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ALICE

      A dor no meu peito e o desespero me invade enquanto Noah está desacordado e completamente ensanguentando nos meus braços. Grito por socorro enquanto as lágrimas caem e eu rezo para que ele fique comigo. Ele precisa ficar comigo. O sacudo e grito para que ele acorde, mas ele não reage de jeito nenhum. Sinto medo, o medo desesperador da perda. Eu simplesmente não posso perdê-lo, não posso perder mais uma pessoa que eu amo. Ele não pode ir agora, logo que as coisas entre nós estão resolvidas e temos uma vida inteira pela frente. As lembranças da noite em que eu perdi os meus pais passa pela minha mente e eu sinto a mesma dor de novo, só que dessa vez mais forte. A sensação de não poder ver, falar ou tocar alguém de novo é angustiante e arrebatadora, me mata por dentro e sinto os meus órgãos paralisando.

— A ambulância está chegando.

Me viro para reparar pela primeira vez que o motorista do carro que o atropelou está abaixado ao meu lado. Eu nem o escutei falando com a ambulância. A culpa não é dele, Noah quem não prestou atenção quando foi passar a rua e eu estou grata por ele estar me ajudando. Tem muitas pessoas ao nosso redor, mas a maioria são apenas curiosos querendo saber o que aconteceu. Levo minhas mãos trêmulas até a cabeça do Noah, onde tem um ferimento bem ao lado. O rosto está todo machucado pela surra que Igor deu, e por um momento eu o culpo. Se eles dois não tivessem chegado em casa e armado uma confusão, eu poderia estar com Noah agora tomando café da manhã ou deitada no meu quarto assistindo alguma coisa. Mas não, estou aqui com ele praticamente morto nos meus braços.

Ouço o barulho da ambulância se aproximando e quando estacionam, os paramédicos rapidamente o tiram dos meus braços para o colocarem na maca. Me levanto do chão e os acompanho, sentindo minhas pernas fraquejando.

— Ele está perdendo muito sangue — um deles grita quando olha Noah por completo. — O que você é dele?

— Namorada. Eu posso ir junto? — pergunto quando eles colocam Noah dentro da ambulância junto com uma máscara respiratória. Fico aflita ao vê-lo assim, mas vou ficar mais ainda se não conseguir ter notícias dele e saber o que realmente está acontecendo.

— Os pais dele já sabem?

E então eu me lembro de Artur e Vivian. Eles não fazem ideia do que acabou de acontecer. Quando consigo entrar na ambulância, pego o meu celular do bolso e ligo para Vivian. Ela vai ficar desesperada e meu coração dói pelas confissões duras que ela já teve hoje. Não sei se Artur está com ela e isso me deixa mais nervosa porque tenho medo dela não ter estrutura para lidar com a notícia, mas não consigo falar direito em meios as lágrimas  quando ela me atende e começo a contar o que aconteceu.

. . .

        Meu corpo inteiro está doendo e minha roupa está suja de sangue enquanto espero ansiosamente por alguma notícia do Noah. Não me deixaram entrar na sala ainda porque disseram que estão examinando cada parte atingida do corpo dele e se ele quebrou alguma coisa. Aparentemente, eu não o vi com nada quebrado, mas fiquei assustada com o ferimento na cabeça dele, tenho certeza de que precisarás de alguns pontos. Fiquei um pouco mais calma quando disseram que estavam sentindo a pulsação dele no pulso e no pescoço e que ele só estava desacordado por causa do impacto do acidente. Vivian e Artur estão aqui, Artur saiu direto do trabalho quando soube. Vivian está em pânico, e por mais que eu esteja assim por dentro também, estou tentando não demonstrar a minha preocupação a ela, porque não quero que ela passe mal de nervosismo. A última coisa que queremos é mais uma pessoa no hospital.

Meu celular vibra com Stefany me ligando mas desligo, e deixo uma mensagem resumindo o que aconteceu. Não estou em condições de falar com ninguém agora, me sinto fraca e sem voz, apenas querendo que Noah saia daqui o mais rápido possível. A enfermeira que nos estar dando notícia passa pelo corredor e não dá nem tempo de ela chegar até nós, porque Vivian praticamente corre até ela. Fico sentada, atenta ao que ela vai dizer.

— Como ele está? — Vivian pergunta, inquieta e altamente nervosa.

— Ele acordou.

Fecho os olhos e agradeço mentalmente, aliviada.

— Nós podemos vê-lo? — Artur pergunta, preocupado. Apesar de tudo, ele ama Noah. O tem como um filho, e mesmo ele fazendo todas as coisas erradas possíveis, ele nunca o abandonaria.

— Sim, mas só pode uma pessoa por vez. — ela avisa, olhando para nós três. Vivian nem nos olha e vai andando na frente, e fico impaciente sentada no banco gelado do hospital. Já passam da três da tarde e eu estou com frio e suja, mas não saio daqui até ver Noah com os meus próprios olhos para que ele saiba que eu estou aqui.

— Alice, se você quiser, pode ir pra casa para tomar um banho e comer alguma coisa. Nós ficamos aqui — Artur fala.

— Não, eu quero ficar. — dou um pequeno sorriso e encosto a minha cabeça no banco.

Após alguns minutos de silêncio, Artur diz:

— Noah tem muita sorte de ter você e não acredito no que ele fez.

Me viro para ele de novo.

— Ele erro muito e errou feio, mas essa aposta foi feita há meses atrás. Ele é uma boa pessoa, Artur, eu sei disso. E vi o quanto ele aprendeu com o erro dele, por isso estou aqui.

Ele fica em silêncio e Vivian volta, com lágrimas nos olhos. Artur se levanta e a abraça.

— Ele não me reconheceu, está sem memória.

Meu coração acelera e eu me levanto rapidamente do banco.

— O que?

— Alguém mais vai querer entrar? — a enfermeira volta a perguntar, e olho para o Artur, que confirma a cabeça pra mim e eu vou seguindo atrás dela até a sala em que ele está.

— Ele está sem memória? — pergunto, com a voz falhando.

— Sim, mas pode ser por causa da batida. Ainda não temos como dizer que vai ser permanente ou apenas por alguns meses.

Meses? Quando entramos na sala, não consigo ver muito do seu rosto que está todo machucado, mas consigo vê-lo franzindo a testa. Me aproximo dele e me limito a falar o que eu queria falar, porque ele não lembra quem eu sou.

— Estou tão aliviada por ver você acordado — digo, me segurando para não chorar. — Como você está se sentindo?

— Com um pouco de dor, mas bem...você é alguma prima? — ele pergunta, totalmente confuso.

E então eu transbordo, sem conseguir segurar as lágrimas. Ele não lembra de mim...ele não lembra do que vivemos e do que aconteceu. Isso dói tanto. Eu sou uma estranha pra ele...e se ele nunca mais souber quem eu sou?


e se ele nunca mais souber quem eu sou?

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🥺

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora