Salamander

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Ilka alternou as pernas cruzadas,  visivelmente impaciente. A poltrona grande e cinzenta naquele momento lhe parecia extremamente desconfortável, e os quadros ao seu redor conversavam entre si, deixando-a ainda mais incomodada. Ouviu o barulho da estátua se mexendo e suspirou aliviada.

— Perdão, senhorita Bagshot. Tive alguns imprevistos e não pude comparecer antes – disse o senhor, que surgia por de trás da gárgula de pedra.

Ele não era dos mais altos, e a sua barba grisalha era tão comprida que lhe alcançava o colo, ainda que em sua cabeça não houvesse um mísero fio de cabelo. Os sapatos que ele usava faziam barulho quando em contato com o chão e as calças que vestia combinavam com o paletó, sendo ambos em xadrez, com um fundo cinzento. 

Cafona, pensou Ilka. Um diretor sem o menor senso de estilo não lhe impunha respeito.

— Os empregados de Durmstrang costumavam ser mais pontuais, Diretor Dippet. Apesar disso, eu lhe perdoo. Sou uma garota paciente – respondeu, com toda a sua arrogância e um sorriso que irritou ao senhor ali presente.

As habilidades de ler e interpretar as pessoas do diretor não chegavam nem perto das de seu colega e vice-diretor, mas daquela vez, não precisou de ajuda para concluir que a moça era irritantemente prepotente. Parou por um segundo e analisou-a.

A garota usava uma meia calça fina de cor escura e sapatos fechados de cor negra, com uma delicada fivela dourada em cima. Estes, possuíam saltos grossos e não muito altos. Eram casuais, mas não deixavam de ser elegantes. A roupa que usava estava inteiramente coberta por um longo e pesado casaco vermelho-sangue de botões também dourados. A cor vibrante do casaco contrastava com a sua pele clara como a neve.

Seus olhos possuíam um tom castanho esverdeado e o diretor pôde jurar que viu um brilho dourado anormal neles. As sobrancelhas escuras e bem desenhadas estavam arqueadas, passando um ar de desafio. O nariz arrebitado em combinação com os lábios levemente erguidos do lado esquerdo dava-lhe uma pose arrogante. Os cabelos eram dourados e levemente ondulados, não chegando a alcançar-lhe os ombros, diferentemente da maior parte da população feminina daquela escola, que preferiam os cabelos  um tanto mais compridos. Um diadema de veludo preto se destacava no topo da cabeça, dentre os fios loiros.

O diretor Armando Dippet caminhou até o outro lado da sala, onde alcançou em uma prateleira um velho chapéu pontudo, desbotado e bastante remendado.

— Não sei como funcionava em Durmstrang, mas aqui em Hogwarts nós dividimos os alunos em casas, nas quais ocorrem uma competição amigável. São quatro casas: Grifinória para os destemidos, Corvinal para os estudiosos, Lufa-lufa para os altruístas e Sonserina para os ambiciosos. O chapéu é quem a direciona para uma das quatro – explicou resumidamente e impaciente, depositando o chapéu rapidamente sobre a cabeça da jovem logo em seguida.

Ilka tentou disfarçar sua cara de desgosto ao sentir o artigo ancestral sobre sua cabeça, mas logo uma voz grave e desconhecida tomou espaço em seus pensamentos desviou sua atenção.

"Ilka Bagshot? Esse não é seu nome, criança, eu sei. Entretanto, não é como se isso fosse interferir em algo neste momento.

Tens uma mente no mínimo interessante, menina.

Possui a coragem da Grifinória, mas não a sua honra.

És leal, mas está longe de ser amigável e bondosa como os lufa-lufanos.

Isso é triste, são traços maravilhosos da personalidade de uma pessoa. E você não os possui. A senhorita parece não se mostrar mais que uma criança egoísta.

Mas apesar desses infortúnios, tem um gênio inegável.

É inteligente, curiosa e criativa. Bastante estudiosa e tem um interesse inegável pelo oculto. Se encaixaria perfeitamente na Corvinal.

I M P E R I U SOnde histórias criam vida. Descubra agora