Anxiété

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Passaram-se cinco dias e eu estava cada vez mais paranóico. O Duque Jeon não havia endereçado-me carta alguma e eu estava temeroso de que talvez meu desenho tenha lhe ofendido de alguma forma. Há três dias em que estou tentando escrever-lhe uma carta para elidir-me caso a pintura tenha lhe ultrajado, mas eu nunca fui bom com as palavras quando o assunto era ser cauteloso e não ofender ainda mais. Encarava o papel sobre minha escrivaninha, completamente em branco, a pena pousada no tinteiro, e os inúmeros papéis amassados em formato de bolinha jogados no chão revelando minhas incontáveis tentativas falhas de escrever algo.

Suspirei malogrado. Levantei-me de minha cadeira decidido a fazer umas pesquisas na biblioteca, talvez em algum livro eu encontrasse um meio ou quem sabe uma dica de como desculpar-me devidamente, pelo menos uma inspiração. Caminhei apressuradamente pelos estreitos corredores a caminho do cômodo recheado de livros, entretanto mamãe me encontrara no meio do caminho arrastando-me em direção contrária ditando coisas como: "Onde pensas tu que vais? Está na hora de vossas lições." Essas lições já estavam me dando nos nervos mas não havia nada que eu podia fazer além de aceitar. Mamãe me arrastou até a mesa próxima ao jardim que fora preparada para o chá, Hyunjae estava sentado lá aguardando pacientemente, mamãe então me deixou sob os cuidados de meu irmão mais velho e se retirara do local.

Não sei ao certo quanto tempo se passara mas eu estava pela milésima vez tentando pegar a xícara da forma que meu irmão queria mas ele sempre dizia: "Está errado! Comeces outra vez." Eu juro que tentava pegar a xícara devagar e gentilmente mas minhas mãos insistiam em segurar de qualquer jeito e apressadamente. Jae estava prestes a desistir e eu também quando Minjun surgiu juntando-se a nós.

-É como pintar, Jimin. -Voltei minha atenção a Min que segurava a xícara graciosamente enquanto dizia. -Não é diferente de tocar piano, violino ou pintar um quadro. A delicadeza no toque é a mesma, basta apenas imaginar que estás fazendo uma dessas coisas mas não podes tocar o mindinho senão molograrás a obra.

Seguindo os conselhos de meu irmão tentei imaginar que pintava um quadro repleto de flores delicadas, por isso segurei a xícara com muita circunspecção como se segurasse um pincel para contornar as minúsculas pétalas, atento a não encostar o mindinho para não borrar a pintura. Pude ouvir as palminhas orgulhosas de Jae me assistindo segurar corretamente mas ele logo suspirou decepcionado quando beberiquei o chá já frio e fiz uma careta pelo gosto horrendo.

-Certo, agora temos apenas que ensinar-te a paliar as caretas quando o gosto de algo lhe desagradar o paladar. -Diz Jae desalentado, aparentemente já esperava que isso demoraria ainda mais horas ou quem sabe, dias.

Tudo que Min fazia era risotear baixinho da situação. Passamos incontáveis horas ali tentando comedir minhas caretas e quando o sol começara a partir eu enfim podia beber o chá sem o ímpeto de mais caretas, pois já estava acostumado com aquele gosto horrível após bebê-lo tantas vezes, mas nós três sabíamos que as caretas voltariam ao experimentar algo ruim diferente daquele chá. Horas mais tarde eu já me encontrava em meu quarto, pronto para repousar mas minha mente vagava em direção a um alfa lúpus e ao pensamento de que eu havia o vituperado com aquele desenho ridículo.

Eu me martirizava toda vez que me lembrava da pintura sem sentido em sua carta tão pulcra. Certamente ele havia se ofendido de tal maneira que não me mandaria ao menos uma resposta, mandaria uma carta ao meu pai dizendo que eu avacalhara com sua pessoa e então não anelava mais cortejar-me ou ao menos ouvir meu nome outra vez. Afundei o rosto no travesseiro em frustração e por tanto me martirizar acabei por chorar e espernear como uma criança que acabara de castigo. Chorei e chorei abafado pelo travesseiro. Mas então percebi que talvez eu estivesse me excedendo, afinal era só um desenho, sem contar que ele é um duque e duques têm muitas incumbências, ônus e pouco tempo para escrever cartas para um ômega bobo. Enxuguei as lágrimas sentando-me sobre a cama abraçando o travesseiro molhado pelas lágrimas enquanto um biquinho permeava meus lábios.

La vie en rose (Jikook)Onde histórias criam vida. Descubra agora