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NOAH

Não sei o porquê, mas minha mãe está no modo fofoqueira mais do que o normal. Ela sempre quis saber de tudo, mas agora, de dez palavras que ela fala comigo, nove são sobre a Alice. Estamos na mesa, jantando, e enquanto mastiga, ela faz as perguntas.

— Por que terminaram?

— Eu já disse, não estávamos dando mais certo.

— Eu quero que me conte a verdade.

— Mas eu estou falando a verdade! O que deu em você? — descanso o garfo no prato, paro de comer e olho pra ela. Artur me encara, me repreendendo pelo modo de falar, mas eu não ligo. Minha mãe respira fundo e diz:

— Alice me contou que você mentiu pra ela.

— O que? Quando você falou com a Alice?

— Ontem.

— E o que ela disse? — estou nervoso, nervoso e interessado no que elas conversaram, porque cada pequena coisa que interessa a Alice, meu coração já dispara. E não sei se agora está disparando por causa do medo de ela ter contado o que eu fiz ou se é por causa dela mesmo.

— Ela disse que você mentiu e que não consegue conversar com você. O que você fez, filho?

Ainda me dói que ela não queira conversar comigo. Parece que eu sou um tipo de doença contagiosa na qual ela quer se manter bem longe, porque ela só foge de mim. Me odeio por tê-la feito se sentir totalmente em pânico com a minha presença. Me odeio por tudo o que fiz com ela.

— Eu não quero falar sobre isso, tá bom? Eu menti pra ela antes de começar a namora com ela. De qualquer forma, ela já está seguindo em frente.

— Está? — é a vez de Artur me encarar.

— Sim. — abaixo a cabeça, lembrando dela saindo com carro sorrindo com aquele cara. Eu queria poder voltar no tempo e desfazer o que eu fiz, mas eu não posso. Eu não fiquei com ela por causa de uma aposta de merda. Assim que ela pisou os pés na minha sala, ela me chamou atenção. A aposta foi só um detalhe, um detalhe de merda.

Deixo a metade do meu jantar no prato e vou para o meu quarto sem falar nada. Minha mãe não vai parar de me encher com esse assunto e eu preciso inventar alguma coisa para ela não conseguir arrancar a verdade. Ela sentiria repulsa de mim igual a Alice. Ela me odiaria, e Artur que sempre foi paciente comigo, me odiaria também. Eu não quero que mais ninguém que eu ame me odeie, não vou conseguir aguentar. Disposto a tentar falar com a Alice, eu tomo banho e espero os dois entrarem para o quarto para eu abrir o portão e sentar na calçada. Eu poderia esperar até amanhã na escola, mas na escola ela vive com as meninas e tem mais facilidade de fugir de mim. Aqui é só ela, sozinha e sem mais ninguém para me impedir de conversar com ela. Preciso que ela mantenha o silêncio dela em relação ao que eu fiz. Fico olhando em direção ao começo da rua, que é por onde ela vem. Meu maior medo é que ela venha de novo com aquele cara, porque eu com certeza vou desistir de querer conversar com ela. Quando a vejo entrando na rua, me levanto, ansioso. Ela anda praticamente se arrastando, provavelmente cansada. Fico feliz que ela esteja sozinha, mas ao mesmo tempo me sinto um idiota, porque pelo menos se ela vir com aquele cara, ela não vai estar correndo perigo sozinha na rua. Mas não quero ela com ele, merda. Queria poder fazer uma massagem para relaxá-la ou algo do tipo e depois dormir abraçado com ela. Sentir o seu cheiro e o calor de seu corpo...como eu sinto falta dela.

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora