03.

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ALICE

Bella me ligou treze vezes e me mandou um milhão de mensagens nessa madrugada, que foram resumidas em: "Onde você está?", "O que está acontecendo?", "Me atende, Alice!". Eu respondi apenas com um: "Eu estou na Stefany e estou bem". Passei a noite em claro pensando na vinda do Noah aqui, e só consegui dormir às quatro da manhã quando meu corpo não aguentava mais ficar em pé e os meus olhos estavam se fechando sozinho, cansados. Ele estava acabado assim como eu estou, mas foi ele quem começou isso. Foi ele quem mentiu pra mim. Foi ele quem destruiu o que nós tínhamos. Ele estava bêbado, mas tenho certeza que vai se lembrar do meu pedido para me deixar em paz. Preciso esquecer ele e o que ele fez comigo, e pra isso ele precisa se manter longe de mim. Não me sinto pronta para voltar a conviver com ele todos os dias na mesma sala, e é por isso que faltei aula hoje e vou faltar mais alguns dias até eu estiver certa de que consigo. Preciso me manter forte e arranjar forças de onde não tenho para seguir em frente, mas preciso de alguns dias. Só mais alguns dias e eu volto a viver a minha vida normalmente, como se ele nunca estivesse aparecido na minha frente. Aproveito que estou com o celular na mão para bloqueá-lo em todas as redes sociais. Pode parecer um gesto infantil, mas não quero receber uma mensagem dele que me afete e me faça mal. Queria pode me mudar de escola e de casa para não ter que ver ele nunca mais e me afastar pra sempre, mas infelizmente as coisas não funcionam tão fáceis assim. Quando entro na minha galeria e vejo as poucas fotos que tiramos juntos, meu coração volta a doer e eu largo o celular na cama. Respiro fundo para não chorar e me levanto da cama. Posso faltar aula mas ainda não posso faltar trabalho, se ainda quiser ter um emprego. E eu preciso desse emprego.

. . .

Coloco o meu avental e prendo o cabelo. Assim até parece que a minha vida está normal e que Noah vai estar me esperando quando eu saí às meia noite pela aquela porta. Termino de anotar os pedidos de uma mesa lotada de homens que me deixaram extremamente desconfortável. Eles ficaram me encarando de uma forma nojenta, e eu só queria poder não atendê-los. Por que existem homens assim? Eles acham que a gente gosta?

— Você está bem, querida? Parece tão exausta.

Dou um pequeno sorriso para Marta e respiro fundo.

— Realmente estou exausta, mas a questão é que eu não posso ficar exausta.

— Se não estivesse tão lotado, eu liberaria você, mas é que eu realmente estou precisando da sua ajuda ou não consigo dar conta de tanta gente.

— Não precisa, dona Marta. Está tudo bem, não preciso ir embora.

Mas queria. Minha cabeça está doendo por não ter dormido bem à noite e as olheiras mostram claramente isso. O meu trabalho é uma boa forma de ocupar a minha cabeça e eu não posso perder isso. Estar ocupada demais me faz pensar menos no Noah, e isso me ajuda a seguir em frente. Foi isso que fiz quando vi Vinicius bem na minha frente, por mais que a situação seja incomparável. Eu também precisei ver ele todos os dias na escola e chorava quando via ele com a outra menina, mas foi tudo bem rápido. Em duas semanas eu já estava bem; triste, mas bem, e sinto que com Noah não vai ser assim, por mais que eu tente. Foi tudo tão intenso e ele fez eu me apaixonar tanto...ele era o meu pontinho de felicidade. Por mais que brigássemos, eu tinha ele. Eu poderia correr para os braços dele e ele poderia me acalmar. Meu dia poderia estar uma merda, mas era só ele abrir aquele sorriso incrivelmente lindo que tudo ficava bem. Passo a mão no rosto e volto à atender as mesas. Queria ter o poder de tirá-lo da minha cabeça.

Quando chega ás meia noite, pego o ônibus e vou direto para a casa da Stefany. Queria passar em casa e pegar algumas coisas, mas a Bella irá me encher até eu contar tudo, e tudo o que eu mais quero é esquecer essa história toda.

— E aí, Alice. — Guilherme acena a cabeça quando passo pela porta. Ele e Stefany estão deitados no sofá, assistindo um filme. Pelo horário, é provável que ele vai dormir aqui.

— Oi. — sorrio.

— Senta aqui, ver um filme com a gente. — Stefany se senta e aponta para o lugar ao seu lado.

— Eu estou cansada, vou dormir. Boa noite.

Ela me encara com uma expressão triste, porque sabe o quanto eu estou mal. Entro no quarto e pego o celular, na esperança ver uma mensagem do Noah, até lembrar que eu o bloqueei. Por que eu quero que ele me mande mensagem, aliás? Se eu quero me afastar dele, não devo esperar nada. Me deito de costas na cama e olho para o teto, pensando em como a minha vida foi virar esse furacão todo. Só queria poder ter uma vida normal e feliz, e não ter que me preocupar com nada a não ser passar na minha faculdade. Sinto tanta falta dos meus pais. Queria poder ter a minha mãe aqui para me aconselhar e me ajudar, assim como fez quando soube do Vinicius. Ela era tão maravilhosa...e sabia sempre o que dizer. O que será que Vivian e Artur disseram quando Noah falou o que tinha feito comigo? Espero muito que eles não tenham o odiado, por mais que ele tenha feito um absurdo desses comigo, eu não quero que ele seja odiado por eles. Noah tem que ser muito amado para aprender a lidar com as pessoas e aprender que não se deve brincar com os sentimentos de alguém assim como ele fez comigo. Ódio não vai ajudá-lo nisso, só vai o fazer se sentir mais culpado. Me odeio por sentir uma certa pena dele, mas não consigo passar por cima do que ele fez comigo. Ainda dói que ele tenha sido pago para ficar e transar comigo. Tiro a roupa e vou para o banheiro, entrando embaixo do chuveiro. Automaticamente me lembro de quando tomamos banho juntos pela primeira vez. Espanto o pensamento da minha cabeça e percebo que hoje eu não chorei por ele, e não vai ser agora que vou chorar. Um dia de cada vez, eu vou conseguir.
Um dia de cada vez.



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Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora