Papillons Bleus

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O Anjo Albino

Não lavava mais o rosto
Para não mascarar alegria
Não penteava mais os cabelos 
Para não fingir organização
Não era feliz e estava confuso
Passando por uma crise
Que chamou pelo nome secreto
“Pato Feio”.
Na esperança de descobrir
Que era o “Cisne Bonito”.
Vitória, vitória
Acabou virando 
Um anjo albino
Com cortes em todo o rosto
E os lábios machucados
Pelos companheiros de classe
Que são paradoxalmente iguais
Eles não se espelham 
Não possuem espelho
E as águas do esgoto
São por demais turvas para refletir
Recebeu ainda um belo par de asas paraplégicas
Que eram demasiadamente atrofiadas para voar
Não, ele não fazia parte
Da galeria de arte
Nem era personagem dos quadros em exposição
Suas palavras eram incompreensíveis 
E sua esperança assustadora
Seu corpo habitava o inferno
E sua alma com certeza o céu.
(R.B. de Faveri)

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Park Hyunjae

Estávamos há o que pareceram horas em silêncio na sala de visitas tomando chá. Mamãe e Minjun já haviam regressado e estavam se trocando em suas respectivas alcovas. O Marquês Cha Eunwoo bebia calmamente, sem manter contato visual comigo, e mantinha a mesma expressão austera de praxe. Mas eu não podia julgá-lo, afinal a mesma expressão pintava meu rosto. Eu fazia pouco caso quando o assunto era ser afável com estranhos ou de sorrir para eles. Eu apenas queria tomar conhecimento do porquê este beta seme estar aqui tão tarde da noite interrompendo o meu jantar. Pude o ouvir pigarrear. 

-Perdoe-me por vir a esta hora, mas eu tenho assuntos a tratar com vosso pai e este é meu único horário disponível. -Dissera com um timbre sobejamente umbrífero. 

Eu sabia bem do que se tratava, nosso consórcio, é claro. O Marquês Cha parecia trabalhar em demasia e repousar minguanamente. Seus olhos estavam fundos, envoltos por olheiras arroxeadas, sua pele estava quase tão alva quanto suas madeixas bagunçadas, seus lábios retinham uma coloração rosada fraca, seu rosto estava magro, mas suas pupilas de tom cinza pálido eram o mais lastimável pois estavam banhadas por soturnidade encoberta pela rigidez de suas expressões. Sua aparência estava tão péssima quanto a de Jimin mas, ainda assim, o Marquês continuava assustadoramente airoso. Seus ombros eram largos e a roupa um tanto amarrotada destacava seu corpo robusto. Ele mantinha um garbo prodigioso ao cavaquear e portar-se.

-Compreendo. Logo papai retornará. -Ditei sem prolongar o assunto. 

-Não posso sonegar que fiquei cético quando soube que vós, Milorde Park, havia aceitado meu cortejo. Inquiri-me se vossas infinitas antelações haviam enfim se findado ou, quem sabe, possa haver outra razão? -Dissera ultrajes como quem comenta sobre o clima. 

-Saibas tu que a cavidade que forma a primeira parte do aparelho digestivo, situada na face entre as duas maxilas, limitada em cima pela abóbada palatina, embaixo pela língua, anteriormente pelos lábios, arcadas dentárias e dentes, aos lados pelas faces e atrás pelo véu palatino e faringe que se mantêm com orifício de passagem obstruído impede o adentramento de inseto díptero. -Respondi com os olhos fechados segurando minha xícara próxima ao meu rosto com ambas as mãos. 

-De fato impede o adentramento de inseto díptero, mas em algumas conjunturas é imprescindível outorgar sua passagem pois há infortúnios danosos que se transladam a virtuosidade. -Respondera e então meu olhar de cólera cruzara com seu olhar opaco.

Ali encerra-se o assunto. Eu não possuía denodo o suficiente para continuar trocando farpas com alguém como o Marquês Cha e ele, por sua vez, era um homem de poucas palavras, portanto ele não diria mais nada mesmo se eu o respondesse. Às vezes eu queria ser um pouco como Jimin, ter intrepidez para dizer o que penso, quem sabe assim eu tivesse enfim forças para dizer ao meu pai que eu posso apropriar-me de seu ofício. Eu estudo demasiadamente, mas a verdade que oculto de mim mesmo é que eu jamais terei denodo para incumbir-me do cargo de conde. Alguns minutos depois mamãe descera e me compelira a passear pela casa com o Marquês para passar o tempo, enquanto papai não chegava, e evitar que o beta seme ficasse entediado. Eu apenas rezava para que papai chegasse logo e eu pudesse jantar. 

La vie en rose (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora