06

1.1K 140 42
                                    

ATENA's POV

Você pode tudo, lembra? — ele responde com humor, me fazendo lembrar daquele dia no bar.

Reprimo uma risada. Eu sei que ele está pensando na coisa mais maliciosa possível, mas eu vou fazer algo inocente e que provavelmente, vai ajudar ele.

Me inclino em direção à ele, que me olha atentamente, curioso sobre o que eu vou fazer. Eu sorrio de lado, passando calmaria.

— Respira fundo. — peço, ele assente com a cabeça e faz o que eu pedi.

Levo minhas duas mãos até o pescoço dele e posiciono — cuidadosamente — na parte posterior. Mais especificamente, quase na nuca. Eu pressiono a região com os punhos fechados, iniciando uma massagem simples e lenta.

Eren solta um suspiro baixo de alívio e eu me esforço pra não me desconcentrar. A massagem parece estar sendo eficaz, já que estou sentindo a tensão anterior, desaparecendo de seu corpo.

Ele fecha os olhos e ri fraco, se deixando aproveitar a massagem. Eu sorrio, mesmo sabendo que ele não está vendo. É muito fácil fazer uma massagem nele quando sou presenteada com essa visão.

— Meu Deus, Atena. — ele murmura, ainda de olhos fechados e relaxado no banco. — Onde você aprendeu isso? — pergunta, e eu passo a massagear os ombros dele.

— Meu psicólogo me ensinou. — respondo, rindo fraco. — Eu tive... — clareio a garganta. — Tenho problemas com ansiedade, então ele me ensinou algumas massagens pra aliviar a tensão. — falo, levemente incomodada com o assunto. — Massagear pontos específicos ajuda a equilibrar as emoções. — explico, e ele abre os olhos para me olhar.

O problema do Eren é que ele nunca olha. Ele encara o fundo de sua alma, como se estivesse desvendando todos os segredos escondidos.

— Eu realmente estava precisando disso. — admite, e eu paro a massagem por puro nervosismo. — Acho que você leu a minha mente. — brinca, eu rio.

— Eu também acho. — entro na brincadeira. — Mas se precisar conversar, pode contar comigo. — o encaro com um pequeno sorriso sincero.

Ele pisca os olhos e eu percebo um brilho extremo nos mesmos, é como se estivesse me olhando com tanto afeto que ele poderia chorar. Por um momento, sinto uma nova sensação. Ele nunca me olhou dessa forma. Nem mesmo quando estávamos dividindo a mesma cama.

Ele parece quebrado. E eu sinto uma necessidade de consertá-lo. Mas sei que ele jamais permitiria.

— Valeu, Tena. — ele finalmente responde, desviando o olhar do meu, como se estivesse escondendo algo. — Mesmo. — sorri sem mostrar os dentes.

É perceptível a dificuldade que o Eren tem em demonstrar qualquer tipo de sentimento. Mas os olhos dele falam, assim como sua linguagem corporal — o que o torna significantemente fácil de ler.

— Muita coisa mudou desde aquela viagem. — ele diz com a voz fraca, e parece que um peso saiu de seus ombros.

— Tipo o quê? — pergunto, o incentivando a continuar. — Não precisa me falar se não estiver confortável... — aviso, ele nega com a cabeça.

— Tá tudo bem. — sorri triste, e eu vejo que não está tudo bem. — Meus pais... — ele começa, como se estivesse criando coragem. — Você lembra deles? — pergunta.

Eu paro pra pensar e as memórias me atingem.

— Por incrível que pareça, sim. — respondo, sorrindo surpresa por ter lembrado. — Acho que é impossível não lembrar deles. Eles foram o casal que mais dançou naquela pista de dança, e ainda depois se jogaram no mar. — nós rimos ao lembrar da cena.

— Exatamente. — Eren diz, parando de rir. — Eles, infelizmente... — sua expressão agora está dolorosa e eu logo entendo tudo.

— Eren, eu sinto muito. — falo num tom de voz baixo. — E-eu nem imaginava... — ele deixa escapar um sorriso triste em agradecimento. — Desculpa, não sei nem como reagir. — admito, sentindo uma certa tristeza.

— Relaxa, tá de boa. — mente. — Já passou. Na verdade, não sei porque te falei isso. — torce o nariz, rindo baixo. — Acho que eu só queria ouvir você dizendo a última memória que tinha deles. É uma boa lembrança, pelo menos. — sorri confortante, e eu sinto sua dor.

— Sim, é uma ótima lembrança. — sorrio, acariciando sua mão. — Eu vou sempre lembrar deles assim, felizes. — o conforto, ele concorda com a cabeça e respira fundo.

Eren dá um último sorriso e liga o carro. Eu solto sua mão e volto a sentar confortavelmente no banco, pronta para voltar pra casa. Ele dá partida e apoia uma das mãos na minha coxa, fazendo movimentos circulares.

Eu seguro o banco e o aperto involuntariamente, me xingando mentalmente por ser ridiculamente sensível ao toque dele. Eren dirige tranquilamente, como se não estivesse fazendo movimentos provocativos na parte interna da minha coxa.

Olho para baixo discretamente, observando sua mão duas vezes maior que a minha, seus dedos longos — dois deles com anéis de prata. Percebo, também, uma pulseira fina e justa ao pulso de prata; logo alguns flashbacks dessa pulseira me atingem. Provavelmente foi um presente especial, já que ele não tira há três anos.

Eren me traz de volta à realidade quando aperta suavemente o local, me fazendo soltar um suspiro pesado. O encaro com uma expressão ilegível, e ele continua me ignorando, mas dessa vez está com um maldito sorrisinho.

É óbvio que ele está achando graça.

Eu cruzo as pernas discretamente, prendendo essa maldita mão entre minhas coxas. E só então percebo que foi uma péssima ideia, já que agora estou sentindo uma pressão insuportável no meu baixo ventre. A mão dele está insuportavelmente perto de onde não deveria estar.

Ouço a respiração dele descompassar baixinho, o que só piorou o meu estado. Meus olhos — não satisfeitos com a visão do braço tatuado dele sobre minhas pernas e com a mão presa num lugar inusitado — resolvem espiar o rosto do adorável homem ao meu lado.

Ele, agora, está sério e concentrado em algo que não consigo decifrar. Seus olhos estão focados nas ruas, mas ao mesmo tempo parecem distantes e focados em outra coisa. O sol está nascendo, o que fez a beleza do Eren realçar umas dez vezes mais. Os olhos esverdeados cansados, o perfil perfeito, a boca entreaberta, o som das nossas respirações.

Eu mexo o quadril para me ajeitar no banco, na intenção de tentar aliviar essa sensação insuportável de querer ele, por inteiro, nesse exato momento.

Como se Deus estivesse lendo meus pensamentos, o carro para. Finalmente. Essa foi a carona mais difícil que já tive o prazer de ter. Descruzo as pernas rapidamente e na mesma hora sinto meu rosto esquentar. Ele mexe a mão — agora livre — como se estivesse fazendo um alongamento. Eren reprime um riso, encarando a palma de sua mão levemente vermelha, com a marca do meu jeans.

Eu nunca quis tanto sumir como agora. Estou olhando pra mão dele e me batendo mentalmente por ter sido desesperada à esse ponto. Eu apertei tão forte assim? Vergonhoso. Muito. Vergonhoso.

O-obrigada pela carona. — falo, com um sorriso nervoso e culpado.

— Foi um prazer. — ele sorri de volta, fazendo questão de usar uma frase com duplo-sentido.

Abro a porta, saio do carro e fecho. Quero morrer.

———

Aiai essa Atena...
Próximo capítulo é a festa, vidas.

Beijos! :)

SELF CONTROL » eren Onde histórias criam vida. Descubra agora