio e comecei a comer, pra mim a comida tem um sabor maravilhoso, eu a como com o mesmo prazer de uma pessoa que sabe que é sua última refeição, buscando guardar na memória como é cada sabor.

- Lotus, me diga, eu sinto tanto medo vindo de você e por qual razão você não tem medo de mim?

- Não sei, o meu normal seria querer correr, não suporto muito bem o toque de homens desde... deixa pra lá, mas eu realmente gosto de você, de sua companhia, sinto que você tem a capacidade de me fazer mal se quisesse, mas que não faria

- E você tem razão, jamais farei, já que temos isso acertado, por que você não fala comigo a respeito da origem de tantos medos?

- Eu não sei a origem, me lembro de poucas coisas de quando era criança, mas me lembro de ver meu pai batendo na minha mãe e me mandando ficar calada, depois mais velha me lembro de que as surras nunca pararam e eu passei a ter medo de ficar dentro de casa, na rua me assaltaram e ameaçaram com armas, passei a ter medo de qualquer pessoa que se aproximasse de mim, principalmente homens, consegui um emprego de doméstica na casa de uns patrões ricos lá na minha cidade, morava no quartinho com banheiro no quintal da casa, é a única época que me lembro de ter sido feliz, mas durou pouco, os dois morreram em um acidente de carro, os filhos fecharam a casa e me mandaram embora, peguei o pouco dinheiro que tinha e quis tentar a vida muito longe de casa, vim para o Rio de Janeiro, me sequestraram e me prenderam naquele lugar por meses, lá aprendi a ter ainda mais medo de homens, de apanhar, descobri da pior maneira como objetos simples podem se transformar em métodos de tortura, passei a ter medo de tudo o que eu visse, as únicas pessoas que consigo abraçar são as meninas, elas que me deram força para aguentar mais um pouco, quando elas chegaram eu já tinha me entregado, mas Deus não me ouviu, não me deixou morrer em nenhuma das vezes que pedi, por isso que vim aqui ontem, já que Ele não me ouvia eu daria um jeito de ser ouvida enfim, mas você estava aqui; e eu lhe prometi, uma semana a mais de vida, hoje são seis dias para suportar tudo

– Lotus, será que você consegue pegar na minha mão? Não vou mover ela nem um milímetro, você tem medo de ser tocada, mas e se for você a tocar?

- Posso tentar, promete não se mexer?

- Prometo ficar como uma estátua

Ela com muito medo se levanta e vem se sentar mais próxima de mim, eu a havia deixado sentar onde se sentisse mais à vontade, e foi a quase um metro de distância de mim, mas aos poucos ela pegou em minha mão direita, alisou meus dedos, apertou de leve sobre a minha palma, levantou sua mão para tocar em meu rosto, parou alguns centímetros antes pedindo permissão, eu só fechei os olhos e a deixei, ela apoiou a mão em minha bochecha, fez um leve carinho e retirou a mão, só nesse momento eu abri meus olhos, o toque dela me despertou, eu a quero, mas ainda não é a hora 

Irmãos CavaleirosOnde histórias criam vida. Descubra agora