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NOAH

Meu corpo inteiro está dolorido, só não mais do que a minha cabeça. Bati forte a cabeça no atropelamento do qual eu não me lembro nada, e isso me fez esquecer tudo, até quem eu sou. Só soube o meu nome porque a enfermeira me chamou, mas não consigo lembrar de mais nada da minha vida. Quando vi a mulher que disse que era a minha mãe, não consegui ter nenhuma lembrança vaga dela. Quando vi a outra, Alice, eu consegui sentir como se a conhecesse de algum canto. Sabe quando você vê uma pessoa e tem a sensação de que já viu antes? É bem assim que eu me sinto com ela, mas não sabia nem o nome. Ela pareceu bem emocionada quando me viu e disse que não era prima e nem irmã, então não consigo imaginar nada além de que ela seja uma garota que eu me importava muito e que ela tinha bastante significado pra mim. Não sei se somos apenas amigos ou algo a mais, ela não teve tempo de me contar muita coisa. Ela insistiu para poder ficar mais um tempo, mas a enfermeira disse que ela precisava ir embora e a levou daqui.

Já fiz vários exames e também levei alguns pontos no ferimento da cabeça. Provavelmente esse é o ferimento responsável pela minha falta de memória. Não consigo me lembrar de nada, nem de como aconteceu esse acidente ou onde eu estudo, onde eu moro, quantos anos eu tenho...nada me vem à cabeça. É bem desolador esse sentimento de não saber quem eu sou e o que eu vivi...de não saber as mínimas coisas sobre a minha vida. Alice me contou que nos conhecemos no começo do ano, estudamos juntos e que terminamos o terceiro ano há alguns dias. Não me recordo de nada da escola e nada do que aprendi, e isso está me deixando nervoso. Eu sou estudioso? Eu fiz alguma merda grande para alguém? Eu bebo? Eu fumo? Eu sou um bom filho? Eu já tive uma namorada? São tantas perguntas não respondidas que me deixam agoniado.

Um homem alto e aparentemente de quarenta anos entra na sala, falando algo para a enfermeira antes dela sair. Não faço ideia de quem seja...é o meu pai? Ele respira fundo e vem andando em passos lentos até mim.

— Oi. — ele murmura e olha para os meus ferimentos, como todas as outras pessoas que já entraram aqui fazem. — que pancada, hein?

— Você é...?

— Sou Artur, o seu padrasto.

É tão confuso não lembrar das pessoas e de elas fazem parte da minha vida.

— Eu trouxe isso aqui. — ele ergue a mão, me mostrando um celular — é seu e você tem permissão para ficar com ele. Achei que seria bom para que você pudesse ver algumas fotos e  lembrar de alguma coisa, ler algumas conversas. Não sei como, mas ele não estragou no acidente. — ele me entrega e eu ligo o aparelho que tem um breve trincado na tela, com a foto da Alice. Precisa de uma senha para que eu possa desbloqueá-lo, mas é claro que eu não lembro.

Eu não sei a senha.

— Merda...é claro que você não ia saber. — ele diz, desapontado consigo mesmo. — Acho que a Alice pode saber, depois você pode perguntar a ela, se quiser.

— Certo...

Não sei qual grau eu e Alice temos de proximidade, mas para ela estar bem na minha tela de bloqueio deve ser porque eu a considero muito...ou não, talvez eu tenha achado a foto bonita e apenas colocado. Não sei do que eu pensava antes e nem agora, então resolvo perguntar:

— O que ela é minha? — viro a tela para ele, mostrando a foto.

— Sua namorada. Ela não contou? — ele franze a testa e eu também, porque saber que eu tenho uma namorada é chocante. Como nos conhecemos? Como foi o pedido de namoro? Como foi o nosso primeiro beijo? Será que eu sei beijar?

Não.

Agora estou com ainda mais vontade de desbloquear esse celular e saber mais sobre mim. É angustiante não saber sobre você mesmo e não lembrar das pessoas importantes da sua vida...é tudo muito estranho e confuso. Ver minha mãe, meu padrasto, minha namorada e considerá-los meros estranhos é um sentimento horrível. Me sinto impotente e com medo, medo de nunca mais lembrar de nada.

— Ela foi para casa tomar um banho e comer, mas acredito que ela venha de novo para tentar ver você mais uma vez.

É bom que ela venha aqui...ela pode responder todas as perguntas que eu quero fazer sobre a minha vida. Eu não a conheço realmente, mas eu pareço ser importante pra ela pela forma em que as lágrimas caíram do rosto dela quando me viu.

— Você sabe quando eu vou receber alta?

Quero conhecer a minha casa para ver se consigo lembrar de alguma coisa. Eu moro sozinho ou com eles?

— Não, infelizmente não. Talvez quando seus exames estiverem tudo ok, mas por enquanto você está em observação.

— Ah...eu moro com vocês?

— Sim, comigo e com a sua mãe. Alice mora na mesma rua, duas casas depois e em frente a nossa.

Nós moramos na mesma rua e estudamos na mesma escola, o que quer dizer que devemos ter bastante história juntos. Estou curioso para saber cada detalhe, mas a enfermeira entra novamente e Artur se despede de mim, prometendo voltar.

— Você vai tomar um remédio para dor agora, tudo bem? Talvez fique um pouco sonolento — confirmo com a cabeça e ela troca a bolsa de soro que eu estava tomando antes pela bolsa de remédio antes de enfiar a agulha na minha veia. — Qualquer coisa, é só apertar o botão vermelho aqui, tá? — ela aponta para o botão ao lado da cama e dá um pequeno sorriso antes de sair e fechar a porta.

Pego o celular na mão e continuo olhando a foto da Alice. Tento a senha aleatoriamente mas não adianta e desisto antes que eu bloqueie o celular. Não sei nem sequer a minha data de nascimento. Fecho os olhos e torço para que eu sonhe com alguma lembrança enquanto o remédio entra dentro do meu corpo para aliviar a forte dor na cabeça.


Postando esse horário porque amanhã vou trocar se celular e tenho medo de perder o rascunho

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Postando esse horário porque amanhã vou trocar se celular e tenho medo de perder o rascunho. Me perdoem 🥲
Aos que madrugam, espero que tenham tido uma boa notificação ❤️

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora