27.

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ALICE

5 meses depois.

     Bella me ajuda a terminar de subir o zíper do meu vestido e me olha pelo espelho a nossa frente.

— Você está tão linda. — Bella diz, com os olhos enchendo de lágrimas.

Finalmente o ano acabou e a minha formatura chegou. Nem consigo acreditar que consegui terminar o ensino médio. Depois que os meus pais morreram, eu me senti incapaz de tudo e desfocada, mas tirei uma força não sei de onde para conseguir me reerguer, mas aí veio o Noah e me derrubou de novo, e consegui me reerguer mais uma vez. Faz muito tempo desde a última vez que me senti tão bem na vida. Queria muito que os meus pais estivessem aqui para verem eu me formando e vendo os olhinhos brilhando de orgulho por mim, igual foi na vez da formatura da Bella.

— Posso entrar? — Igor pergunta, batendo na porta do meu quarto.

— Pode.

— Uau — ele diz quando olha para Bella, e depois repete quando olha pra mim. Ele não tinha nos visto ainda — Já podemos ir?

— Acho que preciso vomitar antes — Bella fala e corre para o banheiro. Franzo a testa, porque Bella está vomitando há dias.

— Ela não está bem.

— Eu sei, mas ela não quer ir ao médico — Igor suspira e passa aos mãos pelo cabelo — Eu acho que ela pode estar grávida — ele sussurra e eu arregalo os olhos.

— O que?

— Não podemos descartar as possibilidades, mas depois comprarei um teste. Agora, vamos curtir o seu dia — ele se aproxima e me abraça — Nem acredito que você é uma adulta agora, Lice.

Dou risada e abraço de volta. Realmente sou uma adulta agora. O meu aniversário de dezoito anos foi há dois meses atrás. Não foi uma grande coisa, eu não estava no clima para organizar uma festa, por mais que Rebeca tenha insistido. Bella apenas comprou um bolo e chamei os meus amigos para cá; João, Gabriel, Rebeca, Isa, Vitória, Stefany, Guilherme e Noah. Eu e ele estamos nos dando bem, e estou surpresa por ele realmente estar respeitando o meu tempo e não me pressionando com o que eu deveria fazer. Não sei se ele ficou ou não com outras pessoas, mas se tiver ficado, não vou culpá-lo, porque não estamos juntos. Eu não fiquei com ninguém, faz um pouco mais de cinco meses que eu não sei o que é beijar alguém. Diego — o que trabalhou comigo na loja — tentou, mas eu realmente não estava no clima. Nos encontramos um dia no shopping na hora do almoço dele, então ficamos conversando e depois que ele soube que eu estava solteira, pediu para sair comigo, mas eu neguei. Eu não me sentia preparada para voltar com Noah e nem para me relacionar com ninguém, eu precisava ficar sozinha para conseguir me reorganizar a colocar os meus pensamentos em ordem, e não arranjar mais confusão para a minha cabeça. E isso funcionou bem, porque agora estou terminando o meu ensino médio me sentindo perfeitamente bem e satisfeita, apesar do ano desastroso que eu tive.

Bella sai do banheiro e retoca rapidinho a maquiagem antes de irmos para o carro do Igor. Estou nervosa, ansiosa e emocionada ao mesmo tempo. Não consigo decidir qual das emoções está me dominando agora quando chegamos na escola. Igor me manda esperar e abre a porta pra mim, me fazendo rir com o gesto. Eu não vim com nenhum par, mas estou despreocupada com isso, porque a maioria das pessoas também vieram sozinhas. Pra que essa história de par, afinal? Todos nós ficaremos juntos com os nossos amigos e de casal com alguém. Um par só é necessário na hora da dança, e eu posso muito bem sair correndo para o banheiro quando chegar nessa hora.

— Caramba — Vitória se aproxima abrindo a boca, abismada, como se eu fosse algo de outro mundo. Ela e Isadora são as primeiras pessoas que vejo, e vou até elas abraçá-las. — Você está ma-ra-vi-lho-sa — ela enfatiza cada uma das sílabas.

— Alice! — Rebeca corre com dificuldade com o vestido rosa todo feito de Swarovski. Brilha tanto que eu tenho certeza que se desligassem toda a iluminação da escola, ainda assim teríamos um pouco de luz do vestido dela. Ela me abraça e eu vejo Gabriel, logo em seguida Noah ao lado dele. Ele me olha e o meu coração acelera, porque ele está perfeito. Eu nunca o vi de terno em todo o tempo em que eu o conheço, e parece que esse foi feito exatamente para ele.

— Meu Deus, o seu vestido brilha muito — digo quando saímos do abraço, olhando admirada para o vestido dela. Ela dá um rápido abraço na Isa e na Vitória. As duas meio que simpatizaram com ela no meu aniversário quando ficaram bêbadas. Também já falei pra elas que a Rebeca é outra pessoa agora, e fico feliz que a Rebeca tenha mais duas amigas e que eu não preciso me dividir entre elas. Gosto de quando estão todas juntas.

Nervosa e sentindo um frio na barriga quando vejo pelo canto do olho Noah vindo na minha direção, me viro para ele antes de sorri e abraçá-lo. Tento sair o mais rápido possível, porque não quero que ele sinta o quanto o meu coração acelera quando sinto o corpo dele no meu, mas ele me segura forte e dá um breve cheiro no meu cabelo. Parece um abraço reconfortante, como se ele precisasse disso e como se quisesse mostrar que me ama sem dizer nenhuma palavra. Fecho os olhos quando sinto o cheiro dele. Não sinto mais nojo e nem raiva dele, apenas o amor. Quando eu o perdoei na viagem, eu o perdoei com todo o meu coração, e meio que isso foi uma libertação pra mim também. Naquele momento eu deixei toda a mágoa para trás, querendo apenas momentos bons nosso na minha mente. Minha mãe sempre me disse que não é saudável ficar guardando sentimentos ruins, porque isso acaba com a sua mente, então eu resolvi deixar tudo ir com o vento que estava batendo forte na gente naquela noite. Depois da viagem, nos falamos pelo restante das férias e pelos dias anteriores até hoje, e é inacreditável como tudo está fluindo naturalmente entre nós dois. Estamos respeitando um ao outro, mas sempre Noah solta uma piada maliciosa para me provocar, e eu adoro isso, porque gosto de saber que ele ainda sente desejo por mim assim como eu sinto por ele.

— Parece que não vamos mais nos ver na escola — ele comenta quando saímos do abraço mais que demorado.

— Pois é...adeus, escola.

— Não pense que vai se livrar de mim.

— Quem disse que eu quero? — sorrio e ele sorri também, mas nossa troca de sorrisos é interrompido quando Bella chega e fala com ele, e Igor também. Bella ainda não sabe da história e nem mais ninguém além dos nossos amigos próximos e algumas pessoas que estavam presentes naquela festa absurda. — Cadê a sua mãe? — pergunto e seguro o seu braço quando ele o estende para mim.

— Esperando eu chegar com a nora dela.

Dou risada e encosto a minha cabeça no ombro dele enquanto comentamos sobre a decoração e a roupa das pessoas na festa. É tão bom estar em paz e em um clima leve com ele...não me lembrava o quanto era bom me sentir confortável e a vontade ao lado da pessoa que eu amo.

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Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora