02.

1.5K 92 29
                                    

NOAH

      Queria poder fazer alguma coisa que tirasse a dor agonizante do meu peito. Penso em ir pra aquele beco e usar alguma coisa que me faça parar de pensar na pessoa que eu acabei de perder pelo menos por algumas horas, mas lembro que prometi à ela que não faria isso de novo. Mas agora isso não deveria importar, porque ela não está mais comigo. Alice não está mais comigo. Não consigo acreditar que estraguei tudo. Eu não queria ter contado nada pra ela porque sabia que isso não iria acabar bem. Queria tentar me fazer esquecer o que eu tinha feito e viver em paz e feliz com a menina que eu amo, mas é claro que um dia a verdade viria à tona, só não pensei que fosse hoje, bem naquela hora que o Felipe tinha levado algumas meninas para dançarem pra gente. É claro que eu nem sabia disso, mas então elas entraram e começaram a dançar e eu sequer pensei que a Alice ficaria magoada com isso, porque elas não são nada pra mim. Não escutei o meu celular tocar por conta da música alta e também porque ele não estava comigo, e sim jogado em um cômodo qualquer do quarto. Estou irritado com o Felipe, mais do que nunca. Eu não contei pra ele que a tinha pedido em namoro justamente com medo dele falar alguma coisa pra ela, porque ele sempre tem que estragar tudo. Que tipo de amigo ele é, afinal? Ele me fez contar na frente de todo mundo, me fez humilhar a Alice na frente de várias pessoas. É claro que ela também me pressionou para contar ali, mas tenho certeza de que se ela soubesse do que estava por vir, não teria implorado para eu falar. Eu me sinto perdido, vazio e sem saber o que fazer. De repente, ela se tornou o meu tudo e eu já não sei como viver sem ela. Ela acha que eu menti, que tudo foi uma brincadeira e não foi, eu a amo de verdade e tudo o que eu fiz foi de verdade. Ainda tonto por causa do tanto que bebi hoje, agradeço João que me trouxe até em casa e sem perceber, já estou andando para a casa dela. João me contou que foi ele quem mandou o endereço, porque ela estava preocupada, e eu perguntei à ele o porquê de não ter me feito sair daquele quarto. Ele disse que achava que eu estava traindo a Alice e que não queria se meter, já que eu estava bêbado. Sinceramente, não sei qual dos meus amigos é o pior. Não estou em condições de ter uma conversa decente com ela, mas preciso que ela me escute pelo menos o que eu tentar falar. Não consigo suportar a ideia de ela sinta nojo de mim como disse. Ela disse que me odeia, porra, isso dói tanto em mim. Todas as palavras que saíram da boca dela foi como uma facada no meu peito. Aperto a campainha e me encosto na porta, tentando montar as frases que eu quero falar na minha cabeça. Minha cabeça dói, dói muito, mas não tanto como o meu peito está doendo agora.

— Noah?

Merda. Quem me atende é o Igor, o cara que tem uma implicância enorme comigo e eu nem consigo pensar no que ele faria quando descobrisse o que eu fiz com a Alice. Talvez eu mereça uma surra. Deveria ter deixado a Alice me dar mais um tapa. Deveria ter deixado ela ter feito o que quisesse comigo.

— A Alice está?

— Não, eu pensei que ela estivesse com você.

Ele me encara, e depois franze a testa.

— Pra onde ela foi? — ele pergunta.

— Se eu estou perguntando, é porque também não sei. — suspiro, agoniado. Para onde mais ela deve ter ido nessa chuva? — Se souber dela, me avisa.

— Por que eu te avisaria? O que você fez?

Olho para o cara, querendo dar um murro nele. Estou irritado, triste e estressado demais para arranjar uma briga com alguém, ainda mais com o cunhado da Alice, isso é o que menos importa agora. Saio de frente da casa dela e vou para a casa ao lado, pegando o celular para ligar para a Vitória e a Isadora. Minutos depois, as duas respondem que não sabem dela e eu encosto a cabeça no poste ao lado da casa, na chuva, pensando para onde ela deve ter ido. Espero que ela não esteja sozinha, na rua, correndo perigo. São quase meia noite, e não tem quase ninguém na rua. Começo a andar de um lado para o outro até uma luz se acender na minha mente. A Stefany! Eu não tenho o número dela mas acho que lembro do endereço, então eu peço um uber. Eu poderia pegar o carro do Artur, mas não quero ter que dar explicações agora e também não vou dirigir nesse estado, a não ser que eu queira morrer, o que não é o caso. Pelo menos não antes de conversar com a Alice.

. . .

     O porteio teve que ligar para ela me deixar entrar, e ela não queria deixar, o que quer dizer que Alice está aqui. Eu disse pra ela que ficaria a noite toda na porta dessa porra de apartamento esperando a Alice descer, caso ela não me deixasse subir. Ela falou que a Alice não estava aqui e que eu estava louco, mas se ela não quer me deixar subir, é porque ela está aqui sim. Eu estou em desespero, querendo falar com ela de qualquer maneira. É óbvio que ela não iria me atender se eu ligasse, então eu nem tentei. Stefany aceitou contragosto eu subir, deve estar planejando me expulsar assim que eu chegar lá, mas eu só saio quando conseguir falar com a Alice.

— Eu já falei que ela não está aqui! — ela diz, encostada na porta, sem me deixar entrar. — Você está molhado, deveria ir pra casa! O que você fez? — ela tenta dar uma de desentendida, mas essa não cola comigo.

— Stefany, por favor, só preciso falar com ela. Eu sei que ela está aí. Ela não quer olhar na minha cara, mas eu preciso falar com ela, porra! Eu estou desesperado, eu...

Paro de falar quando vejo Alice atrás da Stefany, de braços cruzados. A cara está inchada e os olhos estão vermelhos, indicando que ela está sofrendo tanto quanto eu. Stefany olha para trás e tenta me expulsar de novo, mas Alice a impede e sai do apartamento, fechando a porta. Estamos no corredor, e qualquer pessoa pode passar por aqui e ver o que está acontecendo.

— Vai pra casa, Noah. Você está bêbado e eu não quero conversar com você. Me deixa em paz.

Ela não olha nos meus olhos e eu quero morrer por isso.

— Eu só quero que você me perdoe, Alice, por favor. Eu te amo, eu não estava mentindo e nem menti pra você esse tempo todo.

— Você mentiu, sim! — ela me olha — você me deixou esse tempo todo achando que você estava apaixonado por mim.

— E eu estou! Eu amo você, qual parte você não entende? Eu não consigo viver sem você, eu preciso de você na minha vida, Alice. Eu sei que eu errei e errei muito, mas você já me perdoou tantas vezes e agora pode perdoar mais uma vez, não pode?

Ela começa a chorar quando vê o desespero na minha voz. Quero abraçar ela e passar a noite pedindo desculpa e dizendo o tanto que ela é importante pra mim e o tanto que eu a amo, mas ela vai ficar irritada e vai me mandar ir embora.

— Não, eu não posso te perdoar, Noah. Não dessa vez.

— Claro que você pode. Você me ama também, não ama?

Olho para ela com esperança, e ela solta um soluço antes de esfregar a mão no rosto para tirar as lágrimas. Resisto ao impulso de tirar uma mecha de cabelo do rosto dela.

— Por favor, eu faço qualquer coisa. Qualquer coisa que você quiser, eu só quero que você me perdoe. — imploro, sem me importar com as lágrimas que caem.

— Eu disse pra você que não queria me machucar e você continuou nessa brincadeira nojenta e mentiu esse tempo todo pra mim. — ela soluça, de novo — Eu amo você, mas não consigo perdoar isso. Não quero mais você perto de mim. Você me destruiu.

E, depois de me matar com essas palavras, ela abre a porta do apartamento e entra, levando junto toda a esperança que eu ainda tinha dentro de mim. Eu realmente a perdi, e não tenho como fazer nada para reverter isso.




Pode sentir pena? 😭

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Pode sentir pena? 😭

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora