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NOAH

Chegar no local que eu vivo desde criança é estranho. Deveria achar esse lugar a minha casa, o lugar em que eu me sinto confortável, mas não é bem assim que eu me sinto. Minha mãe começa a contar algumas histórias na chance de tentar me fazer lembrar, mas não vem nada à minha cabeça. As paredes de cor marfim e o sofá antigo da casa que ela me diz que eu já dormi algumas vezes nele não passam de coisas superficiais na minha cabeça. Não quero que ele fique magoada, então dou apenas um pequeno sorriso enquanto ela fala. Não lembro nem sequer da minha própria mãe. Isso é apavorante.

— O seu quarto é aqui. — ela aponta para a segunda porta no corredor. Estamos só eu e ela aqui, porque Artur foi para o trabalho. Ela também trabalha e estava se explicando para alguém pelo telefone, provavelmente a chefe. Quando abro a porta e olho ao redor, sinto que já estive aqui. É claro que já estive, afinal é o meu quarto, mas é um tipo de sentimento conhecido, no qual eu não tive desde o momento em que entrei nessa casa. Minha mãe me olha com os olhos cheio de esperança.

— É...eu acho que lembro que já estive aqui.

Ela parece perceber a confusão na minha cabeça, então suspira e vai ajeitar a minha cama, me mandando descansar em seguida enquanto ela prepara alguma coisa para eu comer. Pego o meu celular e um sorriso levemente surge em meu rosto quando vejo mensagem da Alice. Eu gosto dela e pelas conversas que eu li, sei que temos algo importante.

"Você já está em casa?"

"Estou. Cheguei faz um tempinho"

Ela visualiza no mesmo instante.

"Mais tarde eu passo aí. Você está bem?"

"Sim, só com um pouco de dor no local dos pontos."

"Pede a Vívian algum dos remédios que o doutor passou. Preciso ir agora, beijos"

"Beijos"

Abro outra aba de mensagens e vejo algumas do João, perguntando como eu estou. O respondo e bloqueio celular, me acomodando no meio dos cobertores que minha mãe jogou aqui. Minutos depois, ela entra no quarto e me faz comer antes de eu tomar um remédio para dor e adormecer.

. . .

  — Fala baixo, você vai acordar ele, idiota.

O sussurro feminino me faz acordar. Abro um pouco os olhos e consigo enxergar um vulto de quatro pessoas com os olhos embaçados. Quando finalmente a minha visão está clara, a única pessoa que reconheço é Alice, que está no cantinho do quarto sorrindo para mim. Tem uma loira, e dois garotos de cabelos castanhos. Olho para um deles e lembro-me da foto do perfil do WhatsApp. Deve ser o João. As outras duas pessoas, não faço a mínima ideia de quem sejam.

— Trouxe isso. — a loira ergue as mãos com um buquê de flores, me deixando totalmente sem jeito.

— Obrigado.

— Eu sou o João, essa é a Rebeca e esse é o Gabriel. — João os apresenta brevemente enquanto a loira coloca as flores em cima da cômoda ao lado da minha cama. Sinto o cheiro levemente doce antes dela se afastar.

— Nós somos os seus amigos e viemos saber como você está.

— Eu estou bem...acho. — minha cabeça está bem confusa agora, porque estou tentando me recordar das pessoas que estão na minha frente. Olho como um pedido de socorro para Alice, que está com uma expressão serena quando se aproxima mais deles.

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora