Irmãos Cavaleiros

Capítulo 21

Quarto arco – Morte

Lotus

Já fazem dois meses que estou na casa de Dan e Cristal, sei que eles não se incomodam, ela sempre vem aqui ficar comigo, tentar me alegrar, Luz e Vitoria sempre me mandam mensagens me chamando pra ir visita-las, eu não quero ir a lugar nenhum, aliás, existe apenas um que quero ir, o ponto final da minha vida.

Eu fui a primeira delas a ser pega, estava a quase seis meses naquela boate, mas eu não ficava na vitrine como as outras meninas, eu era peça exclusiva do cardápio como eles diziam, sádicos de toda forma me escolhiam, eu sempre saia machucada, surrada, queimada, dolorida de alguma forma, em todas as sessões pedia pela morte, se existe algum Deus ele nunca me ouviu, acho que vou ter que procurar a morte por mim mesma

– Cristal, vou até o playground do condomínio tá, volto mais tarde

– Que bom Lotus, me dê um minuto que vou com você tá?

- Não precisa, eu só preciso... só preciso de um pouco de ar

– Tudo bem, o almoço logo estará pronto, mas se demorar não tem problema

- Está bem, obrigado

Não resisto, a abraço pela última vez, ela me olha estranho mas sorri, e eu saio pela porta antes que me arrependa, não quero fazer nada dentro da casa deles, não quero ser mais uma memória ruim pra Cristal, soube que no fundo do condomínio tem um acesso ao mar, mas que é um lugar perigoso, lá não tem praia, apenas um rochedo enorme onde as ondas batem com toda força, se eu der apenas um passo....

Já tive muito medo na vida, medo da próxima surra, medo de ficar tão machucada que eles me jogassem em um quarto escuro para sofrer ainda mais sozinha, medo de avião, medo de raios, medo até mesmo de levar um choque, mas a única coisa da qual eu nunca tive medo era a morte, ela me parece algo tão sublime, é o lugar onde tudo se acaba, onde não há mais do que ter medo, pois lá já é o ponto final. Nunca acreditei no que viria depois dela, cada crença diz uma coisa, mas para mim é como se tudo desaparecesse. Chego ao rochedo, aqui é lindo, escolhi uma bela paisagem para ver pela última vez, respiro fundo, acho que posso ficar sentada nas pedras por mais algum tempo

– Eu não faria isso se fosse você menina – Um homem lindo, com uma aparência mais velha, magro demais, cabelos negros, com os olhos verdes um pouquinho rasgados, vestindo um terno totalmente branco, sua pele tão branca que eu conseguiria ver até suas veias se prestasse muita atenção

- E o que você supõe que eu vá fazer?

- Nada além de se jogar por essas pedras e destruir seu corpo e sua alma para sempre

– Meu corpo já está destruído

- Não ao meu ver

– E alma, se um dia eu tive uma me arrancaram

– Na verdade não, eu consigo ver ela exatamente de onde estou, sua alma está em sofrimento, você perdeu seu brilho não sua alma, mas se você fizer isso serei obrigado a fazer o que não quero

– E o que seria?

- Levar sua alma pura para o pior dos sofrimentos, você não merece isso menina, fique mais um tempo, vai te fazer bem

– Nada me faz bem, eu estou cansada de lutar, cansada de ter medo, não vejo nada em minha frente

– E se eu te fizer uma promessa?

- Qual?

- Venha nesse mesmo ponto todos os dias nesse horário, durante uma semana, após os sete dias se continuar querendo pular não vou tentar evitar, mas até lá terá um compromisso comigo

- Está bem, prometo a você que amanhã estarei aqui

– E eu também estarei menina

– Como é seu nome?

- Tom pequena Lotus, meu nome é Tom

– Mas como você sabe meu nome?

- Sei muito mais do que isso, venha me ver amanhã, estarei lhe esperando

Volto pra casa e passo a tarde toda pensando em Tom, ele é diferente, algo nele me fez ter algo que eu não tinha a muito tempo... Esperança