Twenty.

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Sabem aquela sensação no vosso peito quando têm que chorar mas não conseguem faze-lo o suficiente? Quanto todo o ar esvazia os vossos pulmões e recusa-se a entrar? Aquela dor e aquele vazio que sabemos que jamais será preenchido?
Eu sinto isso. É como se todo o mundo se tivesse desmanchado, as minhas mãos estão geladas e o meu corpo está petrificado. Os meus lábios estão entreabertos e o choque tomou conta da minha alma enquanto olho, à minha frente, o grupo de homens a rir da minha reação.

Não pode ser, não pode ser, não pode ser.

As palavras eram repetidas na minha cabeça como se quisessem explodir com ela. Michael fazia parte disto. O Michael ia entregar-me a estes homens e deixá-los levar-me para onde eles desejassem. Não pode ser.

E então a primeira lágrima caiu. Depois veio a segunda e a terceira e imediatamente um oceano de lágrimas abandonava os meus olhos, escorregava pelo meu rosto e atingia o chão escuro e sujo. Não pode ser.

Eu queria uma explicação, queria que alguém me dissesse o que se está a passar, se isto é a realidade ou apenas um pesadelo ao qual fiquei presa. Eu queria saber a história toda, o que o levou a fazê-lo, tudo sobre a sua família. No entanto, ao mesmo tempo, eu só conseguia pensar no quão estúpida fui por confiar em alguém que mal conhecia. Eu e a minha mania de me culpar sempre de tudo, não é?

“Mariana por favor diz-me algo.” Rachel sussurrou para mim, ignorando os homens a mandá-la calar. “Mariana o Michael não é como eles. Ele é uma boa pessoa.”

Eu não conseguia acreditar nas suas palavras. Imagens de todos os momentos que passei com Michael preenchiam a minha mente e destruíam o meu coração. Ele estava completamente despedaçado, caído naquele chão.

“Mariana.”

“Cala-te!” Gritei o mais alto que consegui. Ela sabia de tudo e nunca fez nada. Ela sabia que o meu corpo inocente estava a ser entregue a Michael e nada fez para prevenir isso. Ela sabia que eu nada tinha feito de mal para merecer ser entregue aqueles monstros e ela apenas o ajudou.

“Mariana.”

“Eu disse para te calares!” Virei-me para ela, a minha garganta arranhada por causa dos gritos. Os homens encontravam-se agora sentados numa mesa a jogar às cartas, como se me tivessem dito a coisa mais normal do mundo.

Rachel não disse mais nada. Continuou no seu canto sem proferir uma única palavra e eu apenas tinha o meu olhar focado em Lucy. A expressão do seu rosto era vazia e fria. Uma criança não devia estar sujeita a estas coisas. Ela merecia estar a brincar com os amiguinhos, a rir, a dançar. Não presa num armazém, raptada por um grupo de homens nojentos, porque o irmão dela cometeu um erro.

O irmão dela. Como fui capaz de me sujeitar a isto? Apaixonar-me por um rapaz que conhecia há meses. Deixar que ele fizesse de mim o que queria. Eu penso sempre que os perigos do mundo real não me assistem. Acontece sempre aos outros, aos outros, aos outros. E foi então quem telefone tocou.

Tanto eu, como Rachel e Lucy focámo-nos no grupo de homens que atendiam uma chamada. Minutos mais tarde, todos se levantaram e vieram até nós.

Grunhi de dor quando um deles me levantou pelos cabelos e apontou-me uma arma à cabeça. Eu devia estar assustada. O meu coração podia ter parado naquele momento pois eu poderia morrer. No entanto, novamente, foquei-me na criança à minha frente. Ela estava parada. Não respirava com força, esta calma, em paz. O meu coração estava destroçado ao ver uma criança tão bonita e inocente sem vontade de viver. O que nos fizeste Michael?

Dois homens colocaram-se ao lado da porta de entrada no armazém, armas carregadas nas suas mãos imundas. Outro, ficou em frente da porta, da mesma forma. O meu coração estava acelerado e eu só conseguia olhar freneticamente em volta. Sabia que tentar soltar-me dos braços daquele homem seria ridículo então tudo o que me restou foi esperar para ver o que iria acontecer e rezar para eu sair bem no meio disto tudo.

Tomorrow Never Dies || Michael CliffordOnde histórias criam vida. Descubra agora