40.

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ALICE

     O vestibular é nesse fim de semana. Não estou conseguindo me concentrar direito nas coisas acontecendo tão rápido ao meu redor, mas não vou desistir de fazer a prova. Quase que no mesmo segundo me lembro do Noah. Eu sempre estou pensando nele, mas enquanto me lembrava da data da prova, me lembrei que ele se inscreveu também. Não só se inscreveu como se esforçou e estudou com o Gabriel. Meu peito dói por ele não ter condições alguma de realizar essa prova agora e deixar para pensar na faculdade apenas no próximo ano. Muitas coisas mudaram em poucos dias, e não faço ideia do que esse novo Noah vai querer fazer da vida. É como se eu o estivesse conhecendo agora, e não posso ultrapassar limites e nem consigo demonstrar o quanto eu o amo e sinto falta dele. Ele também tem o mesmo sentimento que eu, mas está me aceitando bem por agora. Nunca notei algum incômodo quando estou perto dele ou quando o abraço. Aquele abraço me conforta tanto...sinto vontade de desabar nos braços dele e contar tudo o que estou sentindo, mas ele não entenderia. Não tem como amar uma pessoa que você não conhece.

— O que está te deixando tão preocupada?

Ste me pergunta. Tive que vim na casa dela para tomar um banho porque de tão atordoada que estava hoje, com os pensamentos em outro lugar, acabei derramando um prato de macarrão em cima de mim. Ainda bem que tenho uma chefe bondosa e paciente, ou eu já estaria no olho da rua. Ela está até me deixando sair alguns minutos mais cedo para poder visitar Noah.

— Tudo. — solto um suspiro. — A situação toda não está me fazendo bem. Eu só queria que tudo se resolvesse, sabe?

Quando pego meu celular, vejo uma mensagem de Igor.

"Onde você está? Está bem? Por favor, me responde"

"Estou bem. E a Bella?"

"Vomitando muito. Quando vai voltar pra casa?"

Trato a última mensagem como o fim do assunto e bloqueio a tela do celular. Não sei se quero lidar com uma irmã cheia de hormônios e prestes a matar o primeiro ser humano que ver na frente. Não quero que a nossa relação piore mais. Sei que os meus pais não gostariam nada disso, mas não posso deixar Bella achar que pode se intrometer tanto na minha vida como pensa. Ela é minha irmã mais velha, sim, mas eu não preciso ser tratada como criança.

— Quer que eu vá te deixar? — Ste levanta as sobrancelhas, animada para dirigir o carro do namorado. Ela teve algumas aulas com ele, mas não sei se devo confiar. Vendo a dúvida estampada na minha expressão, ela geme. — Por que ninguém acredita no meu potencial como motorista? Eu não sou tão ruim assim!

— Tá, tudo bem. Vamos. — dou uma risadinha quando ela dá pulinhos de alegria e saímos do quarto para seguir até o elevador.

      Talvez ela tenha atropelado alguns pombos e quase batido o carro pelo umas dez vezes, mas consegui chegar viva. Me despeço dela com um abraço e ela me pede para avisá-la quando for a hora de ir embora. Quando saio do carro, dou uma olhada para a minha casa. Está tão perto...eu poderia ir lá se fosse capaz de suportar alguns sermões. Toco a campainha e espero ansiosamente do lado de fora até Vivian abrir a me receber com um abraço apertado.

— Querida, que bom que você chegou. Já jantou? — ela me pergunta enquanto me guia para dentro da casa, e eu me admiro ao ver Noah sentado na mesa da cozinha com Artur. Ele me encara por alguns segundos e eu dou um sorriso, sendo retribuída pelo sorriso lindo dele. Artur acena com a cabeça e eu também, me sentando ao lado dele.

— Não jantei, mas estou sem fome.

— Tem certeza que não quer comer um pouquinho? — ela insiste e eu acabo aceitando.

— Como você está? — pergunto ao Noah, que parou de comer e está sorrindo o tempo todo.

— Estou bem, e você?

— Bem, também.

— Ele sonhou com você. — Artur comenta, e vejo as bochechas de Noah avermelhando-se lentamente.

— Sonhou?

Ele afirma.

— Não sei se é alguma lembrança, mas senti que aconteceu. Nós estávamos na praia à noite olhando as estrelas. Você estava...chorando.

Meu coração acelera com as palavras dele. Foi no dia da nossa viagem. Quando viajamos para a pousada do pai da Rebeca e de madrugada fomos para o mar. As lágrimas ameaçam brotar nos meus olhos, mas eu as seguro para que ninguém se preocupe. Ele lembrou...

— Isso aconteceu. — minha voz falha e eu tomo um copo d'água. — Bom, não sei exatamente como foi seu sonho, mas nós ficamos de frente ao mar juntos em uma viagem de fizemos.

— Então você lembrou? — Vívian olha para o filho, emocionada.

— Eu considero isso uma lembrança. — sorrio, feliz por ele. Feliz por nós dois. As coisas irão se ajeitar, é só uma questão de tempo. Noah abre um sorriso antes de Artur começar a contar as novidades do trabalho.

Ficamos em silêncio o restante do jantar até Noah tomar os remédios e ir para o quarto. O sigo depois de ajudar a arrumar a mesa de jantar, mesmo Vívian dizendo que não precisava. Eu jantei com eles, então sinto que devo ajudar na hora da limpeza também. Sentada na beirada da cama do Noah, lembro de vários momentos que tivemos nesse quarto. Saudade do calor dos braços dele ao meu redor quando dormíamos juntos, saudade de como ele enchia de beijos e dizia o quanto me amava...saudade. Essa é a palavra que define tudo. Mas ele está bem aqui na minha frente, então não é tão doloroso assim.

— Como foi o seu dia no trabalho hoje? — ele pergunta, me fazendo despertar dos meus pensamentos.

— Foi meio ruim. — faço uma careta — derrubei um prato de macarrão em mim e ficou uma grande bagunça no meu avental, mas o importante é que sobrevivi. E o seu dia, como foi?

Ele dá uma risada.

— Eu não tenho muito o que fazer...preciso de repouso. — ele revira os olhos. — Só assisti afinas coisas na TV para me distrair um pouco. Aliás, você topa assistir algum filme? Se você não estiver muito cansada, é claro. — ele hesita, parecendo nervoso.

— É claro. Vamos escolher um. — me arrasto para o lado dele e também fico nervosa, como se estivéssemos nos conhecendo agora. Por mais ruim que seja essa situação toda, é engraçado a forma que agimos perto um do outro. É como se fosse algo novo.

❤️‍🩹❤️‍🩹

Nove Dias - Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora