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ALICE

Que desastre.
A chuva me molha inteira enquanto espero na parada do ônibus. Eu poderia chamar um táxi ou ligar para alguém, mas estou sem dinheiro e sem o meu celular. Fiquei tão nervosa na hora em que saí de casa que deixei o celular em cima da mesa na casa da Ste. Não conheço ninguém que fez prova no mesmo local que eu, então não tenho a quem pedir socorro. Eu fui umas da três últimas a sair da sala depois de seis horas de prova, me sinto um caco. Tenho quase cem por cento de certeza de que não conseguirei uma bolsa de estudos através dessa prova e isso me deixa mais um caco ainda. Um caco burro, quebrado e molhado.

O ônibus finalmente chega e eu sou obrigada a enfiar o meu sapato dentro da poça de lama para conseguir alcançar o ônibus. Quando acho um lugar vago, agradeço aos céus e me sento na cadeira. Encosto a cabeça na janela e rezo para que esse ônibus vá para o lugar que eu penso que irá, ou eu estarei mais ferrada ainda. Que droga.

Encarando a chuva forte caindo através da janela, lembro-me de quão mal eu fui nessa prova. Eu estudei muito, estudei o ano inteiro, mas parece não ter sido nada quando eu lia alguma questão, não entendia e depois ia para outra e entendia menos ainda. Suspiro, me sentindo horrível e olho para o céu, lembrando dos meus pais e do quanto eles queriam me ver formada no que eu amo. Desde pequena eu sempre dizia que queria cuidar dos animaizinhos e ajudá-los, e depois que cresci isso não mudou, pelo contrário, o amor pela medicina veterinária só aumentou. Meus pais me apoiavam, assim como apoiavam Bella a fazer psicologia. Eles eram as pessoas mais incríveis do universo, e não consigo dizer o quanto sinto falta deles. Acho injusto que pessoas tão boas tenham sido levadas tão cedo. Queria poder trazê-los de volta e ter o apoio dos dois quando eu chegasse em casa e dissesse que tinha me saído péssima. Fungo quando me dou conta de que estou chorando e limpo as lágrimas embaixo dos olhos. Ah, como vocês fazem falta...eu nunca vou conseguir me acostumar com essa dor. Nunca vai fazer sentido e nunca o vazio dentro de mim vai se preencher quando descobri que eles estavam voltando da viagem mais cedo pra nos fazer uma surpresa. E se tivessem escolhido pegar a estrada em outro dia? Se fosse no dia seguinte ou em qualquer outro dia? Eles ainda poderiam estar aqui.

O ônibus para e vejo a rua conhecida que fica antes da casa da Ste. Agradecendo mais uma vez, desço do ônibus e vou me arrastando na chuva em caminho do apartamento dela. O porteiro vai querer me matar quando me ver toda suja querendo entrar, meus pés estão cheio de lama. Quando finalmente chego, o porteiro me lança um olhar de pena e me ajuda a tirar os sapatos para não sujar tudo. Meus lábios tremem com o frio enquanto caminho até o elevador. Tudo o que eu necessito agora é tomar um banho e dormir por no mínimo três dias seguidos para conseguir descansar completamente. Ainda bem que amanhã é domingo e posso passar o dia dormindo. Pego a chave da porta no bolso e abro, parando no tapete.

— Ste? — a chamo. — Ste? — grito mais uma vez, mas não obtenho resposta.

Corro para o banheiro e tiro a roupa, tomando um banho rápido antes de estender a roupa molhada e pegar o meu celular. Ste não está em casa, e vejo a mensagem de que ela saiu com o Guilherme. Vejo várias mensagens no grupo da escola mas ignoro, não sei se quero falar o quanto fui ruim na prova. Também tem uma mensagem do Noah perguntando se já cheguei, e automaticamente sinto um aperto no peito. Mais um dia sem vê-lo. Não tenho forças para pegar mais um ônibus com o mundo caindo lá fora. Estou muito, muito cansada. Antes que eu possa responder a sua mensagem, ele me liga.

"Oi, você está bem? Já está em casa?"

"Oi, já cheguei, mas acabei me molhando com a chuva e tive que vim pra casa me trocar e pegar o meu celular. E não, não estou muito bem."

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora