39_ Eu estava perdendo a consciência.

67.9K 7.4K 10.7K
                                    

Beatriz Reis

... Eu fui arrancada da minha felicidade com o som de um gatilho sendo ativado.

Alguns infinitos são mais curtos que os outros.

Eu encarei a porta da cozinha assustada e arregalei os olhos ainda mais.

Letícia.

Segurando uma arma na minha direção.

Na moral, oque as pessoas têm com armas e comigo?

Parece até que eu tenho um alvo desenhado na minha testa.

- Letícia, oque...

- Antes que você comece a implorar pela sua vida miserável, eu quero te dar um aviso, não vai funcionar. - Sorriu. - Você não pode salvar nem à si mesma.

- Por que? - Falei sentindo os meus olhos voltarem a se encher de lágrimas, mas desta vez, elas eram de medo.

- Por que... - Começou a rir. - Não é óbvio? - Me olhou com um sorriso.

- Você tá fazendo isso tudo apenas por um homem? - Encarei ela desacreditada.

- NÃO É APENAS UM HOMEM! - Gritou me fazendo recuar. - Ele é o amor da minha vida...

Eu notei os olhos da Letícia levemente se transformarem em tristeza mas na mesma velocidade que eles se transformaram tristes, eles voltaram a se tornar destemidos.

- Ele não deveria ter te usado...

- Ele não me usou! - Me olhou brava.

- Letícia... - Chamei deixando cair a primeira lágrima de medo.

- Alguém apenas realmente te usa de verdade se você não sabe que ela tá te usando. - Começou. - Você acha que eu notei o jeito maravilhado que ele te olhava? - Riu. - Eu não me importava em ver ele te olhando com amor e afeto, se eu ainda tivesse ele comigo. Ele é o homem perfeito pra mim, a gente tinha um futuro completo juntos, até você entrar na porra do caminho!

- Você merecia mais. - Sibilei.

- Você acha que foi fácil arrumar um jeito de separar vocês? - Sorriu. - Bom, você com certeza ajudou muito surtando e ter achado que ele traiu você. - Deu de ombros. - Na semana seguinte eu ia dar um jeito de drogar ele provavelmente e realmente fazer ele trair você, mas você decidiu terminar. Eu devia te agradecer por me poupar tempo e dinheiro. - Confessou se aproximando de mim com a arma apontada na minha cabeça e eu encarei ela ainda mais assustada.

- Você não precisa fazer isso... - Supliquei.

- É engraçado te ver implorar pela sua vida. - Riu. - Você não tem ninguém aqui pra te salvar agora.

O olhar da Letícia caiu sobre as cartas que ainda estavam na minha mão e depois ela me encarou ainda mais enfurecida.

- Você não vai ter um filho dele. - Falou entre dentes e mais algumas lágrimas de medo caíram pelo meu rosto.

- Letícia por favor... - Implorei mais uma vez.

- VOCÊ NÃO MERECE NEM MAIS UM SEGUNDO AQUI! - Gritou agitando a arma na minha direção.

- Por favor... - Solucei.

- VOCÊ NÃO VAI TER UM FILHO DO LEONARDO! - Gritou com ódio e repulsa.

- EU NÃO TO GRÁVIDA DO LEONARDO! - Gritei em pânico.

Silêncio.

A Letícia me olhou confusa e eu não consegui encarar ela de volta pelo medo.

- Você realmente pensa que eu sou tão burra assim? - Riu.

Eu finalmente encarei ela e a mesma sorriu ainda mais.

- Eu vi vocês no baile, eu vi vocês na sala da casa dele, eu vi você e a mãe dele no spa, era pra ter sido eu ali. VOCÊ ROUBOU O MEU LUGAR! - Soltou com ódio. - Eu também vi você no hospital. - Sorriu orgulhosa.

- Você tem perseguido a gente? - Questionei perturbada pelas informações anteriores.

- Não ache que eu sou maluca, eu não sou maluca, a minha realidade é apenas diferente da sua. - Deu de ombros.

- Eu não te acho maluca, eu apenas tenho pena de você. - Confessei.

- Eu não preciso da sua pena... Tudo que eu fiz e aconteceu, foi porque eu quis. Ninguém me obrigou a nada. - Disse.

Do lado de fora da casa, a gente ouviu passos e uma chama de esperança cresceu no meu peito.

A Letícia se assustou com os passos mas rapidamente se ajeitou e voltou a olhar pra mim.

"Se a morte te convidar pra jantar, aceite, ela será a única que ficará até o fim com você."

A minha mãe sempre me lembrou dessa frase, agora eu entendo ela, e dói demais entender ela.

- Adeus Beatriz. - Se despediu a Letícia por fim.

Ela atirou.

Ela atirou na minha barriga.

Rapidamente a dor me preencheu, o meu corpo falhou e foi impossível me manter em pé. Fui jogada para trás sem forças, a minha cabeça bateu contra a bancada de mármore da cozinha me causando também uma dor absurda antes de eu cair no chão. O chão frio contra a minha pele e roupa que rapidamente se encharcava, pelo sangue que saia de mim, foi parte da tortura.

Eu pressionei o lugar que a bala penetrou em pânico. Tinha muito sangue, tinha sangue demais...

Eu apenas entrava em pânico e sentia a dor que crescia cada vez mais. Não dava para perceber nada ao meu redor, os passos correndo, os vidros sendo quebrados, os estrondos misteriosos, todo tipo de barulho foi anulado e recusado pelo meu cérebro. O meu único foco era a dor que apenas aumentava a cada segundo.

Aquela dor desumana que me impossibilitava de gritar e apenas me deixava chorar. Eu abri a minha boca assustada vendo a quantidade de sangue que tava saindo de mim. Eu não conseguia mais estancar, as minhas mãos escorregavam contra a minha pele tentando parar o corrimento absurdo, lentamente as minhas mãos se tornavam mais fracas e moles, eu mal conseguia sentir elas. A minha visão tomava uma forma turva, como um borrão. Eu estava enlouquecendo pela dor.

Eu queria conseguir gritar, mas nenhum som saia da minha boca. Eu não conseguia mais mover as minhas mãos direito. A minha respiração se tornava cada vez mais pesada e difícil de manejar. Eu não sentia mais as minhas pernas. O sangue se espalhava em volta de mim enquanto as lágrimas molhavam a minha camisa descontroladamente. Eu me sentia tonta e fraca. Eu sentia o meu corpo formigar rapidamente de um jeito irritante sem parar. A minha cabeça, se tornava cada vez mais pesada enquanto o meu corpo se tornava mais leve.

Eu estava perdendo a consciência.

continua...

Meu Melhor Amigo 2Onde histórias criam vida. Descubra agora