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Enquanto Natalie mordiscava algo sem ânimo aparente, Priscilla  criava teorias mirabolantes sobre o que acontecia dentro da cabeça de sua esposa. Natalie andava quieta ultimamente, mais do que o normal. Ela parecia triste, como se as horas não importassem; como se tudo tivesse perdido a graça.

-- Você está bem? -- Priscilla perguntou, visivelmente preocupada. Haviam se casado quatro dias atrás e o aparente "entusiasmo" de Natalie quanto a isso era notório.

-- Sim. -- Natalie se limitou a dizer apenas isso. Seus olhos acompanharam o exato momento onde Priscilla se levantou, deixando suas coxas à disposição dos olhos de Natalie novamente. Usava apenas uma camisa larga que ia até o meio de suas pernas e o que usava por baixo disso não dava para ser visto; provavelmente um short curto.

Priscilla caminhou até a geladeira e pegou leite, entornando o líquido numa leiteira e pondo a mesma para esquentar.

-- O que está fazendo? -- Natalie perguntou curiosa. Rosália geralmente era a única pessoa da casa a tocar no fogão, mas a mulher havia ido à feira de domingo e por isso não estava presente. Priscilla não gostava de ter outros empregados na cozinha, Rosália mesmo fazia questão de ser a única a cozinhar e, caso houvesse casos onde Rosália saía, Priscilla não se importava de cozinhar. Havia aprendido muita coisa com a doce senhora, afinal, passara maior parte de sua infância com a mulher. -- Meu pai me dizia quando eu estava triste... -- Deu uma pausa para pegar mais algumas coisas. – Que um pouco de chocolate quente ajuda.

-- Mas não estou triste. -- Natalie protestou.

-- Isso é o que você, minha cara, diz. -- Priscilla disse sorrindo e Natalie suspirou, fitando-a.

-- A Ari  costuma dizer que chocolate quente é a melhor coisa do mundo. -- Natalie disse sorrindo amplamente diante da recordação da amiga.

-- Ari? -- Priscilla perguntou confusa, enquanto entornava uma barra de chocolate na leiteira, juntamente com um pouco de açúcar e começou a revolver o líquido.

-- Sim. Minha melhor amiga. -- Explicou.

-- Estava no casamento? Eu a vi?

-- Não. Mamãe achou melhor ela não aparecer por lá. -- Disse.

-- E por quê? -- Perguntou ainda sem entender.

-- Ela não se encaixa na nobreza, de acordo com a minha mãe.

-- Vocês... se conhecem há muito tempo? -- Perguntou assim que despejou o líquido na xícara e estendeu para Natalie. A mesma ia beber um pouco, mas Priscilla se apressou em falar. -- Cuidado! Está quente.

-- O nome é "chocolate quente" Por alguma razão. -- Natalie disse brincalhona e Priscilla sorriu, vendo Natalie  rir antes de começar a soprar o vapor de cima do líquido, experimentando logo em seguida.

-- E então?

-- Uma delícia. -- Natalie disse sorrindo. -- E quanto a sua pergunta...Conheço desde que tinha treze anos.

-- Parece gostar muito dela. -- Priscilla analisou.

-- A amo. -- Apontou. -- Como a irmã que nunca tive.

-- Quase consigo imaginar vocês duas correndo entre as barracas do povoado enquanto sua mãe gritava seu nome enfurecida. -- Falou rindo. -- " Natalie, volte aqui sua insolente. Não foi essa a educação que eu te dei." Fez uma voz imitando Cora e Natalie arregalou os olhos, rindo. Eram exatamente as palavras de sua mãe.

-- Isso era algo que ela diria, com certeza. -- Sorriu. -- Ariana , nome da Ari, sempre foi aventureira e, bem, correr da minha mãe era uma das melhores aventuras. -- Priscilla não podia imaginar o porquê da mãe de Natalie impedir sua amizade, mas ela não se importava com a mesma, porque era nítido a importância da garota para Natalie. Sem perceber levou sua mão até uma das mãos de Natalie e apertou, de uma maneira respeitosa.

-- Você fica tão mais linda sorrindo.
-- Disse genuinamente. -- E não estou tentando parecer galanteadora, pois falharia miseravelmente. -- Assumiu rindo. -- Digo porque é a mais singela e pura verdade. -- Natalie enrubesceu e baixou seu olhar para sua xícara.

-- Obrigada. -- Natalie não desfez o contato das mãos. Priscilla tinha um aperto calmo e mãos macias, deveriam tranquilizá-la, mas a imagem de Priscilla a desejando como esposa ainda a assustava, apesar de jamais ter sido desrespeitada. Priscilla nunca havia dito que se interessava por ela, mas a forma como a olhava deixava bem nítido isso. -- Me sinto em débito com você. -- Natalie confessou sem perceber que as palavras saíam em voz alta.

-- Por quê? -- Perguntou surpresa.

-- Você se casou comigo, porém não tem uma esposa que cumpra...você sabe. -- Terminou corando.

-- Mas tenho uma esposa que cumpre o papel de amiga. Estou mais do que satisfeita. -- Natalie se sentiu pior ainda. Não tratava Priscilla como uma amiga e sim como uma ameaça. Dizia para si mesma que deveria se sentir confortável perante àqueles verdes intensos, mas não conseguia nada além de sentir-se intimidada.

As palavras de Priscilla, ao invés de trazerem conforto, vieram como um soco na boca do estômago de Natalie. Claro que havia momentos onde ela esquecia que era casada e ria com leveza das coisas ditas por Priscilla, mas isso era apenas em uma fração de minutos. Logo estava ela sofrendo interiormente de pânico pela aproximação ou por algum toque de Priscilla. Um simples esbarro em suas mãos já fazia Natalie achar que Priscilla mudaria de ideia e reclamaria seus direitos como esposa.

-- Ambas sabemos que não sei exercer esse papel com você. -- Natalie confessou envergonhada.

-- Ainda. -- Priscilla não disse mais nada, apenas tratou de se concentrar em não encarar Natalie. Sabia que seus olhares assustavam a garota, no entanto, não podia evitar sempre. Às vezes se pegava fitando os lábios de Natalie enquanto ela falava alguma coisa.

-- Ainda. -- Natalie repetiu após algum tempo, decidida a tentar dar a Priscilla sua amizade. Tentaria se livrar de seus medos e confiaria que Priscilla realmente só quer sua amizade, sem maldade, sem segundas intenções. Apenas sua amizade, no jeito mais puro e sincero. -- E você, não vai tomar chocolate quente?

-- Depois.

-- Por quê? Não te agrada chocolate quente pela manhã? -- Perguntou curiosa.

-- Adoro chocolate quente a qualquer hora do dia. -- Sua risada rouca fez Natalie sentir-se confortável com sua presença. -- Mas a última barra de chocolate preparei para você. Vou esperar Rosália retornar. -- Natalie não entendia como Priscilla podia ser tão prestativa e gentil o tempo inteiro. Se permitiu examinar as feições da mulher sentada a sua frente e enxergou satisfação. Como poderia ela estar satisfeita tendo casado-se com alguém que não a ama, quase foge dela e ainda toma sua última barra de chocolate com leite?

Desviou o olhar de Priscilla quando viu que a olhava por tempo demais. Era natural olhar para Priscilla, Natalie pensava. Todos ali perdiam longos minutos fazendo isso com suas expressões embasbacadas, provavelmente um efeito colateral por ter essa beleza cativante, pensou novamente Natalie, voltando a tomar seu chocolate quente no silêncio intimidador do ambiente.

☆Nᴀᴛɪᴇsᴇ☆✓ EL ARCO-ÍRIS Onde histórias criam vida. Descubra agora