Nove Dias - Vol. 2

44.

ALICE

         Um beijo pode dizer muitas coisas ou pode simplesmente não dizer nada. Pode te dar borboletas no estômago, te arrepiar, encher o seu coração de emoção, ou pode apenas te dar tesão pelo fato do beijo ser bom. Nesse momento, meu coração está dilacerado e pela primeira vez fico sem saber o que fazer, sem saber como reagir. Noah está me beijando. Para não agir com uma tola, eu o beijo de volta. A sensação é incrível e não consigo descrever o quanto senti falta dos lábios macios dele nos meus. O que eu sinto por ele parece irreal, parece ser de outro mundo. Já o beijei muitas vezes na vida, mas mesmo assim ele ainda consegue me causar a sensação como se fosse pela primeira vez. Como se fosse no dia do verdade e desafio, quando ele me empurrou para um quarto e me beijou contra parede. Não me lembrava do quanto os seus fios eram macios e do quanto ele beija bem. Sim, ele pode ter esquecido de beijar, mas o Noah pervertido que ainda existe no fundo desse cérebro está enfiando a língua dentro da minha boca com movimentos tão perfeitos que me fazem querer gemer.

Já sem fôlego, paramos o beijo e ficamos nos encarando por alguns segundos até eu puxá-lo pelos cabelos e beijá-lo novamente. Estou sedenta demais por ele, sempre fui. Semanas sem o seu beijo parecem anos, e de repente me lembro de que não sei como consegui aguentar meses sem encostar nessa boca. Provocação por parte dele foi o que não faltou, mas acho que estava precisando tanto me libertar do sentimento ruim que eu sentia dentro de mim, que desistir disso e voltar a me aproximar dele seria muito pior.

Ele põe as mãos nas minha cintura, me aproximando um pouco mais. Me contenho a não sentar no colo dele, porque seria demais. Não sei como ele iria reagir ou se ele não iria gostar, então paro o beijo, com a respiração ofegante.

— De-desculpa, eu... — ele começa, mas eu coloco a mão em sua boca.

— Você nunca precisa me pedir desculpa por me beijar.

Ele cora e não diz mais nada. Entramos em um silêncio estranho, acho que nós dois estamos refletindo o que acabou de acontecer. Pego uma colherada da sobremesa e digo mais uma vez que está uma delícia. Enquanto saboreio o limão na minha língua, lembro-me da minha língua na dele. Eu poderia passar horas o beijando para matar a saudade.

— Como foi a sua prova? — ele quebra o silêncio.

Respiro fundo, triste.

— Fui ruim. Tenho certeza de que não irei passar.

Ele leva a mão até o meu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Logo ele afasta a mão, mas eu a seguro.

— Você vai conseguir. — ele acaricia o meu rosto — O que eu fiz com você?

Franzo a testa e o encaro.

— O que?

Ele se vira completamente para mim e me olha com atenção.

— O que eu fiz que magoou você? Sobre o que eu menti?

— Noah, eu acho...

— Eu quero saber, Alice. Por favor. Não consigo imaginar alguém como você sendo machucada por mim e ainda assim estar aqui.

Eu desvio o olhar e encaro a televisão. Isso não vai acabar bem. Fecho os olhos e abro de novo quando ele me vira para olhá-lo, tentando me encorajar.